Pedro Paulo Rangel faz temporada no Teatro da Caixa

O Teatro da Caixa apresenta de 14 a 16 e de 21 a 23 de setembro, o ator Pedro Paulo Rangel no espetáculo "Soppa de Letra", que lhe rendeu o Prêmio Shell de melhor ator em 2005 e já emocionou mais de 25 mil pessoas em temporadas no Rio de Janeiro e em São Paulo.

No espetáculo, Pedro Paulo Rangel dramatiza as letras de canções mais e menos conhecidas, interpretando personagens e situações de letristas da MPB. Produzido pelo próprio ator, "Soppa de Letra" percorre em quase sete dezenas de letras – na íntegra (a imensa maioria) ou não – um longo e variado trajeto da palavra na nossa música popular. Um trio de instrumentistas apóia o ator: Lena Verani (clarinete e clarone), André Agra (violão e cavaquinho) e Éber de Freitas / Fabiano Salek ( revezando na percussão).

Com mais de três décadas de teatro profissional na bagagem, o ator –  que em 1994 soube dar admirável vida cênica ao célebre, requintado e canônico Sermão da Quarta-feira de Cinza, do orador sacro e missionário jesuíta do século XVII Padre Antônio Vieira – acalentava há tempos o desejo de emprestar seu talento a um recital de poesias. E, desde que ouviu um locutor declamar as letras dos Beatles num programa de rádio, descobriu a vontade de que o recital girasse em torno de letras do nosso cancioneiro popular.

Na verdade, essa foi se tornando uma espécie idéia fixa. Ao longo de cinco anos Pedro Paulo Rangel dedicou-se a ouvir e coletar letras que, despidas da respectiva melodia, pudessem se prestar a uma interpretação cênica. No meio do caminho, teve o privilégio de ser escolhido para dar voz aos poemas do genial poeta mato-grossense Manoel de Barros, em CD da coleção Poesia Falada, lançado pelo selo Luz da Cidade, uma experiência que só fortaleceu o objetivo inicial.

O roteiro

Dar forma e conteúdo a um universo tão vasto e diverso como o da MPB, foi o grande desafio de Pedro Paulo Rangel e Naum Alves de Souza, que assinam o roteiro junto com Antonio De Bonis. Amigos de longa data e parceiros assíduos nos anos 80 – quando, sob a direção de Naum, PP atuou em Aurora da Minha Vida (1982) e Um Beijo, um Abraço, um Aperto de Mão (1984), também de Naum, além de El Grande de Coca-cola, de uma trinca de autores norte-americanos (1986). Agora eles quebraram um jejum profissional de 18 anos para dar sentido a uma massa de cerca de 250 letras pré-selecionadas por PP e Antonio De Bonis.

À vontade no terreno da música popular brasileira, Naum – que já assinou direção, roteiro, cenografia e/ou figurinos de espetáculos de Maria Bethânia (A Hora da Estrela), Chico Buarque (Francisco), Gonzaguinha (Explode Coração) e Elis Regina (Falso Brilhante), entre outros – tinha atravessado processo semelhante com Fernanda Montenegro, na criação de Dona Doida, recital em torno da produção literária da escritora mineira Adélia Prado. Aqui, também, as ligações entre uma obra e outra foram surgindo aos poucos – algumas vezes pela similitude, outras pelo contraste – e sugerindo a formação de pequenos blocos – que tanto podem guardar, em si, uma história, uma cena, como abordar um mesmo tema sob ângulos variados – até compor um desenho cênico, uma dramaturgia.

Sem jamais resvalar para o caricato ou deturpar o sentido da palavra urdida pelo poeta, em cerca de 1h20 de espetáculo, Pedro Paulo Rangel veste personagens masculinos e femininos; outras vezes opta pela interpretação cristalina da letra, e, eventualmente, busca a valorização do sentido das palavras por um caminho aparentemente inverso do que a letra propõe.

Além do Prêmio Shell de Melhor Ator de 2004 para PPRangel, o  espetáculo também foi escolhido como um dos 10 Melhores de 2004 e foi indicado para o Prêmio Faz Diferença do Jornal O Globo.

As músicas

Que ninguém espere um passeio turístico. A Soppa de PP permite-se ir da poesia pura (Soneto da Separação, de Vinícius de Moraes, e Traduzir-se, de Ferreira Gullar, musicadas por Tom Jobim e Raimundo Fagner, respectivamente) ao hip hop (Fiel Bailarino de Nega Giza e MV Bill); passando por Miséria S/A, do Rapa; da palavra-prima de Chico Buarque (Trocando em Miúdos, parceria com Francis Hime, e Fado Tropical, com Rui Guerra, entre outras) à galhofa de Adoniran Barbosa (As Mariposas e Iracema); de uma inusitada parceria de Manoel de Barros com Tetê Spíndola (Poema da Lesma: Se no tranco do vento, a lesma treme/ No que sou de parede, a mesma prega/ Se no fundo da concha a lesma freme/ Aos refolhos da carne, ela se agrega) a um clássico do samba-canção como Na Batucada da Vida, de Luís Peixoto e Ary Barrozo (No dia em que eu apareci no mundo/ Juntou uma porção de vagabundo da orgia/ De noite teve lua e batucada/ Que acabou de madrugada/ Em grossa pancadaria); da crônica poética sempre inesquecível de Aldir Blanc (Miss Suéter, A Nível de e Incompatibilidade de Gênios, todas com João Bosco, o imbatível partner do poeta) e Paulinho da Viola (Comprimido) à estética rasga-coração da dupla Herivelto Martins e David Nasser (Atiraste uma pedra/ No peito de quem só te fez tanto bem/ E quebraste um telhado/ Perdeste um abrigo/ Feriste um Amigo) ou de Lupicínio Rodrigues (Nervos de Aço: Você sabe o que é ter um amor/ Meu senhor?/ Ter loucura por uma mulher/ E depois encontrar esse amor/ Meu senhor/ Nos braços de um outro qualquer?); de um insuspeitado Cartola (Vou Contar Tim-tim por Tim-tim: Fui tão maltratada/ Foi tanta pancada/ Que ele me deu/ Estou toda doída/ Estou toda ferida/ Ninguém me socorreu/ Ninguém lá em casa apareceu) a um primoroso Cacaso, escolhido a dedo na parceria com Lourenço Baeta (Meio Termo: Ah, como tenho me enganado/ Como tenho me matado/ Por ter demais confiado nas evidências do amor/ Como tenho andado certo/ Como tenho andado errado/ Por seu carinho inseguro/ Por meu caminho deserto); um destemperado Caetano Veloso (Não Enche: Quadrada, demente/ A melodia do meu samba põe você no lugar/ Me larga, não enche/ Me deixa cantar, me deixa cantar) a um hierático Gilberto Gil (O compositor me disse/ Que eu cantasse distraidamente esta canção/ Que eu cantasse como se o vento soprasse/ Pela boca, vindo do pulmão.

Serviço:

Espetáculo "Soppa de Letra", com Pedro Paulo Rangel. Teatro da Caixa, de 14 a 16 e 21 a 23 de setembro. Sextas e sábados, às 21 horas e domingos às 19 horas. Ingressos a R$ 20,00 e R$ 10,00 (clientes, idosos e estudantes), à venda no Teatro da Caixa (rua Conselheiro Laurindo, 280). Informações 2118-5111 e 2118-5233. Classificação etária: livre. Lotação do teatro: 123 lugares.

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