Clube que inspirou Corinthians resiste no amadorismo

É preciso mesmo muito amor à camisa para ser corintiano. O time não paga salário, a torcida é bem minguada e o elenco demonstra pouco talento. Lá pela oitava divisão do campeonato, está difícil sair uma vitória nesta temporada, depois de amargar o 13º lugar no ano passado. Isso sim é ser sofredor. O inglês Corinthian Casuals está longe das glórias do passado. Seu principal legado é a inspiração para um dos maiores clubes do mundo, o agora centenário Sport Club Corinthians Paulista.

No campo do Rei Jorge, no sul de Londres, é difícil encontrar qualquer semelhança além dos nomes entre os dois times de histórias cruzadas. O clube da casa, de camisa marrom e rosa, passou longe de empolgar as 60 pessoas que foram assistir ao jogo contra o Fleet Town, na semana passada. Talvez seja o mau agouro do inexplicável uniforme verde do goleiro – que contribuiu para a tediosa derrota por 2 a 1.

Com muitos chutões e trocas de passes restritas, a correria dura pouco porque a falta de condicionamento físico não demora a aparecer. Tudo acompanhando pelo silêncio até constrangedor da pequena torcida, que se limita a aplaudir sentada na hora do gol e acaba rindo dos lances mais desastrados, sob o gelo do verão inglês.

E pensar que o Corinthian já foi um fenômeno arrebatador. Fundado em 1882, o time fez história com espetáculos em campo, incluindo vitória de 11 a 3 sobre o Manchester United e de 10 a 1 sobre o brasileiro Fluminense, no início do século passado.

Foi durante um tour pela América do Sul, em 1910, que o time entusiasmou os paulistas e deixou a semente da nação corintiana. Mas, se no Brasil o clube se profissionalizou e explodiu, na Inglaterra a opção foi por se manter como um amador convicto.

“Devemos jogar porque gostamos, não porque recebemos dinheiro”, afirmou o vice-presidente do clube inglês, David Harrison. Isso é o que os ingleses chamam de “espírito corintiano”, ideia que permeia a existência do Corinthian Casuals, o único clube amador a disputar a profissional Ryman League.

Os jogadores têm outras profissões: são professores, encanadores, eletricistas. São pessoas como Garin Cartwryght, que trabalha na área de riscos da auditoria Deloitte e mora ali mesmo no bairro de Tolworth, em Londres, onde fica o campo. “Aqui, todos os jogadores estão no mesmo nível e não há disputas entre nós, não estamos aqui por dinheiro”, contou.

A diretoria é fiel. Formada por senhores, praticamente lordes, de terno e gravata nas cores de gosto duvidoso do clube, comparece em peso e reúne-se para um chá antes dos jogos, sempre esperançosa. “A temporada está no começo, ainda é cedo para dizer que estamos indo mal”, disse o administrador John Cracknell.

Os ingleses gostam do elo, embora hoje distante, com o Corinthians Paulista. Harrison acompanhou as duas últimas visitas do time inglês ao Brasil, em 1988 e 2001. “Foi impressionante ver Sócrates e Rivellino jogando”, conta o dirigente.

Mas o “time pai” ficou completamente de fora das comemorações do centenário do clube brasileiro. Sem dinheiro para viajar a São Paulo, o máximo que receberam foi um convite para comemorar o 1º de setembro num bar brasileiro em Londres. Como consolo, resta apenas o trofeuzinho de melhor gramado da Ryman League, recebido na semana passada.

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