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Coronavírus difere da zika em 2016 e vira problema olímpico

Ambas explodiram alguns meses antes da Olimpíada, foram consideradas emergências de saúde pública, de preocupação internacional, e tinham casos concentrados numa localidade próxima à sede dos Jogos. Mas as semelhanças entre as epidemias de zika e de covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus, param por aí.

Diferença marcante é que a zika, assim como dengue, febre amarela e chikungunya, quase sempre requer um mosquito para ser transmitida (pode haver transmissão sexual, mas é mais raro).

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As consequências da doença podem ser graves, como microcefalia em bebês de mães infectadas durante a gravidez. De 2015 a 2019 foram 18 mil notificações de casos de crianças cujo desenvolvimento pode ter sido afetado pelo vírus e 1.291 óbitos, de acordo com o Ministério da Saúde.

A Olimpíada do Rio aconteceu no inverno do hemisfério Sul, quando o número de insetos é menor, o que contribuiu para arrefecer os ânimos à época. Houve poucas desistências de atletas que alegaram esse motivo, na maioria dos casos de golfistas, cujo esporte que não tem nos Jogos seu principal torneio.

O que também ajudou foi a possibilidade de evitar a infecção ao se eliminar locais de reprodução do inseto, usar repelentes, colocar telas nas janelas, usar mosquiteiros nas camas, entre outros.

“O Aedes não está em todos os países. A chance de um arbovírus [vírus transmitido por um artrópode] causar uma pandemia é quase zero”, afirma Helder Nakaya, professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP.

Pelo pouco que se sabe a respeito do novo coronavírus, tudo tende a ser pior para a Olimpíada de Tóquio-2020.

O presidente do Comitê Olímpico Internacional, Thomas Bach, já disse que não trabalha com a hipótese de cancelamento ou adiamento do evento, mas a cada dia cresce o número de eventos afetados.

O Sars-CoV-2 (nome padronizado do novo coronavírus) se dissemina pelo ar, por meio da respiração, tosse e espirro de pessoas com o patógeno. Qualquer ambiente fechado com uma pequena aglomeração se transforma numa fonte de enorme risco de contágio.

O vírus da gripe, doença que guarda muitas semelhanças com a covid-19, incluindo o modo de transmissão, viaja por mais de dois metros com facilidade após um espirro de uma pessoa infectada e pode permanecer por horas no ar, em gotículas. Supõe-se que a comportamento do Sars-CoV-2 seja semelhante.

Esses vírus respiratórios se espalham com mais facilidade no frio. Isso se dá tanto por conta das aglomerações quanto pela menor incidência de luz solar, que é capaz de destruir o patógeno, diz Amílcar Tanuri, professor da UFRJ. A temperatura mais fria também acelera a replicação do vírus no trato respiratório.

Como a Olimpíada de 2020 acontece no verão do hemisfério Norte, há esperança de que a corrida de barreiras imposta pelo novo coronavírus no país asiático já esteja na reta final quando os Jogos estiverem para começar.

“No momento, não tem como dizer que um lugar ficará sem o vírus. Não tem para onde mudar a Olimpíada, talvez adiar, mas ainda é cedo para dizer. Há pessoas fazendo o estudo de risco, técnicos da OMS e do Japão”, diz Luciana Costa, professora da UFRJ.

Os pesquisadores se dividem com relação ao otimismo. “O Japão está agindo agressivamente para conter o coronavírus: fecharam escola, fizeram a barbaridade de segurar o navio Princess Diamond para não deixar o pessoal contaminado entrar no país. A essa altura, o vírus já está circulando fora da Ásia. Dificilmente haveria um local sem o vírus”, diz o biólogo e pesquisador Átila Iamarino, do canal Nerdologia, no YouTube.

“Mesmo que a Olimpíada fosse transferida para esse local, ninguém iria querer receber um monte de gente de todo o mundo, muitas delas contaminadas”, completa.

Até o momento, entre os países onde o coronavírus já chegou, o Japão é onde a epidemia avança mais devagar.

“Se até no máximo no final de abril o número de pessoas infectadas não for drasticamente reduzido, os Jogos têm que ser cancelados. E se houver muitos casos no Japão, não tem como não cancelar. Se não o fizerem, penso que vai ser um boicote muito grande”, afirma Eduardo Flores, da UFSM (Universidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul).

O epidemiologista e professor da FGV-Rio Eduardo Massad calculou o risco de se pegar zika durante a Olimpíada no Rio pouco tempo antes daqueles Jogos. O resultado: algo na ordem de 3 casos para cada 100 mil pessoas.

A situação no Japão ainda é nebulosa: não se sabe se existe transmissão sustentada da doença. “Enquanto a curva não começar a crescer, a pegar ímpeto, é difícil calcular a probabilidade de contágio.”

“Se for ver a curva epidemiológica da China, ela atingiu o pico mais ou menos no final de janeiro e desde então vem caindo vertiginosamente. Ela tem uma largura de dois, três meses. Se projetarmos isso para o Japão, mesmo que essa curva esteja começando a crescer agora, na Olimpíada estará na descida”, especula.

O número de casos confirmados de covid-19 beira os 120 mil no mundo, com mais de 4.200 mortos até terça (10).

CLASSIFICATÓRIOS E EVENTOS-TESTES

O surto mundial de coronavírus tem afetado diretamente o esporte às vésperas da Olimpíada de Tóquio.

Com a cerimônia de abertura marcada para o dia 24 de julho, os Jogos por enquanto não correm risco de serem adiados ou cancelados, de acordo com o Comitê Olímpico Internacional.

Etapas classificatórias e eventos-testes, no entanto, já passaram por esses problemas. O treinamento de voluntários para o evento também precisou sofrer alteração em seu cronograma.

Epicentro do surto, a China teve adiado o GP de Xangai da F-1. A maratona de Tóquio foi disputada sem a presença de público e atletas amadores.

Na Europa, o principal foco da epidemia é a Itália, que determinou a suspensão de todos os eventos esportivos até o início de abril, para evitar a aglomeração de pessoas.

Como prevenir a contaminação por coronavírus

  • Lavar as mãos com frequência/ ou utilizar álcool 70%, principalmente antes de consumir algum alimento;
  • Utilizar lenço descartável para higiene nasal;
  • Cobrir nariz e boca quando espirrar ou tossir;
  • Evitar tocar mucosas de olhos, nariz e boca, higienizar as mãos após tossir ou espirrar;
  • Não compartilhar objetos de uso pessoal, como talheres, pratos, copos ou garrafas;
  • Manter ambientes bem ventilados, evitar contato próximo com pessoas que apresentem sinais ou sintomas da doença;
  • Evitar contato próximo com animais selvagens e animais doentes em fazendas ou criações;
  • Pessoas com sintomas de infecção respiratória aguda devem praticar etiqueta respiratória (cobrir a boca e nariz ao tossir e espirrar, preferencialmente com lenços descartáveis, e depois lavar as mãos).

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Imprima esse guia em PDF com informações sobre a prevenção do Coronavírus e outras doenças respiratórias virais:

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