Coritiba festeja retorno à primeira divisão

Era para ser uma festa completa da torcida coxa-branca. Mais de 32 mil pagantes e quase 36 mil com o pessoal em serviço e os bicões. Era o cenário ideal para carimbar o passaporte para a primeira divisão, mas por pouco não ficou no quase.

Somente uma hora depois de terminada a partida foi que o Coritiba confirmou seu retorno à primeira divisão do campeonato brasileiro, graças à derrota do Criciúma, em casa, para o Santo André, por 2×0.

Mas, antes disso, com a bola rolando, o Alto da Glória tremeu com a vibração da torcida, o barulho fez do estádio uma panela de pressão e o time começou bem e foi para cima. E como foi. Parecia uma avalanche para cima do Vitória, que entrou em campo para empatar e conseguiu seu objetivo. Bem armado pelo técnico Vadão, os baianos não se abalaram com o volume de jogo do adversário.

E que volume. Desde o início o time foi para cima e quase desmontou a retranca dos rubro-negros com Jéci, que por pouco não marcou. Em seguida, Ricardinho teve a chance e Ney salvou. Era o desenho para a vitória e a classificação, principalmente pelo trabalho da defesa alviverde, que também estava mostrando serviço. Ainda mais com Ivo defendendo e chegando na frente. No primeiro bom ataque dele, a bola passou rente. No segundo, entrou. Numa bela jogada, o ala acionou Pedro Ken. O meia deixou Fabinho na cara do gol para abrir o placar.

Explosão no Couto e arquibancada balançando. Mas do outro lado também havia vida inteligente, e com Joãozinho. O centro-atavante do Vitória recebeu na entrada da área e mandou no canto. Ducha de água fria? Não, a torcida continuou apoiando e o time foi para o desempate. Já no segundo tempo, Túlio entrou e mostrou a raça de sempre enquanto os baianos tentavam parar o jogo com faltas aqui e ali. Numa delas, pela esquerda, Fabinho foi esperto e cobrou rápido para Túlio mandar fora do alcance de Ney. Era a hora, nova explosão no Couto e muita festa pelo fim dos dois anos na Segundona.

O pá de cal era questão de tempo e Henrique Dias teve a chance de ouro para decretar a volta matemática do Alviverde à Série A. Depois de entrar na área com tudo, encheu o pé e mandou a bola pelos ares. E olha que Keirrison estava do lado. Para piorar, outra vez Joãozinho aprontou das suas e deixou tudo igual. Em nova bobeira defensiva, ele acabou livre para tocar com categoria no canto. Ainda dava tempo de vencer, principalmente após a expulsão de Luís Fernando aos 38?, mas o nervosismo acabou atrapalhando e na melhor chance Ney salvou novamente o Vitória.

Não deu, mas a torcida aplaudiu o time mesmo assim e gritou a plenos pulmões ?É campeão!?. ?Infelizmente não deu para conseguir esse acesso com a vitória?, lamentou o zagueiro Jéci. Para Henrique Dias, só erra quem está lá. ?Não vi meu companheiro, acabei chutando errado e peço desculpas à torcida?, disse o atacante que poderia ter sacramentado os três pontos para o Coxa.

Mas a decepção durou pouco. Minutos depois, com a confirmação da derrota do Criciúma, tudo se transformou em uma grande festa, a festa do retorno à primeira divisão do campeonato brasileiro.

Dois anos depois, a comemoração

Cahuê Miranda

Foto: Valquir Aureliano

A torcida festejou como há muito tempo não fazia. Jogou junto com o time o tempo todo.

Acabou a agonia. Após 700 dias de sofrimento, a torcida finalmente pode comemorar: o Coritiba está de volta a seu lugar, entre os grandes do futebol brasileiro.

Desde o dia 4 de dezembro de 2005, quando o Coxa disse adeus à Série A, a galera alviverde vivia dias de tristeza e decepção. Ontem, tudo isso chegou ao fim. Mas o caminho foi longo, tortuoso e não será facilmente esquecido pela nação coxa-branca.

Desespero

Se um coritibano pudesse reescrever o passado, 2005 seria certamente apagado da história. O ano começou com o Coritiba perdendo o título estadual para o Atlético. Para piorar, os coxas tiveram que ver o rival chegar à final da Libertadores e por pouco não ficar com o maior título do continente. Mas o pesadelo estava apenas começando.

Sentindo a falta de jogadores importantes, como o goleiro Fernando e o lateral Rafinha, que se mandaram para a Europa, o Cori chegou a perder oito partidas consecutivas. Na penúltima rodada, um empate fora de casa com o São Caetano deixou um fio de esperança para o jogo final, contra o Internacional.

Mais de 30 mil pessoas foram ao Couto Pereira naquela tarde. Com a força da galera, o Coxa se superou e venceu o Colorado, que ainda tinha chance de ser campeão brasileiro, por 1 a 0. Mas o time não dependia apenas de suas próprias forças e, com a vitória do São Caetano sobre o Cruzeiro, a tarde terminou com uma chuva de lágrimas no Alto da Glória. O campeonato chegou ao fim com o Alviverde em 19.º lugar. Após nove anos, o Coritiba estava de volta à Segundona.

Agonia

Depois de muito choro, era a hora de reerguer a cabeça e voltar à batalha. Mais uma vez, o Paranaense foi um mau presságio, com uma eliminação frente à Adap nas semifinais. Mas o que importava de verdade era voltar à elite e o início da campanha na Série B deu à torcida a impressão que era apenas questão de tempo.

O Coxa começou o torneio atropelando os adversários e terminou o primeiro turno na liderança. Mas a boa campanha serviu apenas para criar falsas esperanças. Setembro chegou novamente e mais uma vez o time degringolou.

Faltando três rodadas para o fim, o sonho ainda estava vivo. Mas a derrota de 3 a 2 para o Atlético-MG, em pleno Couto, praticamente selou o destino alviverde. Um empate fora de casa com o Gama, no penúltimo jogo, tornou o desastre inevitável. Atlético-MG, Sport, Náutico e América-RN foram os classificados para a elite. A torcida alviverde já estava preparada para mais um ano de sofrimento.

Redenção

Em 2007, de novo, o Coritiba largou com tudo, se mantendo desde o início entre os quatro primeiros. Mas a história seria diferente. Dessa vez, setembro chegou e não abalou a caminhada coritibana. A torcida fez a sua parte e passou a encher o Couto a cada partida, fazendo o time se tornar invencível em casa.

Agora, o retorno à elite era mesmo questão de tempo. E a hora finalmente chegou na tarde de ontem. Quando o árbitro apitou o final do jogo contra o Vitória, só não começou a festa tão aguardada pois ainda dependia do jogo do Criciúma.

A festa começou só um pouco mais tarde e o coxa-branca já pode sorrir sem nenhum constrangimento. Mas a missão alviverde na Segundona ainda não terminou. Chegou a hora de buscar mais um título nacional e fechar com chave de ouro um dos mais emocionantes capítulos da história alviverde.

Coritiba 2 x 2 Vitória

Coritiba

Edson Bastos; Henrique, Ânderson Lima e Jéci; Ivo (Túlio, 1 do 2.º), Douglas Silva, Pedro Ken, Ricardinho (Caíco, 27 do 2.º) e Fabinho; Henrique Dias (Marlos, 31 do 2.º) e Keirrison.

Técnico: René Simões.

Vitória

Ney; Apodi, Ânderson Martins, Jean e Daniel; Ramirez, Bida, Chicão (Luís Fernando, 22 do 2.º) e Jackson (Soratto, 23 do 2.º); Índio (Adriano, 14 do 2.º) e Joãozinho.
Técnico: Vadão.

Local: Couto Pereira, em Curitiba.

Árbitro: Edson Esperidião (ES).

Assistentes: Maria Eliza Correia Barbosa (SP) e Nilson de Souza Monção (SP).

Gols: Fabinho, aos 31?, e Joãozinho, aos 42? do 1.º tempo; Túlio, aos 7?, e Joãozinho, aos 28? do 2.º tempo.

Cartões amarelos: Ânderson Lima, Ânderson Martins, Chicão, Apodi, Túlio e Jéci.

Cartão vermelho: Luís Fernando (aos 38? do 2.º tempo).

Público: 32.604 pagantes (35.664 total).

Renda: R$ 521.490,00.

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