Criatividade & Fotografia

A prática da Fotografia nos torna criativos?

Normalmente perguntas geram respostas imediatas. É quase impossível ao ser humano ouvir uma pergunta e não se atrever a respondê-la. Com mais de duas décadas de Fotografia, a resposta me vem fácil, fundamentada em conhecimento vivencial. Mas o tempo ensina também que respostas fáceis geralmente não acrescentam nada de verdadeiramente novo em quem pergunta.

Quando o alto executivo de uma trans-nacional me fez esta pergunta eu sabia que a resposta objetiva – ainda que adequada à ocasião, um curso de Fotografia – não seria suficiente diante das grandes necessidades de seu âmbito de realização profissional. Portanto, acrescentei que deveríamos olhar a questão com mais nitidez – questão que, na verdade, seduz sábios de todos os tempos.

As concepções de criatividade são muitas. Porém, as mais aceitas em nossa época realçam a idéia de que a criatividade é uma função cognitiva do ser humano. Em outras palavras, o fenômeno da criatividade está ligado à pessoa criativa. Portanto, não existem computadores “criativos”, ainda que os computadores atuais sejam mais “inteligentes” que nós. E quanto aos primatas superiores chimpanzé e orangotango? Estes primatas não possuem criatividade; ao menos não no grau de complexidade verificado em nós humanos. Nem tampouco o esforço orquestrado de muitas pessoas “simplesmente” inteligentes equipara-se em inovação a apenas uma pessoa criativa.

Para o neurocientista luso-americano António Damásio, criatividade é a capacidade humana de criar idéias e artefatos novos. E Damásio afirma que, dentre outros fatores, a linguagem é essencial no desenvolvimento do processo criativo e da capacidade de conhecimento de nossa mente.

A imagem fotográfica comunica. E da mesma forma que a linguagem verbal – por exemplo, a fala humana – a imagem fotográfica conhece regras. O conjunto destas regras visuais é popularmente chamado de linguagem fotográfica, enquanto que os especialistas em imagem chamam-no de semiótica fotográfica. O fato é que imagens fotográficas são amplamente usadas no processo da comunicação humana.

Assim, para termos criatividade visual devemos desenvolver nosso conhecimento em linguagem visual. O domínio da linguagem fotográfica capacita-nos a traduzir e criar sentimentos, conceitos, intuições etc., na forma de imagem fotográfica. Capacita-nos a examinar idéias visualmente, mesmo que sejam idéias abstratas. E amplia as formas mais altas de nossa consciência (consciência na acepção psicológica, não na moral).

Mas vejamos também o fato de maior relevância para nosso executivo que quer desenvolver a sua criatividade: o conhecimento da linguagem fotográfica torna possível o estabelecimento de um diálogo franco e seguro entre duas dimensões cognitivas humanas distintas: a verbal e a visual. Se, por exemplo, ele encontra alguma dificuldade na análise de um problema, por que não tentar uma solução, mesmo que provisória, através de imagens? Talvez isto não somente facilite e enriqueça sua reflexão, mas inclusive forneça – por intuição visual – a tão esperada solução.

A criatividade é um poder mágico que cada um de nós pode despertar. A História nos ensina que há pessoas criativas em todos os tempos. E o aprendizado da Fotografia pode ser um fator cultural decisivo na capacitação de indivíduos de grande criatividade. Em poucas palavras, a resposta ao nosso executivo é: sim.

Roberto Lopes é fotógrafo e editor do site de Fotografia exclusivo do Paraná Online, Pensamento Fotográfico www.parana-online.com.br/fotografia

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