Caldo de cana de SC pode ter contaminado turistas

caldocana230305.jpg

Guarapeira deve ter condições
rigorosas de higiene.

Florianópolis – As pessoas que beberam caldo de cana em quiosques localizados no litoral Norte catarinense desde o dia 1.º de fevereiro devem procurar um hospital ou posto de saúde para saber se contraíram a doença de Chagas. O alerta foi divulgado pela Secretaria de Estado da Saúde catarinense, e é dirigido aos turistas do Brasil, Argentina e Paraguai que freqüentaram o litoral Norte catarinense. A secretaria confirmou a doença em 20 pessoas. Todas tomaram caldo de cana em bares ou garapeiras do litoral Norte de fevereiro para cá. Destas, quatro morreram e 14 estão internadas em hospitais do estado, muitas em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs).

A Secretaria de Estado da Saúde pediu ainda que o Ministério da Saúde comunicasse o fato aos demais estados do País. O objetivo é detectar a doença em pessoas que, durante as férias de Verão, tenham bebido caldo de cana nas cidades do litoral Norte catarinense. Uma força-tarefa com técnicos da Secretaria de Estado da Saúde e Ministério da Saúde começam hoje a procura pelos focos de barbeiro, o inseto transmissor da doença de Chagas, na região de Itajaí.

Oficialmente são 20 casos confirmados, com quatro mortes e três óbitos sob investigação, além de 12 suspeitos. A quarta morte ocorreu em Jonville, mas o resultado dos exames ainda não foi divulgado. O paciente, um turista boliviano, ficou internado durante uma semana e morreu no dia 8 deste mês. O surto de doença de Chagas na forma aguda ocorreu entre os municípios de Piçarras e Itajaí, onde todas as vítimas tomaram caldo de cana em um quiosque ao lado da BR-101, entre os dias 13 e 20 de fevereiro. Duas crianças e uma mulher de uma mesma família morreram. Desde segunda-feira, com o alerta da Secretaria da Saúde sobre a necessidade de todas as pessoas que tomaram caldo de cana da região fizessem exames de sangue, está havendo filas em laboratórios de Itajaí e Balneário Camboriú. Durante toda a manhã de ontem os técnicos estiveram reunidos ?para definir a estratégia de rastreamento da cana-de-açúcar usada nos quiosques para localizar os focos dos insetos?, explicou Paulo Gaeth, da Secretaria da Saúde. Ele disse, também, que toda a cana apreendida está sendo analisada. Em nota oficial, o Ministério da Saúde disse que há a possibilidade de ter havido exposição à doença nos municípios do litoral norte catarinense de Itapema, Camboriú, Balneário Camboriú, Navegantes, Itajaí, Penha, Piçarras, Barra Velha, Araquari, Joinville, Balneário Barra do Sul, Garuva, São Francisco do Sul e Itapoá, por residentes em Santa Catarina ou outros Estados?. Por isso, está orientando as Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde a ?encaminhar todas as pessoas que tenham apresentado exposição à unidade de saúde de referência, para fazer exames e, quando indicado, iniciar a terapêutica.?

?Em Santa Catarina, é comum a presença do barbeiro, mas não havia a contaminação pelo parasita causador da doença de Chagas?, explicou o diretor do Hospital Nereu Ramos, o infectologista Antônio Miranda. A principal suspeita é que o parasita tenha chegado até o Estado em caminhões de carga, o que vai ser investigado pela força-tarefa.

PR quer detecção precoce da doença

 O governo do Paraná recomendou, ontem, que todas as pessoas que estiveram em Santa Catarina no período de primeiro de fevereiro até 20 de março e consumiram caldo de cana devem fazer exames para identificar se foram contaminados pela Doença de Chagas. As coletas são feitas nos postos de saúde municipais e enviadas para o Laboratório Central do Estado (Lacen), que realiza os exames. Para verificar se existe o protozoário causador da doença é feito um furo no dedo e são coletadas duas gotas de sangue. Técnicos da Divisão de Doenças Transmitidas por Vetores da Secretaria da Saúde passaram ontem as orientações às 22 Regionais de Saúde, que já estão mobilizando os municípios sobre a detecção precoce da doença. As pessoas que devem ficar em alerta e se dirigir aos postos de saúde são as que passaram pela BR-101 no litoral Norte catarinense e consumiram caldo de cana. Os casos que estão ocorrendo em Santa Catarina são da Doença de Chagas aguda. Essa doença já tem tratamento e quanto mais cedo for detectada maior a possibilidade de cura. Os casos não tratados podem se agravar e levar à morte, como também poderão evoluir para uma forma crônica da doença. Com relação aos casos da doença ocorrida em Santa Catarina, a Vigilância Sanitária de Alimentos do Paraná informou que para ocorrer a presença do inseto na cana-de-açúcar ela tem que estar há algum tempo estocada e possuir rachaduras para que o bicho possa se alojar. Além disso, é necessário que exista uma fonte de sangue, como ninhos de ratos, para que se possa completar o ciclo. Como o Paraná utiliza cana-de-açúcar vinda de Santa Catarina a Vigilância recomenda que a mesma deverá estar sempre armazenada em locais elevados do solo sem a possibilidade de roedores terem acesso à planta ou de formarem ninhos nos quais os bichos-barbeiros podem se alimentar do sangue dos roedores; passar informações às pessoas que estão moendo a cana para que a raspagem seja feita momentos antes delas serem moídas e que seja realizada uma vistoria minuciosa da cana para observar se possuem rachaduras; no momento da inspeção, observar as condições higiênico-sanitárias do local de venda, caso haja necessidade, tomar as devidas medidas para garantir um local salubre e um alimento seguro aos consumidores.

A transmissão da doença de Chagas é feita pela picada do inseto conhecido. Após a picada, o inseto deixa suas fezes próximas ao local da ferida e ao se coçar o protozoário conhecido como Trypanossoma cruzi penetra no local e chega na corrente sangüínea.

Os sintomas podem se manifestar, na fase aguda, dentro de quatro a cinco dias até dois meses. Na fase crônica os sintomas podem aparecer após anos (10 a 20) ou nunca apresentar qualquer sintomatologia. Os sintomas são: febre contínua ou intermitente, principalmente à noite, com duração de sete a 30 dias; mal-estar; cansaço; edema generalizado; taquicardia; aparecimento de ínguas (caroços embaixo do braço ou perna) indolores; aumento do fígado (pequeno ou moderado), O tratamento é feito através de remédios, já que não existe vacina contra a doença de Chagas.

Voltar ao topo