A outra face da infância

Laranjinha e Acerola não têm o perfil de ídolos infantis. Longe do sucesso de apresentadores e cantores que costumam arrastar multidões, convivem com o tráfico de drogas e a falta de dinheiro para concretizar seus mínimos desejos.

Mas os dois garotos de 13 anos, moradores de um morro do Rio de Janeiro, são as grandes estrelas de uma das atrações que a Globo preparou para comemorar o Dia da Criança. Suas histórias estarão em “Cidade dos Homens”, microssérie que a emissora exibe entre os dias 15 e 18 de outubro, às 23 h. Embora não se possa dizer que a atração, produzida pela O2 filmes, de Fernando Meirelles, seja voltada para o público infantil, o diretor de núcleo Guel Arraes destaca a relação com a data de veiculação. “A Globo queria uma ligação com o jornalismo, que vai apresentar matérias sobre a realidade das crianças brasileiras na mesma semana”, explica.

Outra novidade em “Cidade dos Homens” é a formalização da parceria da Globo com produtoras independentes. Embora a emissora já viesse fazendo algumas experiências, como o quadro que Regina Casé apresentou no “Fantástico”, produzido pela Pindorama , esta é a primeira vez, por exemplo, que o nome da produtora aparece nos créditos. “A iniciativa da Globo é exclusivamente como exibidora”, destaca Guel. Autor do projeto, Fernando Meirelles comemora a oportunidade de investir em produtos inovadores. “São episódios estranhos dentro da tevê. Pelo contexto das histórias, pelos atores… Essa abertura é muito saudável”, avalia o diretor do polêmico longa-metragem “Cidade de Deus”.

Do filme

As relações entre a microssérie e o filme, que já ultrapassou a marca de 1,5 milhão de espectadores, não se resumem ao diretor. Laranjinha e Acerola são personagens do livro “Cidade de Deus”, de Paulo Lins, que deu origem ao referido filme. E seus intérpretes são Darlan Cunha e Douglas Silva, que vivem Filé com Fritas e Dadinho no longa. Estarão lá também a co-diretora Kátia Lund e o ambiente dos morros do Rio de Janeiro ? as cenas foram rodadas nas comunidades da Rocinha e Dona Marta, ambas na Zona Sul carioca. As novidades ficam por conta de Regina Casé, Jorge Furtado, Paulo Lins, César Charlone e Guel Arraes, que atuam também como roteiristas e diretores.

Cada um dos quatro episódios tem história independente e marca a estréia de alguns profissionais na direção, como a atriz Regina Casé e o escritor Paulo Lins. Regina divide o episódio “Uólace e João Vítor” com Fernando Meirelles. A história, retirada do livro homônimo de Rosa Amanda Strausz, foi guardada durante anos pela atriz, que esperava fazer dela um filme ou uma minissérie. Mas a idéia de Fernando a conquistou, e Uólace acabou ganhando o apelido de Laranjinha. “O nosso único trabalho é revelar os atores”, valoriza Regina, destacando que o fato de viverem uma realidade muito próxima da que interpretam não diminui o talento dos garotos. Já Paulo Lins, que dirige com Kátia Lund os episódios “O Cunhado do Cara” e “Correio”, não pretende repetir a experiência do “estágio de direção”. “Diretor rala como um condenado. Prefiro ficar em casa, escrevendo livros para dar base a isso tudo”, diverte-se.

“Cidade dos Homens” é um desdobramento de “Palace II”, exibido no final de 2000 na série “Brava Gente”. Fernando Meirelles conta que estava ensaiando o elenco de “Cidade de Deus” quando recebeu o convite de Guel Arraes para dirigir o episódio. Ele resolveu que só aceitaria se pudesse levar junto os atores do filme. “A Globo bancou o nosso ensaio”, brinca o diretor. Terminado o filme, o projeto volta à tevê. “A O2 fez a melhor parceria entre tevê e cinema que já se viu no Brasil”, derrama-se Guel. Regina Casé é outra entusiasta do programa. “Mais importante que a produção independente é o trânsito entre a tevê e o que está fora dela”, avalia. Embora Guel e Fernando neguem qualquer intenção de dar continuidade ao projeto, o contrato que a O2 assinou com a Globo prevê a realização de novos produtos. “Já estamos orçando um segundo projeto. Mas ainda é cedo para falar dele”, despista Fernando Meirelles.

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