Rodrigo Naves lança ?A Calma dos Dias?

Mais conhecido como crítico de arte, autor de livros fundamentais sobre El Greco, Amilcar de Castro, Goeldi e Nelson Felix, entre outros, o paulistano Rodrigo Naves volta à ficção 15 anos depois de sua estreia com O Filantropo. Seu novo livro, A Calma dos Dias, é igualmente uma obra literária híbrida. Em prosa poética, Naves combina ensaios, pequenas crônicas do cotidiano, reflexões sobre comportamento e perfis de artistas amigos. Tudo isso com o extraordinário talento de um professor de arte avesso à comunicação arbitrária. Em A Calma dos Dias, a linguagem deixa de ser puramente instrumental para estabelecer um vínculo afetivo com o leitor. Trata-se de um esforço reconstrutor de um homem que esteve à beira da morte, à deriva entre o céu e sabe-se lá que estação infernal.

Naves, felizmente, continua entre nós. E bem. Ele vai autografar seu livro no dia 22, no Centro Universitário Maria Antonia. A Calma dos Dias chega antes às livrarias (dia 7). É provável que muitos de seus leitores tenham conhecido alguns dos amigos de Naves citados na obra (Mira Schendel, José Paulo Paes, Willys de Castro), mas não da maneira como ele os descreve. Essa forma híbrida inventada pelo escritor é um instrumento linguístico submisso ao onírico, não ao mundo da razão, na fronteira de uma revolução morfológica que dispensa o léxico incompleto dos gramáticos, como se estivesse trazendo o cinema para o interior da linguagem literária, dando à palavra um uso particular.

O grande crítico literário João Moura Jr., um dos amigos cujo perfil ele tenta (de forma heroica) definir no novo livro, disse, a respeito de O Filantropo, que a “promiscuidade de gêneros” em seu livro de estreia na ficção produzia de imediato um “choque moderno”. Com efeito, trata-se de uma experiência literária pós-cubista, em que a fragmentação dos elementos, ao decompor seus personagens em partes, tentava reconstitui-los em sua integridade.

Curiosamente, no melhor perfil de A Calma dos Dias, o do poeta José Paulo Paes (1926-1998), de quem Naves foi grande amigo, essa modernidade se traduz na evocação de Merleau-Ponty pelo autor. O fenomenólogo francês dizia (a respeito de Cézanne) que “o melhor de um artista deve ser buscado em sua obra”, resistindo à ideia de cruzar biografia e trabalho. Naves, porém, comenta que são “neuróticos renitentes” como Cézanne que entendem de salvação. Como explicar de outra forma os “epigramas econômicos” de Paes, anteriores ao livro Prosas Seguidas de Odes Mínimas, sem considerar o agravamento da doença do poeta? De forma semelhante, como justificar a opção pelos epigramas por Naves sem considerar a urgência desse homem, monumento da crítica no Brasil, de compreender os estados experimentados por ele no hiato entre vida e morte?

A CALMA DOS DIAS – Autor: Rodrigo Naves. Editora: Companhia das Letras

(171 págs., R$ 34). Nas livrarias, dia 7.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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