Especialista acredita que terceira pista em Guarulhos não é solução

Brasília – Se o projeto de construção de uma terceira pista no Aeroporto Internacional de Guarulhos não for modificado, a obra corre o risco de se tornar inútil. A opinião é do engenheiro Corrado Balduccini, consultor de projetos de aeroportos e responsável por um estudo da área feito a pedido dos moradores da região. ?A terceira pista, até o momento, não resolveria o problema?, diz.

Segundo ele, os problemas de tráfego aéreo de Guarulhos poderiam ser solucionados com uma nova estratégia de utilização das duas pistas já existentes, possibilitando que elas sejam usadas ao mesmo tempo, o que não é feito atualmente.

Ele explica que, como está agora, os pilotos que decolam de uma das duas pistas têm que virar para o lado direito. Se for construída uma terceira pista, paralela a estas, quando uma aeronave sair da pista, também deverá virar a direita. ?Então a trajetória desta terceira pista cruzaria com a trajetória de qualquer avião que estivesse saindo de uma das duas pistas?, afirma Balduccini.

O engenheiro também se preocupa com os custos sociais da construção de uma terceira pista em Guarulhos. ?Ao meu ver, tem um custo social muito alto. Vivem lá em Guarulhos cerca de 25 mil pessoas a serem desalojadas. Além do custo de construção da pista?, analisa.

Esse ponto de vista foi apresentado ao governo federal em uma reunião realizada em outubro, no Ministério da Defesa. ?Eles [o governo] disseram que vão autorizar um estudo para verificar as duas alternativas [a construção de uma terceira pista ou a utilização simultânea das duas pistas já existentes], em termos de custo benefício?, diz o engenheiro.

O coordenador do Movimento Contra a Terceira Pista, Elton Soares de Oliveira, também acha que a solução para os problemas de Guarulhos não está na construção de uma terceira pista, e sim de um terceiro terminal dentro da base aérea de Cumbica. Segundo ele, essa alternativa aumentaria em 230 mil as operações anuais do aeroporto.

Oliveira diz também que a construção de uma terceira pista agravaria a situação de Guarulhos por causa do cruzamento das aeronaves no ar, que teriam que ser todas para o lado direito. ?Guarulhos não tem possibilidade de ter arremessa de vôo na decolagem para a esquerda, por causa dos morros, que têm quase três mil pés?, explica, referindo-se à Serra da Cantareira, ao lado do aeroporto.

Ele conta que a apresentação da alternativa de construir um terceiro terminal de passageiros surpreendeu o governo. ?Eles foram pegos de surpresa. Nem a Infraero, nem o Decea [Departamento de Controle do Espaço Aéreo], nem o Conac [Conselho Nacional de Aviação Civil] e nem o próprio ministro [da Defesa, Nelson Jobim] conheciam a proposta. Eles ficaram de estudar e fazer a contratação de técnicos para apresentar um estudo científico mais aprofundado?, afirma.

O presidente da Infraero, Sérgio Gaudenzi, afirmou nesta segunda-feira (19) que, até o momento, a idéia do governo é construir uma terceira pista em Guarulhos, para aumentar o número de operações no aeroporto. Ele disse que já há análises preliminares sobre o assunto. ?Guarulhos é o maior aeroporto do hemisfério sul. Temos que trabalhar com Guarulhos sempre trabalhando alguns anos a frente?, avaliou Gaudenzi.

Segundo a assessoria de imprensa do Ministério da Defesa, ainda não há uma posição técnica sobre a opção que será adotada para resolver os problemas de Guarulhos, mas o governo está estudando diversas alternativas.

Na última quarta-feira (14), o ministro da Defesa, Nelson Jobim, informou que nesta semana haverá reuniões para decidir sobre a construção da terceira pista do aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, e também sobre a instalação de um terceiro aeroporto no estado.

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