Helena Rinaldi prova do mergulho no escuro

Helena Ranaldi assume que chegou a achar sua personagem, a sensata Clara de “Coração de Estudante”, um pouco chata no meio da novela. Afinal, a protagonista da trama de Emanuel Jacobina era um exemplo irretocável de bom comportamento e, segundo a intérprete, não se parecia muito com uma mulher normal, com seus altos e baixos. “Ela tinha virado um poço de virtudes. Às vezes, eu me sentia interpretando a Madre Tereza de Calcutá”, exagera.

Na reta final da novela, porém, Clara provou que tem lá suas fraquezas… Ela também perde a paciência, comete erros e age por impulso. “A personagem ganhou humanidade e a novela ficou mais bem-humorada e interessante”, alivia.

O pontapé inicial para as mudanças foi dado pelo autor Carlos Lombardi, que prestou uma supervisão de 20 capítulos em “Coração de Estudante”. “A história ficou mais dinâmica”, analisa Helena. Por conta de tanto “dinamismo”, numa cena de briga entre os pretendentes de Clara, a atriz fraturou o nariz e ficou dez dias de repouso. “O Emanuel teve de mudar alguma coisa, mas estou inteira para gravar os últimos capítulos”, esclarece.

P

– Você viveu em “Coração de Estudante” a sua primeira protagonista em novela. Que balanço faz da experiência?

R

– O fato de ser a protagonista, na prática, só me deu mais cenas para gravar. A novela é simples e conta bem uma história. Além disso, a equipe teve entrosamento. A gente chega ao final com uma boa audiência e a certeza de que demos nosso recado.

P

– Mas a novela e sua personagem, inclusive, passaram por mudanças a fim de levantar o ibope…

R

– E conseguimos. Isso é o mais importante. O Emanuel é um bom autor, mas não tinha experiência em novela propriamente dita. “Malhação”, que ele escreveu durante muitos anos, tem um formato distinto, que não se compara a uma novela das seis. A minha personagem era tão correta, tão feliz e boazinha que parecia irreal. Ninguém é daquele jeito. Assim, não tinha como as mulheres se identificarem com ela. Com os toques do Lombardi, o Emanuel reencontrou o rumo da novela e a Clara ganhou muito com isso.

P

– A incerteza quanto ao futuro do personagem incomoda?

R

– De jeito nenhum. Toda obra aberta é um mergulho no escuro e acho isso estimulante. Lógico que a gente tem uma noção da personagem pela sinopse. Mas também é preciso ter a mente aberta para qualquer mudança, porque elas sempre acontecem. Numa novela, o ator vai descobrindo o personagem à medida em que recebe o roteiro. Não tem como elaborar tudo de primeira. Em minissérie, é diferente. A gente já sabe o final. Pode desenhar melhor as emoções da personagem… É outro barato.

P

– E você fez a minissérie “Presença de Anita”, que está sendo reprisada na Globo…

R

– É interessante porque, quando a gente está envolvida num processo de trabalho, a impressão do resultado é uma. Depois de um ano, a visão é outra. Felizmente, continuo impressionada com a qualidade dessa minissérie. E não podia ser diferente. Nós fizemos “Anita” com extremo prazer. A Lúcia Helena tinha uma carga dramática forte. Não era fácil de fazer. Mas o Maneco ( Manoel Carlos) é formidável, escreve maravilhosamente. Esse trabalho deixou saudades…

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