Antônio Palocci deseja “matar e esquartejar a inflação”

Lausanne

– O ministro da Fazenda, Antônio Palocci, afirmou ontem, ao chegar a Lausanne para a reunião de cúpula ampliada do G-8 – os sete países mais ricos do mundo, a Rússia e 12 países convidados -, que o governo brasileiro ainda não afrouxou a política monetária, baixando a taxa de juros, porque há riscos inflacionários a serem debelados. “Não queremos apenas reduzir um pouco a inflação. Queremos matar e esquartejar a inflação”, disse o ministro a jornalistas brasileiros. Palocci faz parte da comitiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Segundo Palocci, o aperto monetário está funcionando, mas não com a “velocidade que gostaríamos”, porque apesar de alguns índices de preço no atacado já estarem apresentando taxas negativas, os índices ao consumidor estão caindo “muito lentamente”. Como exemplo, mencionou o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que está projetando um crescimento de 12,13% no ano frente a uma meta de 8,5%.

Ele reconheceu que “a possibilidade de explosão inflacionária que tinha até janeiro (quando a projeção da inflação chegou a 40%) está eliminada”, e que “a inflação perdeu oxigênio definitivamente”, mas sinalizou que o governo poderá manter a taxa de juros inalterada enquanto o IPCA não convergir para um índice abaixo dos 10%. “O Copom (Comitê de Política Monetária) vai continuar fazendo o necessário.”

Sem citar nomes, Palocci sugeriu que quem tem “pressa com a política monetária” pode estar sendo conivente com um certo grau de inflação para estimular o crescimento. Mas deixou claro que essa, definitivamente, não é sua posição. “O Brasil poderia fazer uma opção diferente da que estamos fazendo, tolerando uma inflação maior para poder crescer mais no curto prazo. Mas no médio e no longo prazos, o desastre é certo”, admitiu o ministro. “Sempre que o Brasil foi tolerante com a inflação, houve um desastre econômico.” O objetivo da atual política econômica, segundo Palocci, é garantir condições para um crescimento econômico de longo prazo. Ele admitiu que “questões básicas de macroeconomia, como estabilidade de preços e superávit fiscal, devem durar o quanto tempo durar o governo”, mas negou que isso signifique uma continuidade do que o governo Fernando Henrique fez. “Não estamos fazendo a política do Fernando Henrique. O equívoco do governo anterior era imaginar que a estabilidade garantiria automaticamente o crescimento.”

Combate às restrições

Segundo Palocci, o governo do PT está numa fase de “combate às restrições herdadas”, mas deve conjugar daqui para a frente um conjunto de medidas – como financiamentos, infra-estrutura e políticas industriais – para impulsionar o crescimento da economia.

O ministro reafirmou ainda as medidas no campo microeconômico que o governo está tentando adotar para reduzir o spread bancário e elevar o crédito no País, como um projeto que deverá ser anunciado em breve para cooperativas. “Todo mundo está discutindo microeconomia no mundo e nós discutimos ainda estabilidade e superávit”, reclamou Palocci, alegando que a discussão no Brasil está “muito pobre”.

Questionado se o rigor fiscal adotado pelo Brasil, na contramão dos países europeus que estão em dificuldades econômicas, não pode prejudicar ainda mais o desempenho da economia, Palocci disse que não considera o atual nível de aperto incompatível com o crescimento. “É claro que tem efeitos, mas não acho que essa política fiscal nesses níveis impeça o crescimento.” Palocci negou que o governo esteja forçando um superávit fiscal acima da meta de 4,25% do PIB, como ocorreu no primeiro quadrimestre do ano. Os ministérios, segundo ele, tiveram os recursos disponibilizados e, se não gastaram, foi por dois fatores: a sazonalidade natural dos gastos públicos, que são menores no primeiro semestre, e o período de adaptação do novo governo.

Juros

Os juros no Brasil foram um dos temas que dominaram as conversas entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro da Fazenda Antônio Palocci, o ministro do Trabalho, Jaques Wagner, e o ministro da Indústria, Comércio e Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, durante a vôo entre o Brasil e a Suíça.

Wagner disse ao desembarcar em Genebra “que ninguém no governo gosta de juros altos, só maluco gosta disso”. Segundo ele, “ficou claro que o presidente quer buscar áreas para investir e criar empregos”. Ao analisar a cautela do governo em relação ao assunto, ele usou uma explicação que vem sendo amplamente empregada pelos integrantes da equipe econômica nas últimas semanas, que indica a preocupação sobre o ritmo da queda inflacionária.

Ouro se torna bom investimento

São Paulo

– Todas as aplicações bateram a inflação em maio. A alta dos preços vinha corroendo os ganhos reais de diferentes investimentos desde o segundo semestre do ano passado. Em maio, o Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) registrou deflação de 0,26%.

O ouro recuperou a liderança no ranking das aplicações financeiras, perdida em fevereiro, com valorização de 10,76%. O metal é considerado uma boa alternativa dos investidores para os sinais de fraqueza da economia norte-americana. Em segundo lugar ficou o euro, que valorizou 8,17% no mês.

O Ibovespa rendeu 6,8%. Já o dólar comercial acumulou valorização de 1,92%. O Certificado de Depósito Interbancário (CDB) teve rendimento de 1,97%, enquanto a caderneta de poupança remunerou apenas 0,97%.

Se o Comitê de Política Monetária (Copom) decidir reduzir a taxa básica de juros em sua próxima reunião, como esperam muitos investidores, o mercado acionário pode ganhar novo fôlego. Quando os juros caem, as aplicações de renda variável se tornam mais atrativas.

A bolsa paulista já recuperou neste ano todo a perda acumulada em 2002. A valorização da Bovespa acumulada no ano supera os 19%. No ano passado, o mercado acionário local amargou perdas acumuladas de 17%, o seu segundo pior desempenho em um ano desde o início do Plano Real.

Para os investidores de perfil mais conservador, que preferiram manter suas aplicações na caderneta de poupança, o ganho no período foi de 0,97%.

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