30 anos do primeiro grito de glória nas pistas da F-1

São Paulo (Lancepress!) – No dia 10 de setembro de 1972, o Brasil comemorou, pela primeira vez, um título mundial da Fórmula 1. Emerson Fittipaldi, um jovem de 25 anos com uma enorme costeleta, vencia o GP da Itália e abria as portas para os brasileiros na principal categoria do automobilismo mundial.

Nesta entrevista, Emerson revela que quase não disputou a corrida em Monza, lembra da emoção de ter cruzado a linha de chegada em primeiro e diz por que acha que Rubens Barrichello pode ser campeão mundial pela Ferrari.

A história do título

“Aquele foi o dia mais emocionante da minha vida profissional, pessoal. Ganhar o GP da Itália, em Monza, e, no mesmo dia, o Mundial. Lembro que foi um fim de semana que começou complicado. O caminhão da Lotus que levava meu carro titular capotou a uma hora de Milão, na auto-estrada, quarta à noite. Na época, o Peter Warr, chefe da equipe, me telefonou no hotel e disse: ?Vem para a auto-estrada porque o caminhão capotou e seu carro está no mato. Todas as peças de reserva, o motor reserva, está tudo espalhado na auto-estrada?. Foi um choque, um susto, e foi assim que começou o GP da Itália, a decisão do Mundial”.

Passado o susto…

“Eu vinha de uma vitória espetacular na Áustria, muito importante para estabelecer uma liderança e com chance de fechar o mundial em Monza. Mas o acidente na auto-estrada com o caminhão foi uma ducha de água fria. Quando cheguei no local do acidente, o Peter me disse: ?Já mandamos vir outro carro da Inglaterra, você vai correr com o chassi 5?. Aquele era o chassi mais antigo que tinha da Lotus 72. Era do carro que tinha estreado em 1970, com muita quilometragem. Mas foi o que deu para levar para Monza.”

Mais problemas

“Apesar de velho, o carro andava bem. Fui bem no classificatório e acho que larguei em terceiro. Mas uma hora antes da largada aconteceu outro problema: o carro estava de tanque cheio e começou a vazar gasolina. Eu estava no motorhome da John Player Special e me disseram: ?Emerson, estamos com um problema sério. Vamos tentar bombear a gasolina fora do tanque, trocá-lo e ver se dá tempo de largar?. E eu não tinha carro reserva, tinha batido na auto-estrada. Lembro que faltavam dez minutos para alinhar. Nem quis olhar. Aí o Peter me fala que tinha terminado e que daria tempo.”

A corrida

“Larguei e, na segunda volta, vi a placa: ?Stewart out?. Ele tinha quebrado na largada, o Jackie Stewart. Era ele que tinha chance matemática de ganhar o Mundial, eu disputava com ele. Isso me tranqüilizou. Falei: ?O Stewart está fora, mas eu tenho que terminar o grande prêmio e vamos ver se termino ganhando”. A corrida toda eu andei grudado na Ferrari do Jacky Ickx. Quando faltavam umas quinze voltas, ele teve um problema e parou. Eu fiquei com a pista livre, longe do segundo. Para mim, foi administrar essas últimas voltas do GP a Itália e vencer meu primeiro Mundial. Foram as quinze voltas mais longas na minha carreira, da minha história. Quando entrei na Parabólica, na última volta, saí com o carro embalado, a uns cento e pouco por hora, dei um grito dentro do cockpit e falei: ?Mesmo se quebrar o motor agora, se acontecer alguma coisa com o câmbio, eu cruzo em primeiro lugar e ganho o mundial?. A partir dali, fiquei gritando, chorando, emocionado dentro do carro. E a imagem que eu tenho da linha de chegada é do Colin Chapmann pulando, jogando o boné para cima, que era um símbolo, uma tradição que vinha da época do Jim Clark, do Graham Hill, campeões mundiais pela Lotus. Tudo o que aconteceu em Monza foi um sonho, uma coisa de Deus, fantástico.”

Mais jovem campeão

“Quando voltei para Lausanne, na Suíça, onde morava, vi um jornal em uma banca com a manchete: ?Fittipaldi, world champion?. Foi a primeira vez que vi meu nome como campeão do mundo num jornal. Tinha pouca idade, 25 anos, um recorde. O Schumacher quase me pegou, mas esse é um recorde que ele não vai bater. Ele bateu todos, mas nesse eu estou na frente, graças ao meu pai e minha mãe. E por apenas três meses… Esse recorde é meu e dos meus pais. O campeão mais jovem, ele (Schumacher) não vai ser… (risos).”

Falta de títulos na F-1

“Acho que nos próximos dez anos temos chances de sermos campeões. Depois do Ayrton, não acho que faltou qualidade, mas sim oportunidade. Tem que estar na hora certa, na equipe certa, como tudo na vida. Tem muito talento brasileiro com chance de ser campeão mundial.”

Segurança e ultrapassagens

“Segurança de pista, do carro, sempre existiu na Fórmula 1, Fórmula Indy, Cart, IRL. Não tem a ver com problemas de ultrapassagens. Isso é coisa do regulamento dos carros. Hoje em dia, a aerodinâmica não permite você sair de uma curva muito grudado no cara da frente. Então, há poucas chances de ultrapassagens. É isso que os projetistas, a FIA, deveriam mudar.”

Crise na F-1

“Acho que o mundo está em crise, não só a Fórmula 1. Automobilismo é um esporte muito caro. Mas espero que os dirigentes da F-1 vejam o regulamento da F-Indy, por exemplo, que é mais restrito, baixa muito o custo. Dá chance para equipes mais equilibradas. A F-1 está tendo esse problema. O desequilíbrio técnico é muito grande, os custos são absurdos. A Minardi não faz um carro bom, a Jordan tem dificuldade, a Arrows teve que abandonar. Há esse tipo de problema financeiro, pela crise mundial, mas também pelo regulamento da F-1, que é cara.”

Marmeladas da Ferrari

“Acho que foi muito ruim pro automobilismo. Falei pessoalmente com o Schumacher e o Rubinho que achei errado, e o Rubens concordou, mas teve que obedecer ordens. O GP da Áustria o Rubens ganhou de ponta a ponta. É um absurdo ele perder uma vitória, que ele mereceu por sua habilidade, performance. Ter que tirar o pé pro Schumacher passar… E o Michael não precisa que ninguém tire o pé para ser campeão. Atitude antitética da Ferrari, que fez mal ao esporte, aos fãs de automobilismo, da Ferrari. Mas eles aprenderam.”

Barrichello campeão?

“Em janeiro, falei que esse ano seria o melhor ano do Rubinho. Sem dúvida, foi. Ele cresceu muito na Ferrari, é um piloto que está com muita experiência dentro da própria Ferrari, o que e muito importante. Como eles dominam a categoria, acho que ele pode ser campeão, se no ano que vem crescer mais e o Schumacher tiver alguns problemas.”

Títulos

Além do bicampeonato do F-1, em 1972 e 1974, Emerson Fittipaldi também triunfou na F-Indy. Chegou por lá em 1984 e foi campeão cinco anos depois, em 1989, pela Patrick Racing. Naquele ano venceria, pela primeira vez, a corrida mais importante do planeta, as 500 Milhas de Indianápolis -conquista que repetiria em 1993, desta vez pela Penske. “Me sinto orgulhoso por ter aberto as portas para os brasileiros não só na Fórmula 1, mas na Indy também”, disse Emerson. Outro episódio da vida de Fittipaldi foi a criação da Copersucar, equipe brasileira na F-1 fundada em 1975. Em cinco anos, o time somou apenas 37 pontos. As melhores colocações foram um segundo lugar (com Emerson, no GP Brasil de 78) e dois terceiros (com Fittipaldi e com Keke Rosberg).

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