As estrelas do intervalo

Eles não fazem novela “das oito”, nem têm programa de auditório. Mesmo assim, muitos garotos-propaganda quando saem às ruas, despertam tanta ou mais curiosidade que muito ator de folhetim. Alguns passaram anos a fio associando a própria imagem a uma marca. Carlos Moreno, o eterno “Garoto Bombril”, por exemplo, figura no Guiness Book of the Records como o mais duradouro da propaganda internacional, com quase 25 anos.

O mais recente fenômeno é Fabiano Augusto, das Casas Bahia. Tal e qual um galã de novela, é abordado nas ruas para dar autógrafos e tirar fotos. Ainda assim, ganhou um blog na internet, odeiooidiotadascasasbahia.blogger.com.br. Com cachê estimado em R$ 100 mil, Fabiano ri da situação. “Todo dia, acesso o site para saber o que saiu a meu respeito na imprensa. Além disso, adoro as fotomontagens que eles fazem. Um sujeito que faz um trabalho desses não pode ter ódio de mim”, argumenta, demonstrando uma auto-estima inabalável.

A mais nova diretora artística da Band, Marlene Mattos, já pensa em convidar Fabiano para apresentar um programa infantil. Se aceitar, ele trilha o caminho inverso de Viviane Romanel-li. À frente da nova campanha do Ponto Frio Bonzão, ela apresentava o TV UD, no Shoptime, da Globosat. Modesta, a ex-rainha das televendas atribui o sucesso ao jeito transparente de ser. “Nunca tive vergonha de assumir os meus erros na frente das câmaras. As pessoas gostam disso. Fica mais natural”, especula.

Garoto Bombril

De todos os garotos-propaganda que já passaram pela tevê brasileira, nenhum fez tanto sucesso quanto Carlos Moreno. Desde que o primeiro anúncio foi ao ar em fevereiro de 1978, ele já apareceu em mais de 300 filmes, como índio, metaleiro, coelhinho da Páscoa, Bill Clinton e Che Guevara. Mesmo assim, garante não se importar por ter a imagem vinculada à marca. “Já tive crises homéricas por isso. Mas o trabalho é muito prazeroso, pelo qual sou reconhecido e que me dá respaldo financeiro”, analisa.

Tão famoso, só mesmo Sebastião Aparecido Fonseca, o Sebastian, da C&A. Desde 1988, ele ajudou a construir uma imagem para a marca holandesa, que ficou com a cara do Brasil. “Se as pessoas me julgam com base na cor da minha pele, é porque elas são reféns de uma ignorância atroz. Mas, desde pequeno, sou bem-resolvido em relação ao preconceito. Sabe lá o que é ser bailarino no país do futebol?”, minimiza.

Tio Sukita

Por conta do sucesso que fazem na hora do intervalo, muitos garotos-propaganda passam por situações típicas de astros e estrelas da tevê. O ator Roberto Arduim, por exemplo, já não encarna o “Tio Sukita” há dois anos. Mas até hoje recebe cantadas, não de lolitas, como a interpretada por Michelly Machri no anúncio do refrigerante, mas de balzaquianas bem assanhadinhas. “Certa vez, uma delas me entregou uma cartinha de amor e uma foto, só de calcinha, bem provocante. Morri de rir”, diz, encabulado.

Mas a vida de um garoto-propaganda não é das mais simples. Os compromissos, lembra o catalão José Valien Royo, são muitos. Nos 16 anos em que interpretou o Baixinho da Kaiser, ele teve de freqüentar micaretas, inauguração de choperias, palestras em faculdades… Num desses eventos, passou por apuros ao ter o inseparável boné surrupiado por um gatuno. “O boné era uma das marcas registradas do personagem. Eu já saía de casa com ele para não ter problemas com o anunciante”, esclarece.

Mas o que pode haver em comum entre o baixinho da Kaiser, o magricela da Bombril e o falastrão das Casas Bahia? Quem arrisca um palpite é o baterista Dany Roland, do grupo oitentista Metrô. Ele foi o rapaz dos anúncios da US Top, que popularizou o bordão “Bonita camisa, Fernandinho!” Ao usar as camisas da marca, se diferenciava dos outros, que usavam sempre camisas iguais às do chefe. “O Fernandinho era o típico anti-herói. Mesmo assim, angariou a simpatia do público porque fazia sucesso na firma e ganhava todas as garotas”, afirma.

A cara do negócio

A atriz e apresentadora Neide Aparecida é do tempo em que comercial se chamava “reclame”. Nessa época, quando a maioria dos comerciais era ao vivo, ela se tornou uma das mais requisitadas garotas-propaganda da tevê brasileira. O sucesso foi tanto que a extinta Tupi convidou a moça para apresentar um programa infantil, o Teatrinho Troll, de 1956 a 1966. “Se a Tupi não tivesse falido, hoje eu seria a Ana Maria Braga da emissora”, imagina.

Muitos garotos-propaganda ganham destaque na publicidade, mas logo enveredam por outros caminhos. Recém-saído do grupo Asdrúbal Trouxe o Trombone, Luiz Fernando Guimarães debutou no intervalo comercial em 1984, quando fez uma campanha para a Shell. Aos poucos, conferiu credibilidade a outros clientes, como Credicard, Petrobras e Havaianas. Nenhuma campanha, porém, fez tanto sucesso quanto a da Caixa Econômica Federal. “Geralmente, os anúncios ficam divertidos porque eu me divirto fazendo publicidade”, explica, esfregando as mãos.

Em 20 anos de serviços prestados à propaganda, Luiz Fernando integrou também um dos casais Unibanco, ao lado de Débora Bloch. O mais famoso deles, no entanto, parece ter sido o formado por Drica Moraes e João Camargo. “Até hoje, quando paro na porta de outro banco, as pessoas caem no meu pé”, diverte-se a atriz. Muitos telespectadores pensavam que eles fossem casados de verdade. “Certa vez, uma mulher me perguntou se o nosso filho já tinha nascido”, completa o ator.

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