Vou-me embora pra Cucuia

Desde outro dia estou pensando, assim a “vol d’ oiseau” como diria Maupassant o quão espetacular deve ser esse lugar a que chamam Cucuia.

Deve ser uma cidade de tamanho infinito e me parece ser o destino final de coisas e gentes.

Comecei a perceber a importância de Cucuia ao procurar a Soletur para tirar uma passagem pela Transbrasil e descobri que ambas já foram pra Cucuia e agora estão esperando a chegada da Vasp do Canedo.

De navio, descobri logo que não dá pra ir. O “Titanic”, o “Principessa Mafalda” e o “Lusitânia” já foram pra lá.

Quanta coisa boa de indústrias e comércios já seguiram, impávidas, para Cucuia. E gente, então? Nem falar.

Imagine o que é você encontrar Marilyn Monroe e Lady Di no maior papo falando mal de homens vários. Lá estão todos nivelados pelo Espaço e pelo Tempo, garantidos pela Eternidade.

Napoleão Bonaparte está quase sempre rindo dos modernos militares que o julgam o maior estrategista de todos os tempos, esquecidos ou deslembrados das burrices que cometeu, principalmente com mulheres, o baixinho corso.

Ulysses Guimarães não queria ir mas foi mandado compulsoriamente por um piloto de helicóptero, que foi junto e, ao chegar, recebeu um puxão de orelhas de Santos Dumont.

Mas, o panorama político atual está cheio de personalidades que foram, estão indo ou já reservaram passagem pra Cucuia.

Em São Paulo, por exemplo, o Michel Temer insiste em mandar Orestes Quércia pra Cucuia. Chega até a reservar passagem, mas ele sempre dá um jeito de adiar a viagem. Paulo Maluf já tem data marcada: embarca pra Cucuia dia 3 de outubro do corrente ano do Nascimento de Nosso Senhor Cristo de 2004.

Na rampa do mercado, em Salvador, há um saveiro atracado para a viagem de Antônio Carlos Magalhães. O barco chegou a soltar as amarras, mas ACM conseguiu trazê-lo de volta, adiando a viagem pra Cucuia.

Em São Luiz do Maranhão, quem nasce lá é “ludovicense” e a única capital brasileira que não foi fundada por portugueses e sim, franceses, também há uma “alvarenga” essa barcaça que busca e leva carga para os navios (São Luiz não tem porto) finamente decorada e a espera de José Sarney para levá-lo pra Cucuia. O problema é que suas metástases oligárquicas reúnem muita gente e é necessária uma flotilha de “alvarengas”.

Dos senadores paranaenses anota-se que Osmar Dias não demonstra a mínima disposição de ir pra Cucuia. Seus milhões de eleitores acham que, se ele for pra lá, vai arrasar com Cucuia, no pau. Outro senador, Flavio Arns, de temperamento supra-renal e baixa rotação, nunca irá pra Cucuia porque sempre chegará atrasado para o embarque. Quanto a Álvaro Dias, este receberá sua passagem pra Cucuia no último dia do seu mandato.

Neste ano eleitoral o que se nota é um grande número de candidatos a viagens pra Cucuia. Eles estão em campanha, altivos, sobranceiros, crentes de que vão se eleger e já tem seu dia de glória marcado: 3 de outubro. Tadinhos.

Muitos deles, com intensa vocação cucuiana, vão tentar outras vezes até que, um dia, se convencem de que Cucuia é seu melhor destino e vão.

Politicamente, o ex-governador Jayme Lerner já foi embora pra Cucuia mas deixou muita gente de seu governo com passagens marcadas para lá. Muitos passageiros lernianos estão rebarbando e negaceando, não querem ir, mas tudo leva a crer que logo, logo, estarão olimpicamente viajando pra Cucuia.

No que tange ao Governo Federal já se encontram em Cucuia Benedita da Silva e José Graziano. Estão expectantes quanto aos outros ministros que vão chegar. Há uma razoável fila no Planalto.

A maior preocupação de Lula quanto a Cucuia está com seu amigo Palocci. Ele vive dizendo ao gordo: Te cuida, Palocci, se você for pra Cucuia eu vou junto!

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