Cláudio Seto ganha 4 páginas da Revista de História

O artista gráfico, poeta, animador cultural, cultivador de bonsai e jornalista Cláudio Seto, que por anos ilustrou esta Tribuna do Paraná, teve o seu trabalho abordado em quatro páginas da Revista de História, da Biblioteca Nacional, uma das publicações mensais mais bem elaboradas da área destinada a especialistas e público leigo, numa linguagem acessível. Em artigo assinado por Cláudio Roberto Basílio, autor do livro Artes Marciais nos Quadrinhos (2006), Seto é chamado de “Samurai brasileiro” e tratado como o introdutor no Brasil do estilo oriental de fazer quadrinhos. Na realidade, as duas referências não são nenhuma novidade: há muito Cláudio Seto é considerado um dos mais talentosos artistas nipo-brasileiros e o que conseguiu traduzir em nosso território o jeito nipônico de fazer histórias em quadrinhos, uma arte conhecida por mangá.

E esta também não é a primeira vez que a conceituada publicação da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro dedica generosos espaços ao ilustre colaborador deste jornal, que na realidade se chamava Chuji Seto Takeguma, nasceu em Guaiçara, interior de São Paulo 1944 e morreu em Curitiba no dia 15 de novembro de 2008, vítima de um AVC (Acidente Vascular Cerebral). A edição de novembro de 2011 da revista, em artigo assinado pelo professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná Luciano Henrique Ferreira da Silva, aborda o trabalho de Seto e da editora curitibana de quadrinhos Grafipar e as revistas Próton e Neuros, editadas por ele no final da década de 1970. Neste artigo de 2011, Ferreira recorda as histórias criadas por Cláudio Seto, Rogério Dias, Luiz Rettamozo e Paulo Leminski.

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“Chuji nutria paixão por revistas em quadrinhos, entre elas vários mangás importados por seu avô, o fabricante de saquê Noriyasu Seto. Com essa atitude, ele desejava aproximar seus netos da língua japonesa. Já em relação à sua identidade, deu-se o contrário: ainda sob o rescaldo dos preconceitos da Segunda Guerra, a escola que ele frequentava não aceitava alunos com nomes de origem nipônica. Foi assim que Chuji passou a se chamar Cláudio”, conta Basílio em seu artigo.

Obras-primas fechadas

Em meados da década de 1960, várias editoras de pequeno e médio porte atuavam com relativo sucesso na capital paulista lançando principalmente quadrinhos, quase todos de artistas nacionais. Esse aquecimento do mercado motivou Seto a mostrar o seu trabalho. O editor, artista e empresários de mangás Minami Keize (1945-2009) se entusiasmou e contratou Seto para trabalhar na Edrel. “Seto abraçou abraçou suas referências nipônicas e criou histórias hoje consideradas fundamentais na introdução do estilo mangá no Brasil”, diz Basílio. “Seto criou pequenas obras-primas fechadas, focadas em vários guerreiros samurais”, acrescenta.

“Publicado sobretudo nas revistas Estórias Adultas e Estórias de Samurais, O Samurai foi muito além da imitação do estilo japonês ou da violência que supostamente deveria nortear personagens das artes marciais. As histórias tem enquadramentos inovadores e são recheadas de referências à Psicologia e à Filosofia, e também trazem um leve erotismo. Neste aspecto, Seto iria muito mais longe em 1969 com Maria Erótica, talvez sua mais famosa criação”, diz o autor do artigo. Sobre esta mulher sensual e sedutora, Cláudio Roberto Basílio afirma que “combinando mangá com influência do quadrinho europeu, Mária Erótica é uma voluptuosa virgem interiorana, cujos favores são disputados (e nunca obtidos) por um grande elenco masculino”.

Profissional multifacetado

Nos anos 1970 Cláudio Seto mudou-se para Curitiba e trabalhou na Grafipar, q,ue desenvolveu um dos capítulos mais originais na história brasileira das editoras destinadas a revistas em quadrinhos. Com o fim da Grafipar, Seto dedicou-se às artes plásticas, fotografia, cartuns, trabalhos como escritor e principalmente à tarefa de agitador cultural da colônia japonesa em Curitiba. Paralelo a tudo isto ele desenvolveu um profícuo e revolucionário trabalho de ilustrador na Tribuna do Paraná.

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