Sem frescuras

Quando fez o teste para a novela Paraíso tropical, da Globo, Carlos Casagrande não tinha idéia de que poderia interpretar um homossexual na trama de Gilberto Braga e Ricardo Linhares. Mas, passados alguns dias, o ator recebeu a notícia de que, depois de nove anos de carreira, Rodrigo, seu primeiro personagem fixo na emissora, poderia causar polêmica por sua sexualidade.

Primeiro, o fato de ele e seu companheiro na trama não serem gays estereotipados soava como um papel sem muito destaque. Mas, com o passar dos capítulos, Carlos se surpreendeu com críticas de pessoas que sentiam falta de mais interação entre o par ?nada colorido? do horário nobre. ?Essas críticas fizeram as pessoas prestarem atenção no casal. E o mais engraçado é que todos os gays sem trejeitos e com relações estáveis que me param nas ruas aprovam a forma como eles são retratados?, explica.

Nem mesmo a opção sexual do personagem diminuiu o assédio do público feminino ao ator. Ao contrário, agora Casagrande não consegue mais passar sem que ouça risadas das mulheres, principalmente as adolescentes. Por isso mesmo, ele acredita que o público já sabe onde começa o artista e onde termina a ficção. E ele não teme ficar marcado por causa do trabalho atual. ?Não rolou beijo, tudo foi deixado bem claro, mas nas entrelinhas. As pessoas sabem que eu não sou gay, que tenho mulher, filho…?, avalia.

Aos 38 anos, Carlos Casagrande acredita que seu crescimento atual na carreira veio no tempo certo. Apesar de já ter protagonizado três novelas – Marcas da paixão e Roda da vida, ambas da Record, em 2000 e 2001, respectivamente, e Marisol, do SBT, em 2002 – o ator afirma não ter sofrido com possíveis críticas no início da profissão. Isso porque, naquela época, as duas emissoras não tinham números de audiência muito expressivos. ?Vi vários amigos sendo massacrados pela mídia enquanto eu estava tranqüilo, escondido, aprendendo na prática?, conta. Hoje, com a experiência adquirida em cursos de teatro e anos de exercícios  com  uma fonoaudióloga, Casagrande se sente à vontade para interpretar qualquer tipo de papel. Tanto que, no cinema, já viveu até uma mulher. Mas os brasileiros só devem conferir essa atuação daqui a dois anos, data prevista do lançamento de Primavera, de Carlos Porto, por aqui. ?Não posso falar muito sobre o filme. Ainda está sendo finalizado e primeiro ele vai para a Europa. Vão aproveitar alguns festivais de lá para, depois, lançarem aqui?, justifica.

Paraíso tropical acabou com o jejum de Casagrande na Globo. O ator, que fez a oficina de atores da emissora em 1998, aguardava o retorno desde 2005, quando assinou contrato para integrar o elenco da novela América. Na época, foi escalado para viver o metrossexual André na história de Glória Perez. ?Eu entraria por volta do capítulo 80, mas com as mudanças na direção e nos rumos da trama, meu personagem acabou sendo cortado?, lembra o ator. Por conta do frustrado convite para atuar em América, ele teve que rescindir dois contratos com agências de Los Angeles. Uma escalava Carlos para trabalhos como modelo. Já a outra, selecionava atores para o cinema. Fora isso, Carlos só havia conseguido pequenas participações nas novelas da emissora. Como sua estréia na tevê, interpretando o professor de dança Juan em Malhação, em 1998, por apenas um mês.

Com o fim da novela, Casagrande ainda não sabe que rumo sua carreira irá tomar. O ator já recebeu alguns convites para estrear no teatro e também para se aventurar em novos longas-metragens. Mas sua prioridade é continuar investindo em papéis na televisão. Seu contrato com a Globo termina no final de setembro e ele aguarda ansioso pela possível renovação. ?Tenho vontade de fazer teatro e adoro cinema, mas a tevê mexeu muito comigo. Estou esperando, mas até agora ainda não rolou?, avisa.

Carreira começou pelas passarelas

A vida profissional de Carlos Casagrande começou quando ainda tinha 19 anos. O então estudante de Administração de Empresas decidiu trancar a faculdade no segundo ano e viajar de Itararé, em São Paulo, onde nasceu, para visitar familiares em Campinas. Chegando lá, um tio conseguiu convencê-lo a participar de um desfile e, a partir daí, outro convite acabou acontecendo, desta vez para um evento maior. ?Quando cheguei, conheci profissionais da moda que me avisaram sobre um concurso importante no Brasil. Fiz e passei?, recorda.

A competição era para escolher os primeiros modelos masculinos da agência Elite no Brasil. Escolhido, Carlos assinou um contrato longo e não parou mais de posar.

Até que, em 1997, aos 27 anos, conquistou dois prêmios de votação popular na categoria de melhor modelo. Sua fama no meio artístico aumentou e o rapaz decidiu tentar um teste na Oficina de Atores da Globo. Passou. E, de quebra, ainda faturou sua primeira aparição como ator na tevê. ?As aulas terminaram na sexta e na segunda eu já estava gravando uma participação especial em Malhação?, explica.

Durante o tempo em que trabalhou como modelo, Casagrande morou em alguns países da Europa, como França e Itália. ?Na minha época, aparecer demais era ruim. A gente tinha que ficar sempre se mudando para arrumar trabalhos novos?, diz.

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