A luta pelo amor em “As Flores de Kirkuk”

As Flores de Kirkuk começa por uma das cenas famosas da nossa época, a derrubada da estátua de Saddam Hussein após a invasão norte-americana ao Iraque. É uma cena interessante, pois, como todos sabem, a estátua de metal ficou presa pelo pé, como se o ditador se recusasse a apear do poder.

A sequência, tirada do noticiário de TV e divulgada no mundo todo, serve de prólogo a essa história de ficção ambientada ainda durante o regime de Saddam. Na verdade, é um love story político, que tem como protagonista um casal de médicos formado na Itália (o filme é coprodução italiana), a iraquiana Najla (Morjana Aloui) e o curdo Sherko (Ertem Eser). Sherko deixou a Itália e voltou para seu país. Mandou uma carta a Najla pedindo que ela o esquecesse. Ela faz o contrário, e vai atrás do homem que ama.

Como o espectador verá, a ida de Najla ao Iraque é o mergulho em um pesadelo pintado com as cores da limpeza étnica levada por Saddam contra os curdos, intolerâncias variadas, corrupção, uso de tortura e armas químicas, desprezo pela condição feminina e pela vida em geral. A ocidentalizada Najla sente o peso de considerar-se uma estranha em seu próprio país. Ao mesmo tempo, o contato com Sherko e com sua luta a conduzem à lenta e dolorosa reaproximação com suas raízes.

De início a história parece um pouco ingênua, mas logo a impressão é abandonada. O que temos é um caso de amor, porém levado numa circunstância histórica das mais desfavoráveis. Nesse ponto o filme não difere de outros tantos feitos sobre o mesmo tema e existe até certa ressonância, em algumas passagens, a Por Quem Dobram os Sinos, de Ernest Hemingway, filmado por Sam Wood em 1943. Mas, é claro, a referência maior é a Romeu e Julieta, o casal apaixonado que precisa enfrentar a inimizade das famílias. Só que aqui os Capuletto e os Montecchio são simplesmente duas nações que se detestam, sendo que uma, mais poderosa, humilha e deseja destruir a outra. É uma das tragédias contemporâneas, a dos curdos, como a dos palestinos. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.

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