A disputa por atores para a teledramaturgia do SBT, Record e Band

Com a produção de teledramaturgia em emissoras como Record e Band, uma "novela" se desenrola nos bastidores. Até há pouco com mercado de trabalho restrito à Globo e, em menor escala, SBT, os atores agora são disputadíssimos. Tanto que a Globo mudou a política de contratos: em vez de contratos por obra, tem preferido um vínculo mais longo. Além disso, tem antecipado a renovação dos acordos com nomes de peso. A Record, que exibe Essas Mulheres, tem duas tramas em pré-produção e começa a formar um banco de elenco. Na Band, de Floribella, Herval Rossano orquestra uma série de especiais já visando uma segunda novela, que tem gravações previstas para janeiro. E o SBT também anunciou para 2006 o segundo horário de produções próprias.

"A concorrência é benéfica para todos, inclusive para a Globo", avalia Sílvio de Abreu, às voltas com a escalação de Belíssima, próxima das oito. "Tive de esperar o Leopoldo Pacheco acabar o trabalho na Record, o Lima Duarte terminar um filme e a Irene Ravache se convencer a fazer novela de novo. Coisas normais", diverte-se o autor. Para Fernando Rancoletta, produtor de elenco do SBT, sempre foi "normal" ligar para atores que apareciam em trabalhos na Globo antes de fechar um elenco. No caso de Os Ricos Também Choram, ele já sentiu a diferença. "Vários atores que só fechavam por obra estão contratados", conta Fernando.

A situação é bem-definida por Lauro César Muniz, que inaugura o segundo horário da Record com Cidadão Brasileiro. "A Globo teve uma reação natural, está recontratando, oferecendo melhores salários e segurando o elenco", constata. O autor fez uma lista com três opções para os principais personagens, incluindo novatos, atores que já passaram pela Record e contratados da Globo. "É difícil tirar um ator de primeiro escalão deles, mas não impossível", insinua.

 Mas as trocas têm se mostrado vantajosas sobretudo para atores que ainda não tinham este status. Roger Gobeth e Juliana Silveira, por exemplo, foram alçados a protagonistas – ela já havia estrelado Malhação – e ganham cerca de R$ 30 mil mensais. Produtora de elenco de Floribella, Ciça Castelo insiste que os atrativos são outros. "Importa mais o trabalho que o salário. A Juliana ficou satisfeitíssima por cantar e dançar, o que, para ela, é o conceito de uma atriz completa", argumenta. Já Herval Rossano enfatiza a questão financeira ao lamentar que a Band ainda não possa investir num banco de elenco. "É difícil encontrar bons atores disponíveis. A oferta de um contrato longo é sempre melhor que um trabalho por obra certa", raciocina o diretor.

Disputa interna

Mas o pior é quando a "concorrência" ocorre dentro da própria emissora. Na Globo, é comum que autores e diretores "disputem" seus favoritos, deixando-os "reservados" por meses. Autora da minissérie JK, Maria Adelaide Amaral acaba de "perder" Ana Paula Arósio e Leandra Leal para a futura novela de Manoel Carlos. "Não disputo. Aceito o que o universo dá e torço para que a decisão seja melhor para as duas", minimiza Maria Adelaide, que insiste não ter muitos problemas para escalar seus elencos. "A maior parte dos atores, sobretudo os bons, querem trabalhar comigo. Talvez por ser uma autora de teatro", gaba-se. Sílvio de Abreu também não admite ter muitas dificuldades. Quando não consegue o ator que quer, no entanto, muda o personagem. "Gosto de fazer personagens sob medida, porque eles só existem através dos atores", filosofa.

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