Quase metade do que é produzido nas propriedades rurais do país é resultado do trabalho coletivo dos agricultores

Por Danielle Blaskievicz, especial para Tribuna do Paraná

Sabe aquele café com leite quentinho que o brasileiro não dispensa logo cedo? Ou o tradicional feijão com arroz que já faz parte do patrimônio cultural do país? Esses são apenas alguns exemplos de como o cooperativismo está presente no dia a dia dos cidadãos, sejam eles moradores dos grandes centros urbanos ou de pequenas localidades do interior.

O último Censo Agropecuário, conduzido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrou que as cooperativas brasileiras respondem por cerca de 48% de tudo o que é produzido nas propriedades agrícolas do país. São mais de 1 milhão de associados que trabalham para garantir a permanência do agricultor no campo ao estimular a industrialização e comercialização do que é originado no meio rural.

De acordo com Alexandre Monteiro, que é analista de mercado da Gerência Técnica da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), a estrutura da cooperativa é similar à existente no meio empresarial. “A cooperativa funciona como uma grande empresa, com o diferencial e a vantagem de que ali o cooperado é um dos sócios. Além de participar da gestão, ele também recebe a participação nos lucros”, pontua.

Planejamento

Assim como ocorre numa indústria comercial, todo o fluxo dos produtos é planejado. Monteiro explica que a cooperativa oferece suporte em todas as fases da produção agrária, desde o momento da compra da semente e dos insumos, até a hora da industrialização e venda para o consumidor final. Ou seja, o produtor rural não precisa gerenciar todo o processo ou se preocupar com a parte de vendas ou marketing para comercializar seus produtos. Ele cuida da produção e a cooperativa faz o restante.

O produtor rural Ricardo de Aguiar Wolter, cooperado da Frísia em Carambeí, destaca que a estrutura oferecida ao produtor independe de porte ou volume de produção: “O cooperativismo é a melhor opção para o agricultor, pois todos são tratados de forma igualitária”.

Outra vantagem, destaca Wolter, é o valor agregado aos produtos. Desde que a Unium foi fundada – em 2017, a partir da aliança entre Frísia, Castrolanda e Capal – houve um impulso na industrialização, gerando benefícios aos cooperados.

O ranking da Associação Leite Brasil, com as maiores empresas de laticínios do país, mostrou que em 2019 o valor agregado de captação de leite registrou um aumento de 4,1% de crescimento. A Unium ficou entre as produtoras que registraram maior aumento de captação, com 9,5% de crescimento comparado a 2018 – valor que equivale a 1,252 bilhão de litros de leite.

Cadeia produtiva

Armando Rabbers, que é produtor de leite, suínos e grãos e cooperado da Castrolanda, em Castro, explica que compra todos os insumos necessários para o seu dia a dia na própria cooperativa. O resultado da produção é entregue às indústrias da Unium, que fazem o beneficiamento e depois revendem ao mercado. “O produto final sai ganhando, principalmente na questão da qualidade. Hoje somos tão eficientes quanto o mercado europeu. Além disso, as grandes empresas com sede no Brasil também procuram o nosso produto”, afirma.

O produtor de leite Lucio Cunha Drinko destina toda a produção do seu rebanho para a cooperativa Capal, em Arapoti. Depois da ordenha mecânica dos animais, o leite vai para um resfriador e segue para a usina de beneficiamento de leite da Unium, em Castro, onde é processado e repassado ao consumidor final. Segundo ele, a industrialização do produto permite uma grande variedade de itens – leite integral, desnatado, semidesnatado, sem lactose, creme de leite, leite em pó e outros – e o aproveitamento integral da produção.

Especialistas são enfáticos ao afirmar o papel das cooperativas no desenvolvimento de agronegócio no Brasil a partir dos anos 80, ao disseminar tecnologia e favorecer a criação de um ambiente mais favorável aos negócios. Alexandre Monteiro destaca outro aspecto do sistema cooperativista: a segurança. “Os produtores ligados a uma cooperativa têm a garantia do fluxo da produção. Além disso, eles têm mais musculatura para enfrentar momentos de crise”, enfatiza o analista de mercado.