Um dia inesquecível para Farfus

?A última volta não acabava nunca?. Augusto Farfus Júnior passou os últimos 3,695 quilômetros da segunda prova de domingo pelo Campeonato Mundial de Turismo da FIA (WTCC) pensando em tudo que passou na sua carreira – que teve um ponto alto no GP de Curitiba.

Na sua casa, com sua torcida, o piloto curitibano conseguiu dar tudo que queriam dele ontem, a vitória. ?Eu não tenho palavras para explicar?, comentou Farfus, na entrevista coletiva regulamentar. ?É fantástico?, completou.

Conversando com os jornalistas brasileiros, o piloto paranaense reconheceu que teve um dia especial. ?Quando eu vi que tinha vantagem sobre os outros pilotos, levei o carro até o final. Mas as curvas não aparecem, o tempo passa e a corrida não termina. E com o câmbio normal, eu fazia as trocas lentamente, como se estivesse na auto-escola?, brincou Augusto Farfus, ainda com as marcas da corrida -com o forte calor, o habitáculo do carro chega a uma temperatura de mais de 70 graus.

Ele não deixou de agradecer aqueles que sempre acreditaram nas suas qualidades. ?Nessa hora, eu não posso esquecer da minha família, dos meus pais, da minha irmã, da minha namorada?, disse. E ele mostrou isso ao mundo inteiro – no momento da bandeirada, a câmera dentro do carro captou o sinal da cruz e a lembrança da namorada, ao tirar as luvas e mostrar o anel de compromisso.

Além disso, ele percebeu todo o incentivo da torcida curitibana. ?Estava muito concentrado, e então não ouvia, mas eu podia ver a festa que acontecia nas arquibancadas. E eu dedico a vitória a todos que vieram aqui para torcer?, resumiu Farfus.

O curitibano passou uma semana de tensão e expectativa. Foi um período de pressão involuntária – mesmo que não quisessem, todos que falavam com ele demonstravam confiança total na vitória. ?As pessoas falavam comigo e pediam. ?Vê se ganha no domingo, hein??, contou Augusto Farfus, que ao mesmo tempo sabia que todos que o pressionavam também eram torcedores, que certamente estavam no autódromo domingo a ?empurrá-lo? para a vitória.

Apesar de estar começando na equipe BMW, Farfus preferiu manter seu estilo nas duas provas. ?Eu não conhecia as reações do carro durante a prova, mas não mudei. No WTCC, você tem que atacar sempre, ousar para conseguir os resultados?, afirmou o piloto paranaense, que demonstrou isso na largada, quando arriscou tudo e pulou (com a ajuda da batida de Robert Huff) de sexto para segundo. Na segunda volta, outra demonstração de força, passando Yvan Muller e assumindo a ponta para não perder mais.

Depois da comemoração, Augusto Farfus Júnior pensa na segunda etapa do WTCC, dia 6 de maio, em Zandvoort, na Holanda. ?Se aqui foi difícil, lá será ainda mais?, disse o piloto local, que agora sabe que sofrerá nova pressão. ?Agora, todos exigirão mais vitórias e o título?, finalizou.

Festa brasileira e domínio total da BMW

Era tudo que a torcida queria. Augusto Farfus Júnior fez a festa local ao vencer a segunda etapa de domingo, no Autódromo Raul Boesel. Ele fechou a etapa empatado com Jörg Müller (o vencedor da primeira prova) e Andy Priaulx, mas com o gosto da vitória em casa, para mais de 33 mil pessoas.

Na primeira prova, aconteceu o acidente mais grave da etapa – Yvan Muller forçou uma ultrapassagem e tocou em Nicola Larini, que acabou virando passageiro do próprio carro. O Chevrolet do italiano acertou Pierre-Yves Corthals, James Thompson e Luca Rangoni. O ?boliche? fez com que o safety-car ficasse na pista por cinco voltas.

Quando foi dada a bandeira verde, Jörg Müller tomou conta da corrida, abrindo vantagem enquanto Farfus e Andy Priaulx lutavam pela segunda posição. A superioridade dos carros alemães era tanta que eles abriram rapidamente vantagem sobre Gabriele Tarquini, da Seat, que ficou em quarto, como que liderando uma prova à parte.

Na segunda corrida, Farfus largou em sexto, e na primeira curva já era o segundo. Logo depois, o curitibano não tomou conhecimento de Yvan Muller (que largara na pole) e assumiu a ponta para não perder mais, inclusive abrindo vantagem.

Enquanto isso, Andy Priaulx e Jörg Müller passavam como queriam pelos rivais, chegando na segunda e na terceira posições. Mais uma trinca da BMW, mas com a diferença fundamental para a torcida local, a liderança de Augusto Farfus, que ?desfilou? pela pista até receber a bandeirada final. Visivelmente emocionado, o piloto paranaense comemorou no pódio com a bandeira do Brasil.

No final das duas etapas, os três principais pilotos da BMW (e os três melhores do ano passado) ficaram empatados com 16 pontos, seis na frente de Gabriele Tarquini.

Prova conhecida do público, pilotos nem tanto

A sensação de novidade passou. A segunda passagem do Campeonato Mundial de Turismo da FIA (WTCC) por Curitiba mostrou que o público está se habituando à segunda competição mais importante do automobilismo. Mas, ao mesmo tempo, a categoria ainda não conseguiu (com algumas exceções) fazer com que os pilotos se tornem, como na Fórmula 1, ?superestrelas?. Eles ainda podem andar sossegados, mesmo no ambiente agitado do paddock do Autódromo Internacional de Curitiba.

A chegada a Pinhais foi complicada. Nas imediações do AIC, filas de carros eram formadas, enquanto muitos torcedores desciam dos ônibus para assistir às corridas (além das duas do WTCC, as provas do Brasileiro de Marcas e da Copa Clio). Ao contrário do ano passado, a torcida aparecia com camisas amarelas, faixas e bonés alusivos ao curitibano Augusto Farfus Júnior. Não faltaram cornetas e outros adereços que davam ao autódromo Raul Boesel uma cara de estádio de futebol.

Se nas arquibancada as cores eram o verde e o amarelo, nos camarotes e no paddock predominavam o azul e o branco – completando as cores da bandeira do Brasil. Mas, na verdade, o azul não era tão anil, era o marinho da BMW, equipe mais forte do WTCC e que tem Farfus entre seus pilotos. A estrutura dos alemães surpreendia pelo tamanho, dando a impressão que o Mundial de Turismo pode ser totalmente dominado por eles em 2007, coisa que eles ainda não conseguiram na F1.

Durante a visitação dos boxes, que acontece em todas as provas do WTCC e leva muita gente para conhecer de perto carros e pilotos, as atrações eram as mesmas de 2006 – os bólidos, fossem quais fossem, e as ?estrelas? da categoria no Brasil. A força do Mundial de Turismo, aqui, é intimamente ligada ao carisma de Augusto Farfus e à esportividade de Alessandro Zanardi, de longe o mais paparicado dos pilotos.

Enquanto isso, outros ?botas?do campeonato passavam despercebidos pelo paddock. Um deles, o baixinho espanhol Felix Porteiro, da BMW, é uma das esperanças da equipe alemã. Mais surpreendente foi ver o atual bicampeão da categoria, e grande favorito ao título, o inglês Andy Priaulx, passando tranqüilo pelos jornalistas e fãs. Quem o visse não diria que ele é o grande vencedor do WTCC, e que ele é o grande chamariz do mundial na Europa.

Cidade confirmada no mundial do ano que vem

O contrato será cumprido e Curitiba continuará sendo a sede brasileira do Mundial de Turismo da FIA. Além disso, os organizadores do campeonato confirmaram que o Brasil receberá a prova de abertura novamente em 2008. Segundo o diretor-geral, o italiano Marcello Lotti, as corridas de domingo em Curitiba foram ?fantásticas?.

Lotti acompanhou toda a prova ao lado do prefeito Beto Richa, que confirmou a aprovação internacional a Curitiba. ?Os diretores da Federação Internacional de Automobilismo estão satisfeitos com a organização e com a hospitalidade da população. Eles gostaram de Curitiba?, disse o prefeito, também satisfeito com a movimentação na capital – tanto de pessoas quanto de dinheiro. O sucesso do WTCC animou a Prefeitura a buscar novas parcerias para trazer outras competições de automobilismo para a cidade.

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