Babenco faz parceria com Bárbara Paz em ‘Vênus em Visom’

Hector Babenco diz que anda difícil filmar no Brasil. Sem conseguir financiamento para seu próximo projeto cinematográfico, o diretor de Carandiru, O Beijo da Mulher Aranha e Pixote – A Lei do Mais Fraco, tem se aproximado do teatro.

Ele estreia nesta sexta-feira, 28, mais uma peça: Vênus em Visom, a quarta de sua carreira. “Não consigo entrar em nenhum edital de cinema”, conta Babenco. “Mas tenho 60 e poucos anos e quero trabalhar. Essa peça é um jeito de me divertir. E de divertir os atores.”

Em Vênus em Visom, o diretor repete a parceria com a mulher, a atriz Bárbara Paz. Em 2011, eles já haviam trabalhado juntos em Hell, adaptação do best-seller da francesa Lolita Pille. Lá, Bárbara vivia uma jovem rica, mimada e viciada em drogas.

Com o novo trabalho, a atriz encontra, de certa forma, uma personagem com características semelhantes: são duas mulheres julgadas pela aparência fútil, mas que acabam se revelando mais complexas a um segundo exame. “É algo que eu já vivi. As pessoas acham que me conhecem e me julgam a partir dessa ideia que têm de mim”, crê a intérprete.

Escrita pelo norte-americano David Ives, a peça transformou-se em grande sucesso na Broadway. A versão original rendeu o Tony 2012 de melhor intérprete a Nina Ariana. Quem também obteve boa acolhida com o papel foi Emanuelle Seigner. Ela vive a personagem no novo filme do diretor Roman Polanski, La Vénus à la Fourrure, que recebeu entusiasmadas críticas durante o Festival de Cannes 2013 e deve chegar em breve aos cinemas brasileiros. “Não é à toa que o safado do Polanski foi atrás desse texto”, diverte-se Babenco. “É uma dramaturgia misteriosa, toda bordada.”

Na trama, uma atriz chega ensopada de chuva e atrasada para um teste de elenco. O diretor (que na versão que chega a São Paulo é vivido por André Garolli) recusa de imediato sua participação, alegando que ela não possui o “tipo” ideal para o papel. “É uma grande brincadeira com o ridículo da nossa condição”, argumenta Bárbara. “Como atriz, eu estou sempre sendo testada. E várias vezes o que entra na frente é o preconceito.”

Para reverter esse jogo viciado a seu favor, a protagonista resolve usar das armas de que dispõe para desestabilizar o encenador e conseguir o que quer. “A maior sacada dela é usar a ideia do feminino como força, não como fragilidade”, aponta André Garolli.

Existe uma considerável dose de metateatro no título. “É uma grande brincadeira com esse universo”, crê Bárbara. Conta-se a história de um diretor que pretende montar Vênus in Furs, clássico do austríaco Leopold von Sacher-Masoch, publicado em 1870, e inspiração para a origem do termo masoquismo. “Ela sabe que, de alguma maneira, ele tem uma conexão com esse tema e explora isso”, aponta Bárbara.

De cabelos vermelhos e um figurino que sobrepõe várias meias pretas rasgadas, essa artista encarnará à perfeição o fetiche desse homem. Deve subjugá-lo e transformá-lo em objeto de dominação.

Retirada do contexto protestante dos Estados Unidos, a peça talvez não provoque a mesma reação na plateia brasileira, que é naturalmente menos conservadora e mais permissiva. “Entre católicos, o sagrado e o profano estão sempre misturados”, aponta Garolli. O que a direção de Babenco faz é ressaltar o humor já existente no original. “É uma chanchada. Uma comédia como aquelas do Marivaux, em que o jogo vai se transformando, em que ficcional e o real se confundem”, diz o diretor. “Foi uma experiência interessante para um sujeito como eu, sempre sisudo e melancólico.”

Em sua construção, Bárbara apoia-se não apenas na exploração do drama, mas nas situações potencialmente cômicas. “Fui buscar referências do meu passado. Meu início lá nos Parlapatões, minha formação como palhaça. Traços que as pessoas desconhecem”, comenta ela, que mereceu indicação para o Prêmio Shell de melhor atriz no Rio pelo trabalho.

Tela à vista

Mesmo com os pés fincados no teatro, Babenco não abandonou os planos de rodar um próximo filme. Sua última incursão no gênero foi em 2007, com O Passado, uma coprodução de Brasil e Argentina. Recentemente, ele também participou do projeto Words With Gods, coordenado pelo mexicano Guillermo Arriaga, o roteirista de Amores Brutos.

Para o futuro, o cineasta tem dois projetos engatilhados: Cidade Maravilhosa e Tiger, Tiger. “Tenho que respeitar o que gosto de fazer. Se não consigo financiamento, vou fazer um filme de baixo orçamento. Estou oferecendo cotas para alguns amigos, vendendo o que eu tenho. Regredimos ao mesmo modelo de produção dos anos 1970.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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