América do Sul é capaz de cuidar de seus próprios assuntos, diz Lula

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva usou seu discurso durante a reunião que manteve com os presidentes Alvaro Uribe (Colômbia), José Luis Zapatero (governo da Espanha) e Hugo Chávez (Venezuela) para fazer uma defesa do comportamento do presidente venezuelano.

"Nós não aceitamos difamações contra companheiros. Nós não aceitamos insinuações contra companheiros. A Venezuela tem o direito de ser um país soberano, de tomar as suas decisões", disse Lula, acrescentando que não tem medo de fazer essa afirmação em "nenhum lugar do mundo". Na semana passada, o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Donald Rumsfeld, criticou, durante visita ao Brasil, o anúncio venezuelano da compra de 100 mil fuzis de origem russa para equipar suas Forças Armadas. "Nós, da América do Sul, somos capazes de cuidar de nossos asuntos", completou Lula.

Em dezembro, Rodrigo Granda, um dos líderes das Farc, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, foi capturado em Caracas por mercenários e entregue à polícia colombiana depois de ter sido levado até a fronteira dos dois países, em troca de uma recompensa estimada em US$ 1,5 milhão. Na época, Chávez classificou o pagamento como "suborno" e disse que o caso constituia uma violação da soberania nacional venezuelana.

Em meados de fevereiro, Chávez e Uribe encontraram-se pela primeira vez depois do episódio. A reunião de hoje é o segundo encontro entre eles desde a crise. Na época, a captura de Granda em Caracas foi considerada uma prova da ligação do governo Chávez com a guerrilha colombiana. "A Venezuela não precisa ser acusada de coisas que, a gente que convive com você, Chavez, sabe que não fazem parte do seu comportamento e do seu pensamento", completou Lula.

O presidente brasileiro lembrou que, na campanha presidencial de 2002, seus opositores faziam acusações de que ele tornaria o Brasil uma outra Venezuela e também de que o PT receberia financiamento das Farc. "Não tomamos a sério essas denúncias", disse Lula, lembrando de recentes reportagens sobre o assunto na imprensa brasileira.

"Nós temos muita gente falando mal de nós no mundo", disse Lula. Para o presidente brasileiro, a reunião presidencial de hoje sinaliza que é importante para o avanço da integração na região o estabelecimento de "confiança" entre os dirigentes dos diversos países. "Não é possível fazer política sem confiança entre as pessoas que fazem a política".

Nesta segunda-feira, o Departamento de Estado dos EUA divulgou o relatório anual Informe Anual 2004 sobre Direitos Humanos, em que cita Venezuela, Cuba e Haiti como países com deficiências na área. Cuba e Venezuela são "pontos negros" na região e, neste último país, os direitos humanos teriam regredido no último ano.

Voltar ao topo