Página virada

O tom de voz é de conformismo. Mas Helena Ranaldi não esconde a decepção com os rumos que Márcia, sua personagem em Páginas da vida, tomou. Ela é uma das muitas intérpretes insatisfeitas com a novela, com pouco tempo e muitos personagens para ir ao ar. Assim como os colegas Antônio Calloni, Leandra Leal e Ana Paula Arósio, a atriz parece cumprir sua agenda sem muito afeto pelo trabalho atual. No início, a idéia era mostrar uma mulher que lutava para conseguir a independência financeira, enfrentando a oposição do marido. Mas, com a saída repentina de Calloni – que alegou cansaço, mas pouco tempo depois já estava envolvido com a pré-produção de Amazônia – De Galvez a Chico Mendes -, a morte do ciumento e controlador Gustavo abriu todos os caminhos para a realização dos sonhos de Márcia na trama de Manoel Carlos. ?Ela lutava para trabalhar em paz. Acho que já conseguiu o que queria há algum tempo, tanto que 70% das cenas que gravo se passam no Centro Cultural?, ironiza.

Aos 40 anos de idade e 17 de carreira na televisão, Helena sabe que não é sempre que um ator consegue personagens de destaque nas novelas. E essa não é a primeira vez que um trabalho não lhe traz motivação. ?Fiz uma novela do Aguinaldo Silva, Senhora do destino, na qual não me apaixonei pela personagem?, minimiza. Nem mesmo a perspectiva de um possível romance entre Márcia e Sílvio, de Edson Celulari, e o desvio de dinheiro no Centro Cultural animam a atriz. Isso porque, com o término da novela cada vez mais próximo e a lentidão no desenvolvimento de várias tramas, a falta de tempo torna-se um agravante para a relação entre autor e elenco. ?Restam poucos capítulos e muitas coisas para se abordar. Mas não questiono. O autor escreve as histórias do jeito que ele quer?, aceita.

 Essa é a quarta vez que Helena participa de uma produção de Manoel Carlos. Ao contrário de Márcia, a atriz considera inesquecíveis suas outras personagens do autor. ?Sempre me destaquei nas tramas do Maneco, não posso reclamar?, consola-se. Em Laços de família, gravou cenas apimentadas na pele da veterinária Cíntia, de 2000. Um ano depois, na minissérie Presença de Anita, interpretou a esposa traída Lúcia Helena. A terceira, de 2003, é para Helena sua melhor personagem até hoje. ?Com a Raquel, de Mulheres apaixonadas, senti que cresci muita na profissão. Era uma personagem bem mais densa?, lembra.

 A estréia de Helena Ranaldi na teledramaturgia aconteceu na extinta Manchete. Em 1990, a atriz fez parte do elenco de A história de Ana Raio e Zé Trovão e, no ano seguinte, de Amazônia. Desde que estreou na Globo, em 1992, Helena já participou de 11 novelas e duas minisséries. Além disso, ocupou o posto de apresentadora do Fantástico ao lado de Pedro Bial, em 1996, mas a experiência durou pouco. No meio daquele ano a atriz recebeu o convite para atuar na novela Anjo de mim, que tinha direção de seu então marido Ricardo Waddington. ?Considero que tive bons trabalhos na Globo. Nas novelas, meus personagens sempre estiveram envolvidos em uma das tramas principais. Mas nem sempre acontece isso?, desconversa.

 Apesar do currículo extenso nesses 17 anos, apenas em Coração de estudante Helena experimentou o ?gostinho? de interpretar uma protagonista. Na história, Clara era uma advogada que se apaixonava pelo professor Eduardo, de Fábio Assunção. Apesar de recente – a novela foi exibida em 2002 -, a atriz não se lembra muito bem da sinopse. ?Não dou essa importância de protagonista para um papel. Sei que eu gravava muito, era um ritmo bem cansativo?, minimiza.

Papéis parecidos

 As personagens da carreira de Helena Ranaldi tiveram uma coisa em comum: nenhuma era má. Mudar esse quadro é um dos seus planos para o futuro. ?Quero interpretar uma vilã ou uma dessas mulheres bem vulgares. Vai ser bom para mim e para o público, já que são papéis bem diferentes da Helena Ranaldi?, observa a atriz.

 Em sua estréia na Globo, Helena experimentou encarnar uma mulher com um dia-a-dia completamente avesso ao seu. ?Em Despedida de solteiro fiz uma motorista de caminhão que trabalhava em uma oficina mecânica. Sinto falta de papéis como esse, que me instiguem?, dá o recado.

 Vaidosa, a ex-estudante de Educação Física diz não sentir medo do peso da idade na carreira. Para ela, existem papéis que se enquadram em vários perfis e idades. ?Um dia você é a mocinha; no outro, é a mãe da mocinha. É o ciclo natural, tem vez para todo mundo?, diz. Em Páginas da vida, por exemplo, Márcia é mãe de Nina, personagem de Manoela do Monte. A atriz tem 22 anos. 

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