Colômbia obtém apoio do Brasil na busca pela paz

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Lula com Uribe, Zapatero e
Chávez: "tranqüilidade".

Ciudad Guayana – O presidente colombiano, Alvaro Uribe, obteve ontem a reafirmação do apoio político de Brasil, Venezuela e Espanha à resolução dos problemas de segurança interna de seu país. Há quatro décadas, o governo colombiano enfrenta diversos grupos guerrilheiros instalados no país, além de grupos paramilitares e o narcotráfico.

As declarações desses três países deram-se durante a reunião entre os quatro presidentes, ontem à tarde, na Venezuela. Em seu discurso, durante a reunião, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que ?o Brasil se põe à disposição da Colômbia? para que o país obtenha ?tranqüilidade?: ?À medida em que haja o entendimento de que o Brasil possa ajudar em alguma coisa, para que consigamos tranqüilidade na Colômbia, pode ter certeza de que você terá no Brasil um sócio para ajudar nisso?, disse Lula.

O presidente Hugo Chávez, da Venezuela, também recordou diversos casos recentes em que grupos armados colombianos seqüestraram civis na Venezuela e foram ainda acusados de planejar ataques terroristas. Chávez disse que seu país não tolera a presença desses grupos. ?No mesmo minuto que pise em solo venezuelano, será tratado como inimigo?, garantiu ele.

Citando o jornalista francês Ignacio Ramonet, o venezuelano disse ser vítima da ?tirania midiática?. Chávez lembrou que, nos últimos anos, foi acusado de apoiar grupos de oposição em processos de desestabilização de governos de diversos países, como a Bolívia e o Equador, além da Colômbia. ?Sou inimigo das correntes golpistas da América Latina?, disse ele.

O venezuelano contou ainda um episódio em que recebeu informação de seu setor de inteligência de que um grupo de paramilitares colombianos capturados em Caracas estava a serviço do governo do país vizinho. Segundo narrou Chávez, ele reagiu imediatamente, dizendo que se tratava de uma mentira e recomendando que ninguém de sua equipe divulgasse a informação falsa. ?Não sou doutor, mas tenho visto muito doutor acreditar nessas coisas. Bruxas que voam?, disse Chávez.

O primeiro-ministro espanhol colocou-se à disposição dos países latino-americanos para auxiliar o combate aos ?delinqüentes internacionais? que executam atos terroristas. A Espanha já participa, junto com os Estados Unidos, do Plano Colômbia, que tem o objetivo de apoiar as ações de segurança no país.

Alvaro Uribe respondeu aos demais participantes da reunião dizendo que ?temos que escolher se vivemos com os rumores ou se partimos para uma agenda do trabalho prático e eficaz?. Em sua exposição, Uribe apresentou mapas em que defendeu a construção de um gasoduto entre a Venezuela e a Colômbia, além de uma saída terrestre para o Brasil até o Pacífico – passando por seu país.

?EUA têm dupla moral?

Ciudad Guayana -?Não pode haver dupla moral. Temos a mesma necessidade que os Estados Unidos de manter mecanismos de defesa e segurança nacional?, afirmou o vice-ministro venezuelano das Relações Exteriores para América Latina e Caribe, Eustoquio Contreras. Na semana passada, o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Donald Rumsfeld, criticou, durante visita ao Brasil, o anúncio venezuelano da compra de 100 mil fuzis de origem russa: ?Eu não posso imaginar o que vai acontecer com 100 mil AK-47, eu não consigo imaginar porque a Venezuela precisa de 100 mil AK-47, e eu espero que isso não aconteça?, disse o norte-americano. Para Rumsfeld, a compra dos armamentos não seria um benefício em si para o hemisfério Sul e colaboraria para aumentar a preocupação com a interferência política por parte do presidente venezuelano Hugo Chávez em outros países. Na semana passada, logo em seguida à declaração de Rumsfeld, o vice-presidente venezuelano, Jose Vicente Rangel, disse que a Venezuela também se preocupa ?com o elevado gasto militar que os Estados Unidos levam a cabo, que ronda os US$ 450 bilhões?. ?Só os EUA absorvem 36% do gasto militar mundial. Isso tem gerado uma grande preocupação na maioria dos países do mundo.? Brasil e Espanha também estão negociando a venda de armas para a Venezuela.

Lula defende Hugo Chávez

Ciudad Guayana – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva usou seu discurso durante a reunião que manteve com os presidentes Alvaro Uribe (Colômbia), José Luis Zapatero (governo da Espanha) e Hugo Chávez (Venezuela) para fazer uma defesa do comportamento do presidente venezuelano. ?Nós não aceitamos difamações contra companheiros. Nós não aceitamos insinuações contra companheiros. A Venezuela tem o direito de ser um país soberano, de tomar as suas decisões?, disse Lula, acrescentando que não tem medo de fazer essa afirmação em ?nenhum lugar do mundo?. Na semana passada, o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Donald Rumsfeld, criticou, durante visita ao Brasil, o anúncio venezuelano da compra de 100 mil fuzis de origem russa para equipar suas Forças Armadas. ?Nós, da América do Sul, somos capazes de cuidar de nossos asuntos?, completou Lula.

Em dezembro, Rodrigo Granda, um dos líderes das Farc, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, foi capturado em Caracas por mercenários e entregue à polícia colombiana depois de ter sido levado até a fronteira dos dois países, em troca de uma recompensa estimada em US$ 1,5 milhão. Na época, Chávez classificou o pagamento como ?suborno? e disse que o caso constituía uma violação da soberania nacional venezuelana.

Em meados de fevereiro, Chávez e Uribe encontraram-se pela primeira vez depois do episódio. Ontem, aconteceu o segundo encontro entre eles desde a crise. Na época, a captura de Granda em Caracas foi considerada uma prova da ligação do governo Chávez com a guerrilha colombiana. ?A Venezuela não precisa ser acusada de coisas que, a gente que convive com você, Chávez, sabe que não fazem parte do seu comportamento e do seu pensamento?, completou Lula.

O presidente brasileiro lembrou que, na campanha presidencial de 2002, seus opositores faziam acusações de que ele tornaria o Brasil uma outra Venezuela e também de que o PT receberia financiamento das Farc. ?Não tomamos a sério essas denúncias?, disse Lula.

?Nós temos muita gente falando mal de nós no mundo?, disse Lula. Para o presidente brasileiro, a reunião presidencial de ontem sinaliza que é importante para o avanço da integração na região o estabelecimento de ?confiança? entre os dirigentes dos diversos países. ?Não é possível fazer política sem confiança entre as pessoas que fazem a política.?

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