Coronel dá nova versão sobre assalto e morte de cabo

O coronel Carlos Henrique Alves de Lima apresentou outra versão para a negociação com assaltantes que resultou na morte do cabo Guttemberg Conceição, de 32 anos, na tarde de sábado no Rio. O oficial, a mulher dele e um sargento prestaram depoimentos hoje como testemunhas no inquérito da Divisão de Homicídios (DH), que visa a identificar os assassinos.

“Não vamos investigar sobre a negociação. Nossa tarefa é identificar os assassinos. Se ocorreu infração disciplinar, este assunto é da PM. Queremos saber se os assaltantes agiram em conluio com os traficantes locais” disse o diretor da DH, o delegado Felipe Ettore. O casal e o sargento deixaram a DH sem falar com os jornalistas.

Ao contrário da versão divulgada ontem pela Polícia Militar, o coronel disse que foi ele e não a mulher que sofreu um assalto no sábado, por volta de 8 horas, na Rua Inhaúma, em Realengo, na Zona Oeste do Rio, próximo ao local onde mora. O oficial contou que foi rendido por três homens em um carro Tucson, que levaram o seu Honda Civic. Por coincidência, a mulher dele ligou para o celular que ele deixou no carro e foi atendida pelos assaltantes. Os criminosos iniciaram as negociações para a devolução do carro por R$ 2 mil.

De acordo com os depoimentos, o local combinado para a troca do carro pelo dinheiro foi a subida de uma passarela de pedestres, na Estrada de Botafogo, situada em frente a um dos acessos ao Morro da Pedreira, em Costa Barros, no subúrbio do Rio. Acompanhado por um cabo e um sargento, o coronel foi ao local em um veículo. A mulher dele, Leila Oliveira, seguiu em outro carro.

O oficial e o sargento contaram que o cabo foi voluntariamente verificar se o veículo estava no local. O praça teria alegado que conhecia a área, pois servira em um batalhão local. Guttemberg deixou o carro e subiu a passarela. Os dois foram fazer o retorno com o veículo e, em um determinado momento, perceberam que os motoristas voltavam pela contramão assustados com o barulho de tiros. Eles foram ao local e recolheram o corpo do cabo, que já chegou morto ao hospital. Ele foi fuzilado com cerca de 15 tiros. O laudo do IML ainda não ficou pronto.

Na versão da PM, a mulher do coronel foi roubada na manhã de sábado em Inhaúma e o coronel negociou com os traficantes a troca. O oficial teria ordenado que o subordinado entregasse o dinheiro aos assaltantes. A nova versão irritou a cúpula da instituição. A DH tentará que o coronel identifique os assaltantes entre as fotos dos traficantes do Morro da Pedreira.

O coronel iria assumir o Batalhão de Polícia Rodoviária, mas a nomeação foi cancelada após a morte do cabo. Ele foi afastado e permanece à disposição do Departamento Geral Pessoal até a conclusão da sindicância de 30 dias.

De acordo com investigadores da Polícia Civil, o pedido de resgate por carros é uma prática comum dos traficantes do Morro da Pedreira e de outras favelas do Rio. Os criminosos chegam a pedir R$ 500 pela devolução de um carro de modelo popular. No entanto, o resgate de um carro de luxo ou importado pode chegar até R$ 2 mil, como foi o caso do coronel.