Aluga-se prédio em Nova York

A ONU tornou-se mais inútil que nunca. O bom senso indica que o decente seria seus homens fazer as malas e pegar o caminho de suas casas distantes. Como instituição séria a ONU não existe mais desde a guerra do Iraque. Para sobreviver terá de pedir licença aos Estados Unidos toda vez que pensar em fazer algo que fira os interesses do império. E, ao contrário, ver os EUA agirem como bem entender, sem pedir licença a ninguém.

Então, para que serve a ONU? Para gastar dinheiro, tempo e paciência dos outros. Historicamente o seu papel atual se assemelha ao dos últimos dias da Liga das Nações. Vale a pena manter uma instituição para vê-la humilhada como prostituta vulgar em fim de noite? Só os sádicos diriam sim. E o papel dos Estados Unidos guarda semelhança com a Alemanha nazista. O mundo, na realidade, voltou a uma situação política parecida com a do período entre as duas grandes guerras. Uma instituição que ninguém respeita e uma nação armada e arrogante disposta a levar seus interesses estratégicos aos extremos, com uma raça escolhida para bode expiatório

Esta nação arrogante se impõe diante das outras pedindo apenas que cedam, sempre. A Alemanha também agiu assim. Anexou a Tchecoslováquia sem resistência. Depois, quis o corredor polonês. Depois a França. E, depois, mais. E sempre com um argumento infame à mão. Algo semelhante aos EUA no Iraque e agora com a Síria. Esta história não termina aí. Assim como era temerário enfrentar os nazistas nos anos 30, também é temerário enfrentar os EUA hoje. São arrogantes e estão armados até os dentes.

Como naquela época, franceses e ingleses não passam de coadjuvantes, em situações invertidas. Os capachos de hoje são os ingleses. Há uma nação poderosa em silêncio, ontem a União Soviética, hoje a China. Talvez os chineses sejam a esperança do mundo. Mas seria imprudente acreditar muito nisso. O desprezo que os nazistas tinham pelos judeus se assemelha à retórica de George W. Bush contra os árabes, como todos fossem terroristas. E os americanos não querem ser odiados. Odiar o carrasco é o último direito de um condenado.

Terroristas. E quem se interessa em saber que os EUA são hoje os maiores terroristas do planeta? Alguém com menos de 30 anos já ouviu falar em My Lai? Era uma aldeia vietnamita, calcinada pelos americanos nos anos 60. O massacre horrorizou o mundo e aos EUA porque então tinham a quem temer. A União Soviética era forte. As mulheres e crianças chacinadas em Bagdá não provocam horror porque os EUA já não temem represálias, como os nazistas também não temiam. E como estes, estão sedentos para usar sua parafernália militar. Em vez dos fornos crematórios que os nazistas instalaram em campos de concentração, os americanos preferiram transformar cidades em grandes fornos onde as vítimas são imoladas.

Quem diria, os nazistas encontraram herdeiros tão infames quanto eles. A diferença é que enquanto o povo alemão quase unânime aprovou os exterminadores, nos Estados Unidos há resistência verificada em protestos em São Francisco, Nova York, Boston e outras cidades. Quanto à ONU, aquele prédio cheio de salas seria melhor administrado por uma imobiliária. O lugar é bom, valorizado e tem uma boa vista. É desperdício deixá-lo às moscas.

Edilson Pereira (edilsonpereira@pron.com.br) é editor em O Estado

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