Cara das selfies

Goleiro Weverton virou xodó da torcida rubro-negra

Na hora em que os refletores da Arena da Baixada se apagaram, os jornalistas nem reclamaram. As poucas luzes acesas serviam para que os repórteres de jornal encerrassem seu trabalho e para que a turma das rádios finalizasse suas transmissões. Mas e as mais de cem pessoas que se acotovelavam em um canto do estádio? Elas precisavam da iluminação do estádio para fazer as tão famosas selfies, as fotos usando a câmera frontal dos celulares. Aí você pode se perguntar: mas por que era preciso tirar foto naquele lugar e mesmo no escuro? Era porque Weverton estava ali.

Em um Atlético carente de ídolos, em que os jogadores ficam encobertos pela figura imperial do presidente Mário Celso Petraglia e pela decisão dele de impedir as entrevistas (à exceção das detentoras dos direitos de transmissão das competições), Weverton se impôs como o jogador mais adorado pelos torcedores. Carismático sem ser marqueteiro, o camisa 12 do Furacão passou de dúvida a realidade em dois anos, de goleiro inseguro em 2012 ao personagem das selfies na Arena em 2014.

Por sinal, fazer fotos com os jogadores na Baixada é uma tarefa até divertida. Se você contar com a boa vontade dos boleiros, dá para fazer a festa. As cadeiras ficam perto do campo, e antes da partida – ou depois – é possível tirar fotos com todo mundo. Robinho, por exemplo, foi bastante assediado. Mas os atleticanos, claro, foram os mais procurados nesse meio ano do Atlético de volta para casa. E entre eles, Weverton nadou de braçada.

E pensar que em 2012, naquele dramático retorno do Atlético para a Série A, o goleiro não inspirava muita confiança. Chegou no decorrer da temporada, assumiu o posto de titular durante a Segundona, mas muitos pediam os jovens Rodolfo (que depois foi punido por uso de cocaína) e Santos. Aos trancos e barrancos, Weverton foi encontrando seu espaço. Falhou em algumas partidas, brilhou em outras, foi peça constante naquela disputa da Série B que terminou em êxito.

No ano seguinte, a explosão. Weverton cresceu com o Atlético. No ritmo do ‘eu te sigo em toda parte’, o goleiro passou a ser um dos principais atletas do time. Estava atrás do ídolo Paulo Baier e dos emergentes Marcelo e Ederson nas graças da torcida, mas dentro de campo resolvia. Foi importantíssimo, tanto no vice-campeonato da Copa do Brasil quanto no terceiro lugar do Campeonato Brasileiro. Já não era dúvida.

Mas passou a ser a certeza em 2014. Não era apenas o goleiro. Naquela camisa 12 a torcida depositava muitas de suas esperanças, e os jogadores tinham respeito e admiração pelo cara que passou a ser capitão do time. Se o Furacão chegou à fase de grupos da Libertadores, Weverton tinha que ser reverenciado pelo pênalti que defendeu na decisão contra o Sporting Cristal. E se chegou com chances ainda na última rodada, era por causa das defesas do arqueiro.

Weverton crescia dentro do Atlético, era ídolo e era líder. Por isso foi uma surpresa gigante quando ele foi afastado. Primeiro saiu até do grupo que viajava ou concentrava, depois virou reserva. “Não entendi. Foi uma surpresa. Mas ninguém me explicou quando me colocaram para jogar, assim como não me explicaram agora porque me tiraram. Respeito a decisão. É continuar meu trabalho. Tenho o maior respeito pelo clube. Sei que foi difícil conquistar o carinho da torcida. Mas tenho que respeitar cada decisão. É trabalhar. Quando o clube precisar de mim, vou estar pronto para ajudar”, disse, depois da estreia do Atlético no Brasileiro. Parecia o fim de uma relação. Mas era apenas o começo.