“Você está vendo o meio de campo? Aquele meio de campo não é grama, é um tapete! Quando eu morrer, é só levantar o círculo central e eles têm um túmulo ali embaixo para que eu seja enterrado no Couto Pereira”. Foi com essas palavras, ditas em tom de muito bom humor e risos, que Dirceu Krüger falou à equipe da Tribuna do Paraná, em fevereiro deste ano. O amor dele pelo Coritiba era tanto, que ele sempre fazia questão de expressar, mesmo que em tom de brincadeira, o desejo de ficar eternizado bem debaixo do gramado do Alto da Glória, onde pisou por tantas vezes em vida.
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Menos de três meses após esta declaração, o Flecha Loira se despediu em definitivo dos gramados da vida. Ontem, aos 74 anos, após complicações em decorrência de uma cirurgia na região abdominal, o ídolo ouviu o apito final, mas deixou como prorrogação eterna aos seus fãs e admiradores o legado de gols feitos, devoção ao Coxa e muitas lições de vida.
O desejo de ficar para sempre em sua verdadeira casa, o Couto Pereira, não surgiu por acaso. Foram 53 anos de dedicação ao clube em que foi jogador, auxiliar técnico, treinador, responsável pelas categorias de base, funcionário, amigo e conselheiro dos atletas.
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Ídolo e um verdadeiro ‘paizão’ para muitos atletas que passaram pelo Coritiba, ele recebeu ainda em vida duas justas homenagens pelo que representou para o futebol do estado do Paraná: uma estátua do lado de fora do estádio alviverde e o nome da taça da segunda fase do Campeonato Paranaense 2019.
“Jamais imaginei. Tanto a homenagem da Federação Paranaense de Futebol quanto, sinceramente, a estátua. Geralmente fazem isso para que já morreu. Me encantou”, falou na ocasião da entrevista, destacando a alegria de poder presenciar o reconhecimento.
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A trajetória de Krüger no Alviverde começou em 1966. Como atleta, ele somou 252 jogos e marcou 58 gols. Sempre muito calmo em suas atitudes, encerrou a trajetória como jogador em 1975 sem nunca ter sido expulso de campo. Pendurou as chuteiras precocemente por conta de complicações de várias lesões que teve, uma inclusive gravíssima, que quase o matou em 1970. Conquistou sete campeonatos paranaenses e o Torneio do Povo, em 1973.
No comando técnico, esteve à frente do time em 185 jogos, o que o credenciou a ser o segundo treinador com mais partidas pelo Alviverde, atrás apenas de Félix Magno, que somou 201 jogos em três passagens pelo clube. Na maior conquista da história do Alviverde, ele também participou de modo ativo, já que na campanha do título brasileiro de 1985, foi auxiliar técnico de Ênio Andrade.
O filho do ídolo, Ariel Krüger, muito emocionado, falou à Tribuna como a perda do pai está sendo dolorosa, mas que está encontrando conforto nos amigos e admiradores do Flecha Loira. “É um momento muito difícil para toda nossa família. Estamos muito agradecidos pelas manifestações de carinho dos fãs e das pessoas que admiravam meu pai”, disse, com a voz embargada.
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Ariel destacou a dedicação do pai pelo Coritiba e o quanto ele viveu em função do clube. “Eu tenho que dizer que meu pai amou esse clube até o último momento da vida dele. O Coritiba era a coisa mais importante para ele depois da família. Não tenho como medir o amor e o respeito dele por essa instituição. Agradeço à nação coxa-branca e a todos os fãs que não torciam para o Coritiba, mas o admiravam”, explicou.
Entre as várias lições que pôde compartilhar com outros atletas, jogadores em que ajudou na formação, companheiros de trabalho e amigos, o Flecha Loira deixou uma importante reflexão. “O futebol representa a minha vida. Sempre tentei ensinar que é preciso respeitar as pessoas e o futebol ensina isso. A todo momento respeitei aqueles com quem convivi, inclusive meus adversários”, disse Dirceu Krüger, deixando mais um ensinamento.
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