Com ou sem?

Estrela em camisa gera discórdia no Coritiba

A aprovação da estrela de prata na camisa do Coritiba deve ser votada pelo conselho deliberativo entre janeiro e fevereiro, mas divide opiniões. De um lado estão os que enxergam o fato como algo positivo, a superação de quem deu a volta por cima após uma situação traumática. No outro extremo ficam aqueles que consideram a conquista da Série B do Campeonato Brasileiro uma mera obrigação.

Dentro do clube, a iniciativa é vista com bons olhos. O próprio vice-presidente do Coritiba, Vilson Ribeiro de Andrade, já expressou publicamente seu posicionamento. Considerado um dos grandes líderes do árduo trabalho pela reconstrução do clube, ele é a favor da colocação da estrela de prata.

No conselho deliberativo, a questão divide opiniões. No entanto, o próprio presidente do órgão, Omar Akel, chega a falar um pouco do que representa essa conquista. Para ele, o rebaixamento no ano do centenário, com o Couto Pereira sendo palco verdadeira cena de caos, foi praticamente uma tragédia.

Akel também alerta que o estatuto do clube permite a inclusão da estrela de prata. “O próprio estatuto indica que o clube deve manter no seu fardamento símbolos e marcas de títulos e vitórias nacionais. Como o Campeonato Brasileiro da Segunda Divisão é um titulo nacional, não haveria impedimento em colocar as duas estrelas”, avalia. A proposta primeiro passará pelo conselho consultivo e depois será votada pelo conselho deliberativo.

Ainda assim, Omar Akel deixa claro: é importante mostrar que o clube recebeu uma severa punição da CBF, mandou dez jogos da Série B fora de casa e ainda assim se recuperou. “É até pedagógico mostrar para uma criança que cair não é nada, é uma coisa da vida. Mas o importante é se levantar, ficar orgulhoso por ter se levantado, conquistando uma nova posição”, reflete.

O mesmo pensamento tem o treinador René Simões. Além de responsável pelo título da Série B em 2007, ele fala com a propriedade de quem se considera um torcedor coxa-branca e chegou a escrever um livro sobre a ascensão após a queda.

Aliás, René afirma ser favorável. “O forte não é medido no número de vezes que cai, mas no número de vezes que ele se levanta. Eu ficaria com as duas estrelas, com muita honra. Caímos, assumimos a responsabilidade pelos nossos erros, progredimos e levantamos”, afirma.

Do contra

Apesar dos diversos argumentos sobre o que simboliza essa volta por cima do Coritiba, não são poucos também os que se mostram contra a colocação da estrela de prata no uniforme do clube. “Um clube como o Coritiba ficar eternizando conquista de Série B vai na contramão da história”, afirma o responsável pelo site Coxanautas, Percy Goralewski.

Para Percy, os torcedores precisam ter mais espaço para manifestar sua opinião sobre o assunto. “Entendo que poderia ser feito uma espécie de plebiscito com os sócios. No entanto, reforço a opinião que sou contra. Se entendermos que a Série B do Campeonato Brasileiro é somente uma divisão de acesso, entendo que o próprio estatuto nega”, conclui.

Torneio do Povo

Não é apenas a colocação da estrela de prata que está em debate no Coritiba. O conselho deliberativo do clube também pretende discutir a colocação de uma estrela dourada referente ao Torneio do Povo, conquistado em 1973.

Simões defende estrela pra 2007

Allan Costa Pinto
René Simões: sugerindo na condição de coxa-branca.

O técnico René Simões opinou sobre pôr ou não a estrela de prata na camisa do Coritiba. Ele não só se mostrou favorável, com,o quer também que a conquista de 2007 seja lembrada como a de 2010. Confira a entrevista:

Você é a favor ou contra a estrela de prata na camisa do Coritiba?

Eu colocaria não apenas uma, mas duas estrelas. Uma por 2007 também. Eu acho que existe um ditado pra justificar isso: o forte não é conhecido pelo número de vezes que cai, mas pelo número de vezes que se levanta. Eu ficaria com as duas estrelas, com muita honra. Caímos, assuimimos a responsabilidade pelos nossos erros, progredimos e levantamos. Quem é que pode colocar duas estrelas? Coritiba se levantou como campeão.

Alguns, que são contrários, avaliam que macularia o uniforme do clube?

Um exemplo: todos falavam mal da Copa Sul-Americana. Quando o Inter ganhou, valorizaram. Foi uma jogada inteligentíssima deles, dizendo que tinham todos os títulos. Antes, era uma copa em que colocavam times reservas, não queriam que a competição existia. Daí o Inter veio, ganhou e adotou o slogan campeão de tudo. Por que o Coritiba não pode usar a estrela prateada, até como uma questão de marketing? Posso sugerir isso na condição de torcedor coxa-branca.

Para você aquela conquista rendeu frutos de marketing e até um livro, certo?

Foi uma experiência ótima, mostrando exatamente isso. Acho que deixei um legado para o torcedor. Tentei mostrar para ele a verdade e as coisas que a imprensa e ele não têm acesso. Foi muito legal, a segunda edição do livro saiu com um número bastante expressivo de emails, demonstrando que o livro tem muitas histórias legais. Até hoje recebe comentários. Tem um menino que o pai dele era major da PM e sempre citava para ele que os maus sempre ganham dos bons. Após ler o livro ele me escreveu uma carta maravilhosa. Foi sensacional.

Mas no começo daquela campanha não foi tão sensacional assim, não é?

A torcida, na minha chegada, com 5 ou 10 minutos de jogo já vaiava. Depois, ela entendeu o espírito do time e carregava o Couto Pereira nas costas.