Especial Baixada 100 anos

Em 2014, a Arena da Baixada foi palco da Copa do Mundo

Satisfeita em ter como casa com um dos estádios mais modernos do Brasil, a torcida atleticana mal sabia que o caldeirão rubro-negro se transformaria em um dos mais belos palcos do futebol brasileiro. Único, com um modelo de gestão diferenciado e ousado comandado pelo presidente do Atlético, Mário Celso Petraglia, mas recheado de polêmicas, o estádio Joaquim Américo Guimarães se tornou, em 2014, no ano em que completou um século da sua inauguração, uma das sedes da Copa do Mundo do Brasil e que recebeu quatro partidas do principal torneio de futebol do Mundo.

Antes do Brasil ser indicado como sede do Mundial e da Fifa escolher as doze sedes da Copa, a reforma e ampliação da Arena da Baixada causou muitas discussões. Depois do Governo do Estado propor a construção de um novo estádio no local onde está localizado o Pinheirão, Mário Celso Petraglia, em agosto de 2009, já depois de Curitiba ter sido escolhida como uma das sedes do torneio, sugeriu a construção da Arena Atletiba, quando propôs que o Coritiba vendesse o Couto Pereira para pagar a reforma do Joaquim Américo e, assim, os dois principais times da capital paranaense teriam um estádio de alto nível para usar. A proposta, no entanto, foi recusada.

Em 2010, a reforma e ampliação da Arena da Baixada foi orçada em R$ 184,6 milhões, com previsão de entrega para dezembro de 2012. Ali começavam as primeiras das muitas promessas não cumpridas no processo de reconstrução do estádio atleticano. Na ocasião, se inicia também a discussão da injeção de recursos públicos na remodelação do Joaquim Américo e garantia dos poderes municipal e estadual que os investimentos não passariam em obras no entorno do estádio atleticano.

No ano seguinte, o grupo liderado pelo presidente Mário Celso Petraglia, que no final do ano seria eleito mandatário maior do Atlético, consegue aprovação dos conselheiros para a reforma da Arena da Baixada. A proposta da construtora OAS, defendida pelo então presidente Marcos Malucelli, foi rechaçada pelos conselheiros, que viram na gestão própria do clube, com participação dos poderes estadual e municipal, a projeção de um futuro grandioso para o Furacão depois da remodelação do caldeirão.

Nos bastidores, a partir de 2012, começa uma discussão sem fim sobre a participação dos poderes estadual e municipal na reforma da Arena da Baixada, que mais tarde seria definida na venda de potencial construtivo e na assinatura de um acordo tripartite, onde Atlético, Prefeitura de Curitiba e Governo do Estado se responsabilizariam por um terço cada do valor orçado da obra de R$ 184,6 milhões. Um empréstimo de R$ 131,1 milhões junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), solicitado pela Fomento Paraná, é aprovado. Porém, os recursos só foram liberados depois que o contrato tripartite foi formalizado e depois que a Câmara Municipal de Curitiba aprovou o reajuste do potencial construtivo, com direito a presença de dirigentes do Furacão e membros da torcida Os Fanáticos.

No ano passado, quando o estádio teria que ser reinaugurado, muitos entraves ainda tomavam conta da gestão da obra do estádio atleticano. Heróis da resistência, as últimas duas residências no entorno do estádio foram desapropriadas pelo poder municipal e mais um entrave estava sendo resolvido para que a Arena da Baixada continuasse sendo um dos palcos da Copa do Mundo. Além disso, o aumento no custo das obras, que no final chegou a R$ 330,3 milhões, foi bastante discutido. Enquanto o Atlético exigia que o valor final fosse dividido igualmente com a Prefeitura e o Governo do Estado, os poderes estadual e municipal garantiram que qualquer valor adicional da obra seria bancado pelo clube, e assim aconteceu.

Marcelo Andrade/AGP
Operários que trabalharam na Arena fizeram protesto por não receber pelo trabalho feito.

Faltou grana

Durante o período de reforma e ampliação da Arena da Baixada, sobre no ano passado, a CAP S/A, criada para gerenciar as obras no estádio atleticano, precisou lidar com situações embaraçosas. O atraso nas obras e no repasse dos recursos oriundos dos financiamentos tomados no BNDES e na Fomento Paraná causou a inadimplência do Atlético com empresas que prestavam serviços no canteiro de obras do Joaquim Américo. Sem receber, os funcionários, em pelo menos três oportunidades fizeram grandes paralisações e atrasaram ainda mais no andamento das obras.

Além disso, apesar de não apresentar nenhum acidente durante os mais de dois anos de remodelação do estádio, o Ministério Público do Trabalho chegou a interditar as obras por falta de segurança oferecida pelo clube aos operários. Em meio a todo esse imbróglio financeiro, o estádio, que deveria ter ficado pronto no final de 2013, ainda tinha aspecto de canteiro de obras e causava grande preocupação ao clube, aos representantes do Estado e do Município, e principalmente à Fifa e ao Comitê Organizador Local (COL).

Ultimato

Na segunda quinzena de janeiro, o consultor de estádios da Fifa, Charles Botta, ao realizar visita técnica na Arena da Baixada, não gosta de ver o atraso que norteia as obras do estádio e avisa a entidade máxima do futebol mundial sobre o atual panorama do andamento da reforma do estádio. Uma semana depois, em entrevista coletiva, o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, deu um ultimato aos organizadores do Mundial em Curitiba e ameaçou excluir a capital paranaense da rota da Copa do Mundo caso as obras não ganhassem um ritmo mais acelerado a partir daquele momento.

Em conjunto com representantes do Estado, do Município, da CAP S/A, do COL e do Ministério do Esporte, foi criado um comitê para gerenciar as obras e cuidar do fluxo financeiro e das prioridades na fase final de reforma da Arena da Baixada. A partir do dia 21 de janeiro, em um mês, essa comissão conseguiu recuperar o tempo perdido e, no dia 18 de fevereiro, Valcke confirmou que Curitiba estava mantida como sede da Copa do Mundo e que o estádio deveria estar pronto até o dia 15 de maio.

Albari Rosa/AGP
Secretário da Fifa chegou a dar ultimato.

Logo depois, o clube confirmou para março a realização do primeiro jogo-teste da Arena da Baixada com capacidade de dez mil torcedores. Com a utilização das retas inferiores dos setores Getúlio Vargas e Brasílio Itiberê, o estádio atleticano é testado no empate sem gols entre Atlético e J. Malucelli, realizado no dia 29 de março.

Evoluindo cada vez mais, o estádio atleticano, em 14 de maio, um dia antes do prazo estipulado pela Fifa, com muitos detalhes a serem terminados e com alguns problemas detectados, recebe o primeiro evento-teste organizado pela entidade máxima do futebol mundial. Para 30 mil pessoas, a Arena da Baixada recebeu o duelo entre Atlético e Corinthians, vencido pelo clube paulista por 2×1, de virada. O primeiro gol do novo estádio foi anotado por Marcelo, revelado pelo clube, ainda no primeiro tempo de partida.

Correndo contra o tempo, o Atlético finalizou os últimos detalhes dias antes do primeiro jogo da Copa do Mundo, já dentro do período de exclusividade da Fifa. Apesar de todas as polêmicas e da insegurança criada quanto a realização dos jogos na Arena da Baixada, o estádio atleticano foi um dos melhores palcos do Mundial em avaliação realizada pela Fifa nas quatro partidas que foi sede do torneio. Para o Atlético, o novo Joaquim Américo só foi reaberto no dia 20 de julho, na vitória por 2×0 sobre o Criciúma, mas com os portões fechados, já que o clube ainda cumpria a pena imposta pelo STJD pelos incidentes ocorridos em Joinville, no duelo contra o Vasco, pela última rodada do Brasileirão do ano passado.

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