Especialista critica obras em Congonhas

O engenheiro especialista em transportes aéreos e professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) Jorge Leal Medeiros disse que o acidente com o Airbus 320 da TAM, ocorrido ontem na região do Aeroporto de Congonhas, na zona sul de São Paulo, pode ter sido mesmo uma tragédia anunciada a partir da derrapagem do avião da empresa Pantanal, no dia anterior.

A declaração foi dada em entrevista concedida hoje ao programa Bom Dia Brasil, da TV Globo. A pista principal de Congonhas passou por uma série de reformas e deveria conter ranhuras para ajudar a frear o avião principalmente quando a pista está molhada.

Ontem, eram intensas as conversações entre pilotos e controladores de tráfego aéreo apontando que a pista do aeroporto estava provocando derrapagens nos aviões. O especialista aproveitou a oportunidade e criticou as obras feita em Congonhas.

"Há um bom indício de que o acidente poderia acontecer. A pergunta que fica, a mais importante para o usuário de transporte aéreo é por que, no Aeroporto de Congonhas, as obras na pista, que eram necessárias, foram colocadas em prioridade secundária em relação às obras de ampliação do terminal de passageiros? Para que privilegiar o conforto em detrimento da segurança? Por que não fizeram logo as ranhuras na pista, para ajudar a frear o avião?", indagou.

O professor Leal explicou que é necessário esperar 30 ou 40 dias para que o concreto possa receber as ranhuras e que elas permaneçam no asfalto. Indagado se acredita que, em razão dessas dificuldades na pista, pode ter ocorrido problema de frenagem no avião, ele acredita que sim.

"O fato de o avião não ter conseguido frear pode ter sido, certamente, causado também pela falta de ranhuras. Não sabemos qual era a lâmina d’água na hora. O fato de ele ter saído pela esquerda pode ser por ter perdido controle do avião, ter tentado dar um ‘cavalo de pau’. É preciso ouvir o que fala o cockpit voice recorder, uma das caixas pretas, e a caixa preta dos dados. Com certeza, a falta de ranhuras deve ter contribuído para o acidente".

Jorge Leal Medeiros comentou também o fato de que, antes do acidente, quando a pista ainda não tinha sido reformada, o aeroporto era interditado com qualquer lâmina d’água acima de três milímetros. Isso, agora, não acontece. "É verdade. Inclusive havia uma irregularidade de pavimento, que foi corrigida, mas faltaram as ranhuras".

O professor da Escola Politécnica acredita que, apesar da localização de Congonhas, próximo a residências, e pelo congestionamento de vôos, o aeroporto deve continuar operando, mas com toda a segurança.

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