Esposas acompanham líderes do Brasil 1

Melbourne, Austrália (AE) -"Hoje o Torben acordou para ganhar a regata, eu sinto quando isso vai acontecer." Infelizmente, dessa vez a previsão de Andrea Grael, mulher do comandante do Brasil 1 há 18 anos, não deu certo. "Mas foi por pouco", lamentou ela. Na regata costeira realizada em Melbourne, válida pela Volvo Ocean Race, ela sabia que o resultado era importante, depois de vários problemas com o barco brasileiro. Andrea só não esperava uma outra pane que fez o veleiro perder a liderança e terminar na quinta colocação.

Durante a disputa que durou mais de duas horas, a mulher do maior medalhista olímpico brasileiro explicava as regras e as manobras para as namoradas e esposas dos outros tripulantes do Brasil 1. Mãe de dois filhos, pequenina e sempre falante, a também velejadora Andrea chega a mudar a expressão no rosto para falar dos feitos do marido. "Em Atenas (2004), só de ouvir o jeito sereno e determinado dele falar eu sabia que ia dar tudo certo. Pelo estado de espírito dá pra saber que ele levantou para vencer", revelou.

Apaixonada pelo mar, ela conta que cuidar da casa, dos filhos, da profissão, das atividades no Iate Clube de Niterói, onde já foi até diretora de vela e deixou o cargo a pedido do marido, tomam muito tempo e ajudam a amenizar a saudade. "O que vale é a qualidade do tempo que se passa junto", explicou.

Em Melbourne, a esposa do comandante confessa que se pudesse ficaria o dia todo acompanhando o trabalho de Torben e da equipe nos contêineres que transportam toda a parafernália do Brasil 1. "Eu adoro ver eles trabalhando, acompanhar todos os detalhes, mas muitas vezes não dá", lamenta.

Em um dos passeios na Austrália, Andrea Grael, acompanhada das mulheres de outros tripulantes do barco, foi ao zoológico local. "Foi o máximo, ela nos explicou tudo e nos divertimos bastante", conta Dione Sborz, casada com Horacio Carabelli, velejador e um dos responsáveis pela construção do veleiro brasileiro. "Estamos nos aproximando cada vez mais. Quando aconteceram os problemas no barco, todas as esposas se falaram e agora, por causa das viagens, trocamos e-mails e de alguma maneira fazemos companhia uma para a outra", revela Dione, que mora em Florianópolis com o marido e três filhos pequenos.

Simone Adler é outra que sabe o quanto é importante apoiar as idéias e estar junto nas alegrias e nas decepções. Casada há 16 anos com o diretor do projeto, Alan Adler, viu o sonho do Brasil 1 nascer e virar realidade. Comemorou, a menos de um mês, o segundo título mundial do marido na vela e logo depois sofreu junto com os três filhos quando o pai teve que viajar às pressas para tentar solucionar o mais rápido possível os contratempos do veleiro brasileiro. "As crianças sentem muito a ausência, mas se orgulham do pai e eu tento fazer eles entenderem o que está acontecendo", explica.

As três, Andrea, Dione e Simone, sabem que a regata de volta ao mundo não está nem na metade. Porém, elas garantem desde já que vale a pena a saudade, solidão, a responsabilidade de cuidar da casa e todo o sacrifício. Dione vai mais longe. "Esses períodos de solidão fazem bem até para o casamento. Hoje, eu não ligo para certas coisas que me incomodavam e ganham outros valores, outra dimensão. Nem ligo mais se o Horacio é desorganizado e deixa a escova de dente largada em cima da pia", brinca.

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