Talvez Mozart não fosse tão pobre quanto se pensa

d12.jpgTornou-se célebre a história que narra as dificuldades da viúva de Mozart: na mais completa miséria, não conseguiu reunir o dinheiro para enterrar o marido, que acabou destinado a uma vala comum. Tudo bem, o fim da vida de Mozart não foi dos mais confortáveis. Mas uma série de documentos recém-descobertos em arquivos austríacos derruba a imagem do compositor genial sempre lidando com problemas financeiros, incapaz de sobreviver apenas de sua arte.

Viena (AE-AP) – Pelo contrário. Segundo os documentos, o dinheiro recebido pelo compositor o coloca entre os 5% mais ricos da Viena do século 18. Se morreu na pobreza, dizem os especialistas, foi por causa da sua displicência com o que recebeu ao longo da vida.

Este é o ano do 250.º aniversário do compositor, época de trazê-lo de volta ao primeiro plano das investigações musicais. No início do ano, foi a vez de um documentário da TV austríaca mostrar que não há como garantir que o crânio guardado no Mozarteum de Salzburgo seja mesmo do compositor.

Agora, a atenção volta-se à sua vida financeira. Os documentos foram descobertos durante pesquisas feitas no âmbito dos preparativos de uma exposição sobre os últimos anos de Mozart, que será inaugurada na terça-feira no Musikverein de Viena. Para os especialistas, pode oferecer uma nova leitura para a correspondência do compositor.

d11.jpgÉ que em suas cartas, Mozart freqüentemente faz referências a empréstimos feitos com amigos para pagar suas viagens e despesas; ele também descreve em alguns momentos que sua família foi forçada, por problemas financeiros, a se mudar 11 vezes. Mas os documentos mostram que, na maturidade, sua renda anual chegava aos 10 mil florins. Não há um consenso quanto ao valor correspondente nos dias de hoje ao florin, mas estima-se que 10 mil deles equivaleriam a pouco mais de US$ 40 mil, cerca de R$ 100 mil. Para usar os termos da época: profissionais de destaque viviam com uma renda de 450 florins ao ano; e apenas ministros de governo recebiam mais (e não muito) do que o compositor que, além de compor, ganhava a vida dando aulas para filhos da aristocracia austríaca.

A descoberta, porém, segundo Otto Biba, diretor dos arquivos vienenses, não invalida documentos anteriores que fazem referência à pobreza do compositor.

?Registros de seu espólio mostram mesmo que, após sua morte, sua viúva não teve dinheiro nem mesmo para enterrá-lo e que ele devia milhares de florins, inclusive para o alfaiate e um farmacêutico??, diz.

O que muda, então, com os documentos descobertos? Biba diz que não se pode mais dizer que Mozart tenha sido injustiçado ou pouco valorizado em vida.

?Mozart era muito indisciplinado e o dinheiro saía de sua mão como água?, diz Allen Krantz, um de seus biógrafos, que citou ainda uma carta da mãe do compositor: ?Quando Wolfgang faz uma nova amizade, imediatamente quer dar à pessoa sua vida e suas propriedades??.

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