Bastidores

Adaptação na França, quarentena e status de ídolo. Um mês de Bruno Guimarães no Lyon

Bruno Guimarães já foi eleito duas vezes o melhor em campo pelo Lyon. Jogador rapidamente se encaixou no time. Foto: Divulgação/Lyon

Bruno Guimarães vestiu a camisa do Athletico pela última vez em 4 de dezembro de 2019. Lesionado, o volante entrou nos acréscimos do segundo tempo contra o Santos, pela penúltima rodada do Brasileirão, apenas para se despedir da torcida.

Na Arena da Baixada, ele foi peça fundamental nas conquistas da Copa Sul-Americana, em 2018, e da Copa do Brasil, em 2019. Após duas temporadas completas, deixou o clube como ídolo, negociado por 20 milhões de euros com o Lyon.

Há pouco mais de um mês na França, o volante, que sempre sonhou em jogar na Europa, já encanta o futebol do continente. Veja abaixo os bastidores da saída do Furacão até o desembarque na Europa.

Maratona

Depois do adeus aos atleticanos, Bruno viveu uma maratona após as férias. O ponto de partida foi a conquista da vaga na Olimpíada com a seleção brasileira no torneio Pré-Olímpico, na Colômbia, onde foi eleito o melhor jogador. No meio da disputa, ficou definido que seu destino seria o Lyon.

A chegada na França aconteceu na noite de 10 de fevereiro, em jatinho particular providenciado pelo time. 11 dias depois, estreava já como titular diante do Metz, pelo Campeonato Francês. Foi eleito o melhor do jogo pelo site oficial do OL.

No dia 26, estreou na Liga dos Campeões contra a Juventus de Cristiano Ronaldo. “Parecia um veterano em campo” e “Impressionante como não sentiu a pressão”, foram os comentários mais comuns sobre a atuação do camisa 39.

Bruno Guiimarães saiu da Colômbia direto pra França; Foto: Arquivo Pessoal

No duelo seguinte, contra o Saint-Étienne, recebeu novamente o prêmio de melhor em campo. Convocado pela primeira vez para a seleção brasileira principal, seguiu como titular nas derrotas para PSG e Lille, as últimas partidas antes da interrupção do futebol por causa do novo coronavírus.

Quarentena forçada

Desde terça-feira (17), ao meio-dia, a população da França entrou em quarentena. A medida foi tomada pelo governo para ajudar a conter a disseminação do novo coronavírus no país. Sair de casa só é possível com autorização e documento informando o motivo da saída.

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No meio disso tudo, Bruno segue treinando individualmente, seguindo as instruções do clube. O tempo também é preenchido com aulas de francês via Skype e jogos no videogame, além do preferido, o game de tiro para celular Free Fire.

Adaptação e rotina

Por enquanto, Bruno mora em um apartamento com outras três pessoas na sexta divisão administrativa de Lyon. A residência fica a apenas 15 minutos do Groupama Stadium e do centro de treinamento anexo ao estádio.

Até a chegada definitiva de seus pais, Dick e Márcia, adiada por causa da pandemia, o volante está com seu empresário Alexis Malavolta, Renan Moura, que trabalha com o agente, e o meio-campista Camilo, ex-Ponte-Preta, contratado pelo Lyon na última janela.

Antes da quarentena, a rotina do jogador envolvia aulas de francês no próprio clube, uma hora antes do treino, entre três e quatro vezes por semana. Nos passeios com a família para conhecer a cidade, já era reconhecido.

“É curioso como os torcedores já reconhecem ele nos lugares e falam como se ele entendesse tudo. Só que na maioria das vezes não entendemos nada”, brincou Márcia, mãe do atleta, que ficou até dia 5 de março na França.

“Mas dá para perceber que estão muito felizes em tê-lo por lá”.

A adaptação ao time também é facilitada pela presença de outros brasileiros no elenco, entre eles o zagueiro Marcelo, os laterais Marçal e Rafael e os meio-campistas Thiago Mendes e Jean Lucas. A comissão técnica tem outro brazuca, o ex-zagueiro do Lyon, Cláudio Caçapa.

Bruno, Camilo, Renan e Alexis nos Alpes franceses. Foto: Arquivo pessoal

Quando a mudança dos pais acontecer, até a cachorra da família, a labradora Mel, ganhará passaporte europeu. Dick e Bruno, aliás, têm cidadania espanhola.

Tatuagem e neve

Mal chegou, o camisa 39 também virou notícia na França ao tatuar leões no braço direito. A escolha já estava feita antes mesmo da transferência para o time francês, que tem, coincidentemente, o animal como mascote.

No fim de semana passado, o ex-atleticano viu neve pela primeira vez. Com os campeonatos paralisados, ele visitou o vilarejo de Megève, estação de esqui com vista para o Mont Blanc, a mais alta montanha da Europa.

Bruno Guimarães tatuou um leão no braço. O animal, curiosamente, é o mascote do Lyon. Foto: Arquivo Pessoal

O erro do Atlético

Se o Atlético de Madrid quisesse, Bruno Guimarães poderia estar agora na capital da Espanha. Em agosto, os Colchoneros acertaram a preferência de compra do meio-campista com o pagamento de dois milhões de euros.

Os termos do negócio foram alinhados em novembro, quando o diretor do núcleo de negócios do futebol do Athletico, Rodrigo Gama Monteiro, viajou a Madri. Porém, cerca de duas semanas depois, o Atlético avisou que decidiu não exercer a opção de compra do camisa 39.

O motivo foi a regra do fair play financeiro, já que o clube madrilenho vislumbrava contratar o atacante Edinson Cavani, do PSG, para suprir uma lacuna no elenco. No fim das contas, o acerto acabou nem saindo do papel.

Juninho e o projeto perfeito

No fim de dezembro, antes mesmo de Bruno jogar o torneio pré-olímpico na Colômbia, o português Benfica apareceu na jogada. Mas a proposta parou no presidente Mario Celso Petraglia. Logo depois, surgiu o interesse do Lyon — e tudo mudou.

O time francês, que tem Juninho Pernambucano como diretor esportivo, conquistou o volante de 22 anos. O projeto do clube encantou também a família Guimarães.

Juninho Pernambucano foi decisivo pro acerto de Bruno Guimarães com o Lyon. Foto: Arquivo Pessoal

“O Lyon mostrou interesse, coisa que o Atlético de Madrid nunca mostrou”, resumiu uma pessoa do staff do jogador, que exaltou a participação (e o tato) de Juninho na condução da transação.

Arrependimento

Um dia depois de o Furacão acertar verbalmente a venda de Bruno Guimarães ao Lyon, o arrependimento bateu no Atlético de Madrid. O time espanhol voltou com tudo para tentar ficar com o jovem após vê-lo se destacar no pré-olímpico — Bruno viria a ser eleito o melhor do torneio.

A oferta era melhor do que a da equipe francesa, mas Petraglia (que já havia dado sua palavra de que faria o negócio com os franceses), deixou a decisão nas mãos de Bruno. E ele não teve dúvida.

“Juninho é o responsável pela minha decisão de vir pra cá. Ele ligou para a minha família e meus agentes. Foi honesto e leal. Me ofereceu um lindo projeto de carreira. Isso me fez querer vir para o Lyon”, resumiu o volante.

A venda oficial para o Olympique Lyonnais foi fechada por 20 milhões de euros, mais 20% do lucro de uma futura venda. A proposta espanhola, com valores similares, seria fechada apenas em julho de 2020, mas envolvia outros cinco milhões de euros em metas de produtividade.

39 “aposentada”

Quando o negócio foi finalmente fechado, Bruno fez um pedido para Petraglia: aposentar a camisa 39 até seu retorno ao Athletico.

O número tem um significado especial para o jogador, o mesmo do táxi que seu pai, Dick, usava quando trabalhava no Rio de Janeiro. Petraglia garantiu que a camiseta está guardada para o retorno do volante.

Na França, o Lyon conseguiu uma autorização para que o 39 fosse usado. Normalmente, os elencos usam numeração de 1 a 30.

Pais de Bruno Guimarães e a já famosa camisa 39 do volante. Foto: Arquivo Pessoal

Valorização expressiva

O valor de mercado do ex-atleticano aumentou muito desde a estreia em terras francesas. De acordo com o site Transfermarkt, especializado em negócios do futebol, Bruno agora vale 35 milhões de euros, 42% a mais do que na época da contratação. Ele foi o jogador que mais valorizou na última atualização do site.

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