Catherine Frot fala sobre ‘Os Sabores do Palácio?

Há um momento muito bonito, muito forte em Os Sabores do Palácio. De cara, o espectador já é informado que Hortense, a protagonista, não permaneceu muito tempo no seu cargo de cozinheira do Eliseu, o palácio presidencial da França. O filme começa com ela já em outro desafio profissional. O diretor Christian Vincent não detalha as circunstâncias como Hortense chegou ao Eliseu. Mas todo o filme é mais ou menos um preparativo para o desfecho, que também é o oposto de um gran finale.

Hortense e a carta que escreve ao presidente, após sua demissão. Muitos se preparam a vida toda para o grande cargo. O poder não é o que seduz Hortense. Ela não é uma chef como os(as) outros(as).

Basta comparar Os Sabores do Palácio com outro filme em cartaz – o documentário Por Que Você Partiu?, de Eric Belhassen. A cozinha de Hortense situa-se no subsolo do Eliseu, bem longe da mundanidade palaciana (e das intrigas da República). E sua cozinha é simples, regional, como se ela usasse outros ingredientes para a conhecida receita de Lev Tolstoi – fale de sua aldeia para chegar a todo o mundo. Transforme o trivial em algo sofisticado, não necessariamente chique.

“É o que havia de mais interessante nesse filme. (Christian) Vincent possuía elementos para fazer um filme espetacular, mas ele adotou o tom oposto. Transformou Os Sabores do Palácio em um não evento, uma coisa minimalista. Talvez seja um filme para connoisseurs. Adorei fazer”, disse a atriz Catherine Frot numa entrevista realizada em Paris, no começo de junho.

Catherine quem? Você talvez não a identifique pelo nome, mas é uma das mais conhecidas – e melhores – atrizes francesas. Não importa o tamanho do papel. Ela sempre consegue marcar sua presença. E Catherine é calorosa – após a entrevista, realizada no lobby do Hotel Intercontinental, na Ópera, ela convidou o repórter para vê-la na teatro, o que ele fez, naquela mesma noite. Uma montagem de Ionesco, Oh! Les Beaux Jours, no Théâtre de l”Atelier. Tudo a ver com o tom ‘pequeno’ de Os Sabores do Palácio.

O filme baseia-se na história real de Danièle Delpeuch, que foi cozinheira de François Mitterrand, presidente do Partido Socialista. Vincent omite não só o contexto histórico como o próprio nome do presidente. Concentra-se na figura de Hortense, mas cria esse momento delicado, em que o presidente, à noite, desce ao subsolo do palácio e se encontra – conversa – com a cozinheira.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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