Avião-radar dos EUA sai da rota na Amazônia

Arquivo / O Estado

Amazônia: alvo de cobiça e preocupações por causa de suas riquezas.

Brasília (AG) – O governo brasileiro guarda a sete chaves um incidente registrado na passagem de um avião-radar americano pelos céus da Amazônia, numa operação ousada que incluiu sobrevôos na reserva Raposa Serra do Sol, área de grande importância estratégica para o Brasil por ter reservas de minerais como urânio. O Itamaraty não confirma o incidente. A Força Aérea Brasileira (FAB) nega. Mas um relatório reservado do serviço de inteligência do governo brasileiro esmiuça a peripécia do avião americano pela região Norte do Brasil. Fontes civis e militares também confirmaram o episódio.

O avião, modelo P-3, prefixo VVR-2674, tinha autorização para cruzar o espaço aéreo brasileiro no dia 9 de outubro do ano passado, rumo a Buenos Aires, com escala em Manaus. A chancela fora publicada na véspera no Diário Oficial da União. Dizia que a aeronave seguiria para Buenos Aires, na Argentina, em missão de ?pesquisa científica?.

O avião, entretanto, acabou subvertendo o que estava no papel. O P-3 passou pelo Brasil apenas no dia 10. E a escala que seria em Manaus acabou transferida para Boa Vista. Na capital de Roraima, nem toda a tripulação desceu. Nenhuma autoridade brasileira teria entrado no avião, segundo consta do documento reservado.

O relatório reservado informa ainda que, após entrar no espaço aéreo do Brasil, o avião variou altitude e chegou a voar abaixo de três mil pés, supostamente para dificultar sua detecção pelos radares.

Durante o vôo, os equipamentos do Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam) suspeitaram da irregularidade. Militares do Centro Amazônico, a torre de controle do sistema em Manaus, tentaram fazer contato com a tripulação. Não obtiveram êxito. Os americanos não respondiam aos chamados pelo rádio.

As tentativas de comunicação foram ouvidas por pilotos de aviões civis que voavam na região. A tripulação do P-3 só viria a responder mais tarde. O comandante informou que não respondera antes porque a cabine do avião sofrera ?pane de rádio? (o sistema comunicação teria parado de funcionar). ?O P-3P Orion foi várias vezes assinalado nos radares de tráfego aéreo, mas não foi possível nenhuma interceptação de vôo porque estava voando abaixo de 3 mil pés?, registra o documento.

?Foi um claro golpe?, disse um oficial da Força Aérea Brasileira que acompanhou o episódio.

A terra indígena Raposa Serra do Sol não teria sido a única sobrevoada pelo avião americano. A aeronave teria passado também, a baixa altitude, na reserva Waimiri-Atroari, localizada entre os estados de Roraima e Amazonas.

O avião, de quatro motores e quase do tamanho de um Boeing 737-400, tem sensores eletrônicos que permitem, por exemplo, fazer mapeamento geológico das áreas que sobrevoa. Uma fonte da Aeronáutica informou que autoridades aéreas brasileiras teriam reclamado junto ao Comando Sul, unidade do Pentágono sediada em Miami que coordena as operações militares dos Estados Unidos na América Latina.

Destino era a Antártica, com escala em Buenos Aires

Brasília (AG) – A Embaixada dos Estados Unidos em Brasília nega que o avião militar americano tenha cometido qualquer irregularidade durante sua passagem pelo espaço aéreo brasileiro. Um porta-voz da representação diplomática informou que o País serviu apenas de caminho para uma viagem rumo à Antártica. Segundo ele, a aeronave estava numa missão para a Nasa, a agência espacial americana, com o objetivo de medir a profundidade do gelo antártico.

À embaixada americana foi enviada uma lista de oito perguntas feitas por jornalistas. Nem todas foram respondidas no texto de oito linhas encaminhado como resposta. A nota garante que o P-3 seguiu o plano de vôo autorizado pelas autoridades brasileiras. ?O avião não desviou da rota ou altitude previamente aprovadas e nenhuma reclamação foi recebida de autoridades brasileiras?, diz o comunicado.

Em duas notas, a FAB segue na mesma linha. Diz que o pedido do governo americano para que o avião cruzasse o céu do Brasil foi oficializado no dia 8 de outubro e que havia previsão de pouso em Manaus. O destino informado era Buenos Aires.

Segundo os textos da FAB, no mesmo dia os americanos modificaram o pedido e a escala foi transferida para Boa Vista, onde um militar brasileiro, especialista em eletrônica, teria embarcado como ?parte de uma rotina de procedimentos internacionalmente usados, no caso da circulação de aviões com sensores?. O militar teria seguido até Foz do Iguaçu, onde o P-3 teria feito a última escala. A informação da FAB é repetida na declaração da embaixada americana. ?O ingresso (da aeronave) em território nacional aconteceu no dia 10, com pouso em Boa Vista, conforme autorização do governo brasileiro, por ser esse o primeiro aeródromo internacional no País dentro da rota que seria seguida. Nessa cidade, um militar especialista da FAB embarcou como observador e seguiu com o avião até Foz do Iguaçu, no Sul do País, última escala do P-3 no País?, diz a nota mais recente da FAB, divulgada na sexta-feira.

As manifestações oficiais não conferem com o que está no documento reservado. Consta do relatório que em Boa Vista nenhuma autoridade brasileira entrou no avião e que apenas uma parte da tripulação americana teria desembarcado.

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