O mundo em construção de Haruo Ohara

São Paulo – Além de excelente agricultor, o fotógrafo Haruo Ohara (1909-1999) era “imigrante japonês, pai de família, filho e avô”, segundo descreve sua biografia. Há quem pense que isso é pouco para definir as qualidades de um homem, mas Ohara empenhou-se em exercer com delicadeza e arte todas as funções que resolveu abraçar na vida.

A sua obra fotográfica deveria ser, em seu conceito, algo correndo na mesma corrente desse seu zelo pelas laços familiares. Acabou tornando-se ainda mais: é o testemunho de seu apego pela grandeza de coisas aparentemente triviais: a flor, a semente, a lavoura, a terra, a pescaria nos muitos anos em que viveu na região de Londrina. Seu trabalho, que enxerga um mundo em construção, mostra tanto a violência da colonização quanto a ternura da vida lenta no campo.

Duas obras contíguas de Ohara estão em evidência por esses dias: acaba de ser publicada, pela Garagem Comunicação, a biografia Lavrador de Imagens, de Marcos Losnak e Rogério Ivano; e 30 de suas fotos estão numa sala especial da exposição da Coleção Pirelli, no Masp. A revista de cultura Coyote publicou trabalhos inéditos do artista no seu número 3. Uma das fotos exclusivas (não consta do livro) é um garoto descalço carregando um garrafão, o que poderia parecer uma citação de foto do francês Cartier-Bresson. O detalhe é que Ohara nunca conheceu o trabalho de Bresson.

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