Nobel de Literatura é da Hungria

Berlim 

– O escritor Imre Kertész, de 72 anos, tornou-se ontem o primeiro húngaro a ganhar o Prêmio Nobel de Literatura, por sua obra, segundo a Academia Sueca, “que eleva a experiência frágil do indivíduo contra o arbítrio bárbaro da História”. O escritor vai receber 1 milhão de dólares na cerimônia do próximo dia 10 de dezembro em Estocolmo.

Judeu sobrevivente do Holocausto, Kertész lançou seu primeiro livro, Fateless (Sem Destino), em 1975, aos 46 anos. Na obra, recebida com total silêncio pela crítica, Kertész escolheu a forma autobiográfica para escrever um romance que, para ele, não é autobiográfico.

O escritor não considera os horrores de Auschwitz uma exceção na História, e toda sua obra se funda nos dilemas que enfrentou ao viver essa experiência radical. “Recebi a notícia do prêmio com um misto de surpresa e alegria”, disse Kertész no Instituto Ernest Reuter, em Berlim, onde realiza pesquisas e escreve um novo livro. “Espero que o prêmio traga algo para os países do leste da Europa”.

O escritor teve apenas um livro lançado no Brasil, Kaddish para uma criança não nascida (1990), pela Imago, em edição de 1995 que já está esgotada. A obra é o último volume da série que os críticos consideram uma trilogia, cujo primeiro livro foi Fateless e o segundo, A recusa, de 1988.

Kertész foi deportado em 1944, adolescente, para Auschwitz-Birkenau. Foi libertado em Buchenwald, no ano seguinte. A experiência marcou-o tanto que o escritor disse certa vez que “quando penso em um novo romance, sempre penso em Auschwitz”. No entanto, já em seu primeiro livro, as imagens criadas chocam o leitor, segundo a Academia Sueca, “justamente porque lhe falta este elemento de indignação moral e de protesto metafísico que o sujeito reivindica”.

Contado a partir do olhar da criança sobre os acontecimentos, o livro usa uma “estratégia de alienação que permite considerar a realidade do campo totalmente natural, um cotidiano parecido aos outros (…), às vezes com momentos de alegria”. O escritor húngaro detesta o sentimentalismo que prolifera em obras sobre o genocídio nazista e um de seus principais alvos é A lista de Schindler, para ele um exemplo sobre como não se deve tratar o delicado tema.

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