Pra pensar!

Silva resgata o orgulho de ser brasileiro e pede que a esperança continue

Quem dera se todos os novos cantores levassem consigo a paz que tem Silva. Pode até parecer demagogia, mas o que tanto falta no país atualmente tem de sobra na alma desse cantor que é visto como uma das promessas da ‘nova MPB’. Aos 30 anos e com sete discos na carreira, a humildade e a serenidade o fazem parecer muito mais jovem, mas com uma experiência absurda. O cantor se apresentou em Curitiba, no último sábado (13), e cumpriu bem a promessa de fazer o público da Ópera de Arame esquecer por algumas horas todos os problemas.

Foto: Lucas Sarzi.
Foto: Lucas Sarzi.

Feliz por estar em Curitiba, Silva disse que sempre viu a cidade como um ponto interessante para a música e para a arte de modo geral. “Ouvia muito falar da cidade como um lugar que recebe coisas do mundo inteiro, então pra mim Curitiba sempre foi uma referência, de lugar moderno, essas coisas todas”, disse o cantor, em entrevista à Tribuna do Paraná.

Para ele, se apresentar em Curitiba teve um valor muito grande, ainda mais depois de tanto tempo sem vir (exatos quatro anos). “Para o Sul do Brasil é uma das cidades mais interessantes e evoluídas, pelo pouco que vi, as coisas funcionam por aqui. E ver a cena da ‘nova música brasileira’ acontecendo por aqui é muito bom, fico feliz, porque estamos num país muito bom, estou rodando ele inteiro e está sendo muito interessante”.

O show de Silva teve uma sincronia muito grande entre o cantor, os músicos que o acompanham e o público. Em alguns momentos, parecia que todos estavam realmente aproveitando o momento e tentando desligar das coisas ruins. Silva tocou até Palavras no Corpo, uma composição dele para Gal Costa.

Foto: Lucas Sarzi.
Foto: Lucas Sarzi.

Bem brasileiro

O novo disco leva o nome mais forte que Silva poderia ter escolhido: Brasileiro. E não foi por acaso que o cantor escolheu o título. “Foi um disco em que eu quis resgatar minhas raízes, principalmente depois de ter feito o disco ‘Silva canta Marisa’, que entrei em contato com repertório brasileiro que já escutava, mas nunca tinha cantado. Queria um pouco desse resgate pra mim”, explicou.

Ao longo dos seus seis anos de carreira, Silva mudou muito sua forma de fazer música, o que ele mesmo considera como um processo natural. “Hoje eu assumo toda a parte musical, de arranjo, cuido dos instrumentos, gosto de fazer tudo. Isso também é legal porque se alguma coisa não ficar boa, a culpa é minha. Esse processo de mudar meu estilo também foi um processo meu, pois fui gostando mais de pegar o violão, tocar, etc. Fui criando essa autonomia pra mim, gostando mais do jeito que a voz pode seduzir as pessoas, emocionar e levar ao lugar que você quer propor”.

Foto: Lucas Sarzi.
Foto: Lucas Sarzi.

Segundo ele, a ideia do disco nunca foi produzir algo político, mas aconteceu de uma forma tão natural que hoje os próprios fãs lhe apontam trechos das músicas que se encaixam perfeitamente ao país. “Muita gente tem escrito pra mim que ‘Nada Será Mais Como Era Antes’, a primeira do disco, fala bem disso que está acontecendo no Brasil: de intolerância e das mudanças que estamos vivendo. Também tem ‘Milhões de Vozes’, que foi composta por Arnaldo Antunes, e é um desabafo. Ano de eleição, ano de loucura total”.

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Sucesso das parcerias

Silva gravou recentemente uma música com Anitta, Fica Tudo Bem, que já foi ouvida mais de 18 milhões de vezes no Spotify e o tornou conhecido por um público que não era o dele. Além disso, o cantor também teve a experiência, para ele única, de regravar músicas de Marisa Monte e montar um disco. Segundo ele, esse processo todo também o fez crescer e aprender a expandir seus horizontes.

Mas não para por aí, questionado, o cantor comentou que ainda tem vontade de várias outras parcerias. “A primeira que me vem a cabeça é Elba Ramalho. Adoro pessoas com identidade, que tem uma personalidade que é só dela, uma coisa que deixa ressaltar, isso mais me encanta. Isso pra mim vai do sertanejo a música erudita. Mas tem muita gente que tenho vontade de fazer coisa, como o Caetano, Gil, João Gilberto que é praticamente impossível, mas tenho vontade de conhecê-lo… muita gente”.

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Foto: Lucas Sarzi.
Foto: Lucas Sarzi.

Vai ficar tudo bem

Quando o assunto foi política e o momento atual, Silva foi profundo, mas não deixou de ter esperança. “A gente tá num momento em que não consigo defender partido nenhum, nunca defendi, na verdade, embora tenha minhas convicções políticas. Acho que a gente, como brasileiro, precisa conhecer o lugar de onde a gente veio. Não se contente com a aula de história que você teve no primário, te contando que o português chegou aqui 500 anos atrás e foi acontecendo tudo bonitinho”, defendeu.

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Foto: Lucas Sarzi.
Foto: Lucas Sarzi.

Para Silva, é preciso que as pessoas pesquisem não só sobre política e candidatos em si, mas sim busquem um pouco além. “Conheça sua própria cultura e não tolere que, em pleno século 21, a gente tenha uma propagação de violência, de discurso de ódio, de uma intolerância que não aceita que o cara seja gay… Qual a diferença vai fazer na sua vida? Essa é uma questão de uma inteligência básica, não tô pedido para as pessoas serem intelectuais, mas serem humanas, que é o mínimo”.

Embora o momento seja de tensão, Silva avaliou que as pessoas já estão evoluindo, principalmente porque todas as questões estão entrando em pauta. “Tem uma evolução aí e toda evolução na história precisou de luta, de que as pessoas juntassem forças para crescer. Eu tenho esperança no Brasil, embora tenhamos visto discursos perigosíssimos, temos também pessoas que fazem a diferença e acho que, embora seja difícil ter pensamento positivo nesse momento, é uma fase que vai passar e vai ficar tudo bem“, finalizou o cantor, fazendo alusão à sua música de maior sucesso. Veja a entrevista completa:

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