Bevilaqua deixa o BC após anúncio do PIB fraco

Apontado como o maior foco do conservadorismo econômico do governo, o diretor de Política Econômica do Banco Central (BC), Afonso Bevilaqua, anunciou ontem que deixará o cargo ?por motivos pessoais?. Ele será substituído, por tempo indeterminado pelo atual diretor de Estudos Especiais do BC, Mário Mesquita, considerado igualmente conservador.

Mesquita acumulará as duas funções. O presidente do BC, Henrique Meirelles, se esquivou de responder quando e com que grau de autonomia a escolha do substituto definitivo ocorrerá.

O anúncio da saída de Bevilaqua ocorreu um dia depois da divulgação da taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2006, de apenas 2,9%. A ala dita desenvolvimentista do governo considera que o baixo crescimento é conseqüência da política do BC de manter a taxa de juros num nível acima do que seria o necessário para controlar a inflação.

Bevilaqua seria o principal fiador dessa política. Sua saída é uma vitória do ministro da Fazenda, Guido Mantega, e da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, que, aos poucos, procuram eliminar os resquícios da ?era Palocci?. Apesar disso, após a notícia da saída de Bevilaqua, Mantega disse que ?nada muda na política do Banco Central?. ?Quem decide a política do BC é Conselho Monetário Nacional (CMN)?, acrescentou.

Se a saída de Bevilaqua representará o abrandamento na política do BC, ainda é uma questão incerta. Sua substituição, num primeiro momento, por Mário Mesquita é um sinal de que, por enquanto, nada muda. ?A política do Banco Central não é dependente de um ou outro diretor?, afirmou Henrique Meirelles, em entrevista à imprensa ontem à noite.

Outro sinal de manutenção da linha é que Bevilaqua deverá participar da próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em 6 e 7 de março. ?Em princípio, ele participa?, disse Meirelles, ao explicar que a saída de um diretor não ocorre de uma hora para outra, mas segue um cronograma.

Meirelles negou que a saída de Bevilaqua o deixará menos protegido na defesa das políticas do BC. Questionado se não fica mais exposto ao ?fogo amigo?, afirmou: ?Ele nunca me abandonou.? O fato de Meirelles não ter confirmado a permanência de Mesquita na diretoria de Política Econômica alimentou especulações sobre a nomeação de um nome mais afinado com a ala desenvolvimentista do governo.

Coincidência ou não, ontem Mantega jantou com o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Demian Fiocca, que vinha sendo cotado para o BC no caso de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva optar por uma linha mais desenvolvimentista.

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