Livro analisa seqüestros realizados no Brasil e em outros países desde 1960

O delegado Rubens Recalcatti e a escritora Noely Manfredini, especialista em Direito, lançam, terça-feira (19), o livro “Seqüestros: Modus Operandi, Estudo de Casos”. O objetivo da obra é ser fonte de pesquisa e treinamento para policiais e para o meio acadêmico, além de permitir a troca de conhecimentos entre países. O livro homenageia os 50 anos da Associação dos Delegados de Polícia do Paraná (19 de agosto) e os 155 anos da Polícia Civil do Paraná (28 de setembro).

Noely é especialista em Direito Penitenciário, Penal e Internacional Público, e esta é sua 20.ª publicação. Recalcatti é policial civil há 30 anos e já esteve à frente de delegacias importantes, como a Furtos e Roubos de Curitiba. O lançamento será às 18h, no Victoria Vila Hotel, em Curitiba.

Segundo Noely, são raros os livros que abordam o tema. “Os casos têm sido muito publicados pela imprensa, mas não têm roteiro, não são completos. Daí a importância de uma obra que siga uma metodologia”, explicou. Ela ressaltou que o livro traz data e local do seqüestro, nome e posição social da vítima, modo de agir, quantia exigida, negociada e paga, desfecho e dados complementares. “Dessa forma, a obra serve como referência para estudos, pesquisas e treinamentos de policiais.”

Em 380 páginas, o volume contém completo banco de dados, com detalhes de casos que envolvem seqüestros no Brasil e no mundo, desde os anos 1960, quando eram comuns seqüestros para suporte econômico. “Agora, temos o problema de seqüestro no Iraque e na Colômbia, com fins políticos, por exemplo”, analisou. Os autores mostram as mudanças de perfil dos seqüestros e seqüestradores, que exigiram adaptação da polícia.

Noely disse que o livro segue o Plano de Ação contra a Criminalidade Organizada Transnacional, da Organização dos Estados Americanos, criado em 2005. “O plano diz que todas as polícias do mundo devem mudar sua filosofia, atuando de forma interestadual e com o intercâmbio de experiências. O livro apresenta justamente isso, com casos e leis de outros países e estados. Cercamos tudo que podíamos sobre seqüestro”, frisou. Noely ressaltou que um policial de um determinado lugar não tem conhecimento das leis de outro, o que pode prejudicar sua atuação.

Conteúdo

Entre os casos apresentados estão extorsão mediante seqüestro, envolvendo filhos de empresários, deputados, gerentes de bancos, industriais e fazendeiros, além de 50 exemplos de tempos de cativeiro, variando de 24 horas a 191 dias. Também são mostrados auto-seqüestros e suspeita de simulação, seqüestros seguidos de morte, seqüestros em série, seqüestros-padrão e seqüestros políticos, ocorridos em São Paulo, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Goiás, Chile e Argentina.

Os autores abordam ainda as leis e conceituações sobre seqüestro extorsivo (Brasil, México, Itália, Argentina, Paraguai, Peru, Colômbia) e de controle de armas (Brasil, Inglaterra, Canadá, Chile, Austrália, México, África do Sul). Fazem parte do conteúdo conceitos sobre terrorismo, atentado criminoso, golpe de estado, sabotagem, apoderamento ilícito de meios de transporte, guerrilha e tomada de reféns são outros temas abordados, além dos tipos de polícia no Brasil e no mundo, o estresse policial e a modernização da polícia.

Paraná

Em especial, o livro apresenta com detalhes o caso ocorrido em setembro de 1991, na região de Ivaiporã (PR), quando a quadrilha Oliveira, que ficou nacionalmente conhecida por ter atuado em diversos estados, como São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, seqüestrou um ônibus com 33 trabalhadores rurais, durante fuga de outro seqüestro, feito em Maringá. A perseguição e a negociação com os seqüestradores duraram seis dias e contou com a participação do delegado Recalcatti, autor do livro, que, na época, era investigador.

De acordo com o delegado, o seqüestro foi descoberto, porque um agricultor viu um carro suspeito parado em um casebre em frente à casa do empresário e chamou a polícia. “A família não comunicou a polícia, porque as ameaças eram pesadas por parte da quadrilha, que pediu 500 mil dólares de resgate”, contou. Recalcatti disse que os policiais se armaram e foram atrás do grupo, que conseguiu fugir após troca de tiros.

O autor contou que a perseguição durou quatro dias e foram mais dois de negociação. Mais de 30 viaturas, na Rodovia do Milho, e 100 policiais estavam envolvidos no caso. Ao final, depois de confronto, morreram um refém e uma pessoa que assistia ao ocorrido, e foram baleados um policial e uma vítima. “Manoel Francisco de Oliveira, chefe da quadrilha, foi socorrido e levado para o hospital de Apucarana. Ele foi preso”, disse Recalcatti.

“O relato deste e dos outros casos no livro vão servir como orientação para os policiais e para outros profissionais e estudantes. Podem ser usados de forma acadêmica para estudantes de Direito, por exemplo”, salientou o autor. “O nosso objetivo é mostrar os tipos de seqüestros, como eles acontecem, a situação do seqüestrado e do policial que trabalha no caso, além do modo peculiar de agir dos seqüestradores e dos policiais”, completou Recalcatti, que é policial há 30 anos.

Serviço:

Lançamento do livro “Seqüestros: Modus Operandi, Estudo de Casos”
Data: 19/08/08 – terça-feira
Horário: 18h
Local: Victoria Vila Hotel – Av. Sete de Setembro, 2.448 (próximo ao Shopping Estação) – Curitiba.