Lulu Santos retoma vocação pop

São Paulo – Parece um paradoxo: o cantor Lulu Santos rompeu no último domingo com o programa do Faustão, na Rede Globo de Televisão, por se recusar a fazer play-back (aquela micagem do artista fingindo que canta, enquanto rola o som gravado). Mas, ao mesmo tempo, defende e usa em todo o seu novo álbum, Bugalu (BMG), o recurso técnico da edição em Pro-Tools (o músico toca sobre seqüências pré-gravadas) na construção musical.

“O Pro-Tools já é uma realidade, não tem discussão. É o presente e cada vez mais o futuro”, sentenciou Lulu, em entrevista ontem ao jornal O Estado de S.Paulo. “Já o play-back de televisão reduz você a um mico. No Pro-Tools, a gente toca em cima de seqüências, mas a gente produz de fato aquela sonoridade. A vocação do artista se cumpre, a gente está de fato fazendo o que a gente faz, você se defronta com o que você é. É diferente de ir a um programa de auditório fingir.”

Bugalu, que chega hoje às lojas, marca o reencontro de Lulu com um velho parceiro, o DJ e produtor Memê, com o qual ele trabalhou em três discos e de quem está “separado” há quatro anos. “Gravamos tudo no estúdio de DJ dele, ouvindo discos de R&B, coisas como Rock with You, de Michael Jackson”, conta o cantor.

Ele brinca que sua “química” com o DJ Memê acontece quase que por mágica, quando os dois “juntam os seus anéis de Shazam!” (referência a um personagem de quadrinhos). “Nosso encontro produz uma modulação, é o meu parceiro mais freqüente e com o qual tenho a maior afinidade”, revela o artista, que de fato teve poucos partners na carreira – os outros foram Nelson Motta e sua ex-mulher, Scarlett Moon.

Reencontro

O resultado dessa imersão foi que Lulu, aos 50 anos, reencontrou-se com uma das pontas iniciais de sua carreira. Regravou um soul, Melô do Amor, que estava no seu primeiro single, gravado em 1979 – quando ele ainda era apenas Luiz Maurício – e que acabou entrando na trilha da novela Plumas e Paetês, da Rede Globo.

“Mudei quase tudo nessa música e não mudei nada. Reassumi um papel que eu negava. Na primeira versão, eu era a pessoa que caía de cada degrau da escada. Levei 24 anos para potencializar, para assumir aquele lado, para me sair bem daquilo.”

O disco revive aqueles momentos em que as engrenagens da máquina pop de Lulu Santos estavam mais lubrificadas. Fazia tempo que ele não se refestelava tanto com sua vocação para os hits. “Eu conheço o meu gado. Não adianta ir para a frente de um grupo de vegetarianos com um espetinho de churrasco”, diz Lulu. Bugalu inicia com uma música, Já é, que está simplesmente rodando em todo o dial radiofônico, um sucesso inapelável da novela das 8, Mulheres Apaixonadas. Lulu fez a canção em 12 minutos, e nós vamos ouvi-la pelos próximos 20 anos, queiramos ou não.

Há outras canções bacanas, como Chega de Dogma, que só tem uma frase, e que critica o fundamentalismo religioso. “Essa mistura de fundamentalismo com política é uma das doenças modernas da sociedade, assim como os dogmas estéticos”, diz ele.

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