Sinhá Moça repete esquema de Cabocla

Estreou na última segunda-feira, o "remake" de Sinhá Moça. A trama de Benedito Ruy Barbosa cuja versão original exibida em 1986 está sendo adaptada pelas filhas do autor, Edmara e Edilene Barbosa entra na grade da Globo com uma dura missão: manter os excelentes índices de Alma Gêmea, sua antecessora. O folhetim de Walcyr Carrasco, durante os nove meses em que ficou no ar, obteve média de 38 pontos no Ibope, com 61% de participação entre os aparelhos ligados o chamado "share". Em seu primeiro capítulo, Sinhá Moça não decepcionou: a primeira prévia registrou média de 35% com 56% de "share".

Mesmo com o sucesso inicial, Sinhá Moça não consegue evitar um gosto de "déjà-vu". Não por ser um "remake" de uma novela produzida em 1986, mas por ter repetido o mesmo esquema de autoria Benedito e filhas e de produção usado em Cabocla, do mesmo autor, refeita em 2004. Até mesmo o desenho das tramas é parecido.

Como costuma acontecer com as seqüências iniciais de qualquer novela da Globo, Sinhá Moça encenou ares de superprodução. A direção assinada por Rogério Gomes seguiu à risca o roteiro de estréias. O ritmo lento e o "travelling" cadenciado de alguns planos têm nítida inspiração no cinema, especialmente os feitos do alto, com o uso de grua. Da mesma forma, alguns closes lentos e bem fechados também explicitaram essa referência. Para reforçar a impressão de se estar vendo um filme, a imagem da novela recebe um tratamento que "simula" a qualidade de imagem oferecida pela película usada no cinema. O recurso de imagens supostamente "envelhecidas", a propósito, é usado também na bonita abertura.

 Outros fatores técnicos marcaram positivamente a estréia de Sinhá Moça. A iluminação das cenas, em especial as seqüências noturnas, se mostraram impecáveis. O uso equilibrado de velas, tochas, lamparinas e castiçais dão um toque de bom gosto ao produto final, bem como se encaixam com perfeição no contexto histórico proposto. A fotografia também parece inspirada, tanto nas cenas passadas no interior das antigas fazendas, quanto nas tomadas externas, que abusam de elementos como os verdes campos do interior ou os velhos trens a vapor.

 A música incidental é igualmente bem escolhida e adequada para criar os climas dramáticos de cada situação. A trilha surge mais percussiva nas cenas que envolvem escravos, e é mais clássica, com mais instrumentos de corda, quando o foco está no núcleo principal. Com isso, áudio e imagens somados e bem equilibrados potencializam a força da história e o texto de Benedito Ruy Barbosa, que se divide entre o enredo romântico do casal principal e o pano-de-fundo que explora o drama da escravidão e a luta abolicionista.

 A estrutura técnica dá suporte a um elenco que, se não é dois maiores conta inicialmente com pouco mais de 40 atores, além da figuração, bastante equilibrado. Nele estão atores como Bruno Gagliasso e Vanessa Giácomo, com poder de atrair a identificação de um público de faixa etária mais jovem. Estão também velhos conhecidos do público, como Carlos Vereza e Reginaldo Faria, capazes de dar consistência a qualquer trabalho. Além deles, desde o início a trama já apresentou boas interpretações de veteranos como Milton Gonçalves, Patrícia Pillar e até de Humberto Martins, correto na pele do feitor Bruno. Também a dupla central, formada por Débora Falabella e Danton Mello. Em meio ao bom elenco, contudo, ainda assim Osmar Prado já chama a atenção, com sua atuação contundente na pele do Barão de Araruna, vilão-mor da trama.

O início promissor teve poucos aspectos negativos. O recurso da "câmara lenta", por exemplo, por vezes excessivo, foi um exagero no melodrama proposto. Da mesma forma, closes muito fechados e demorados dão a algumas tomadas uma sensação claustrofóbica. Mas não é nada que deva perdurar por muito tempo, afinal os primeiros capítulos de uma trama costumam primar por um cuidado extra, a fim de tentar "fisgar" o quanto antes o telespectador. Ainda assim, o excesso é coerente com a opção de se fazer um "remake" de uma trama romântica.

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