Para Don Siegel, Elvis era um grande ator mal aproveitado

Don Siegel, um dos mestres (com Sergio Leone) de Clint Eastwood, jurava que Elvis Presley era muito bom ator, mas lamentava que tivesse tido poucas oportunidades de demonstrá-lo. O próprio Siegel dirigiu-o em “Flaming Star/Estrela de Fogo”, em 1960. Elvis fazia um mestiço que tentava manter sua família unida, evitando o confronto entre brancos e índios. O filme, um belo western, mostrava-o cada vez mais solitário, um personagem trágico tentando manter-se ético num mundo hostil.

Entre 1956 e 1970, Elvis interpretou 31 filmes, fora os documentários. Dá uma média de dois filmes por ano. Ele filmava muito e, para capitalizar a simpatia dos fãs, houve momentos em que as ficções se ajustavam ao roteiro de sua vida. Elvis foi servir o Exército numa base na Alemanha? Surgiu “G.I. Blues/Saudades de Um Pracinha”, de Norman Taurog. Foi o diretor que mais vezes trabalhou com o ‘rei’ – oito filmes. Talvez, se tivesse filmado mais com outros diretores, ele tivesse sido mais solicitado como ator.

Quando Elvis surgiu, seu rock colocou no palco a juventude rebelde. Hollywood foi na contramão do próprio mito que nascia. O primeiro longa, “Ama-me com Ternura”, de Robert D. Webb, mostrava-o como soldado confederado na Guerra Civil, disputando com o irmão o amor da bela Debra Paget. O terceiro e o quarto possuem admiradores – “O Prisioneiro do Rock”, de Richard Thorpe, e “Balada Sangrenta”, de Michael Curtiz. O décimo, “Talhado para Campeão”, de Phil Karlson, faz dele um pugilista, repetindo papel que Humphrey Bogart havia interpretado. São todos dramas com música, mas os melhores filmes de Elvis são obras de gênero.

O citado western de Siegel e um musical do especialista George Sidney. Em “Amor a Toda Velocidade”, de 1964, Elvis e Cesare Danova fazem pilotos de carros num hotel de Las Vegas, às voltas com a instrutora de natação Ann-Margret. Há um número realmente notável – “The Lady Loves Me” (But She Doesn’t Know Yet). O curioso é que um ano antes, e também com Ann-Margret, Sidney satirizara o mito em “Adeus, Amor” (Bye-Bye Birdie), sobre um roqueiro que deixa as fãs inconsoláveis ao partir para a guerra. Não deixa de ser “Saudades de Um Pracinha” de outro ângulo – com talento.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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