O mais belo soneto da língua

Em busca do mais belo soneto da língua, releio uma centena de espécimes dos mestres do gênero: Camões e Bocage, Gonzaga e Cláudio Manoel da Costa, Antero de Quental e Eugênio de Castro, Cruz e Souza e Bilac, Camilo Pessanha e António Botto, Raimundo Correia e Alphonsus de Guimaraens, Teixeira de Pascoais e José Régio, Raul de Leoni e Guilherme de Almeida, Jorge de Sena e Davi Mourão Ferreira, Ribeiro Couto e Vinícius de Morais.

 E confirmo o óbvio: os dois mais belos sonetos da ?última flor do Lácio? são de Camões. O segundo começa com estes dois versos emblemáticos:

 Amor é fogo que arde sem se ver,

 é ferida que dói e não se sente…

 

 O primeiro? Aí vai ele, na sua íntegralidade cantante ? e encantante:

 

 Alma minha, gentil, que te partiste

 tão cedo desta vida descontente,

 repousa lá no céu eternamente,

 e viva eu cá na terra sempre triste.

 Se lá no assento etéreo onde subiste,

 memória desta vida se consente,

 não te esqueças daquele amor ardente

 que já nos olhos meus tão puro viste.

 E se vires que pode merecer-te

 alguma coisa a dor que me ficou

 da mágoa sem remédio de perder-te,

 roga a Deus, que teus anos encurtou,

 que tão cedo de cá me leve a ver-te,

 quão cedo de meus olhos te levou.

 Mas esse é também, provavelmente, o mais belo soneto de amor escrito em qualquer língua. Data vênia a Lope de Vega e Garcilaso, Shakespeare e Milton, Ronsard e Du Belay, Keats e Elizabeth Browning, Héredia e Mallarmé, Rilke e W. B. Yeats, Neruda e Aleixandre. (Acabei dando a mão à palmatória, amigo Dirceu Carneiro…) 

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