Por Patrícia Mannarino O Instituto Pet Brasil divulgou o resultado de uma pesquisa mundial apontando o crescimento da população pet, […]

Por Patrícia Mannarino

O Instituto Pet Brasil divulgou o resultado de uma pesquisa mundial apontando o crescimento da população pet, em 2020, em torno de 2%. Em especial, os felinos. Em Curitiba, não há levantamentos recentes, mas a estimativa do Censo Pet é de que a cidade acompanhe a média do estado, que registra a proporção de dois animais de estimação para cada grupo de três habitantes.

Muitos desses animais vivem soltos, sem qualquer tipo de cuidado ou proteção. E esse número só não é maior graças ao trabalho de voluntários que atuam, isoladamente ou em Organizações Não-Governameiais (ONGs), dando suporte aos animais de rua da cidade e mobilizando autoridades e a população para criar melhores condições para os bichinhos na capital paranaense.

O aumento do número de animais de estimação tem relação direta com o período de confinamento causado pela pandemia de Covid-19 e o sentimento de solidão. Os pesquisadores ficaram surpresos com o crescimento na adoção de gatos – até então animais cercados por estereótipos.

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Algumas razões para a recente simpatia pelos gatinhos estão relacionadas às mudanças na configuração dos lares brasileiros: famílias menores residindo em locais pequenos e o aumento de pessoas morando sozinhas. Para todas essas situações, o gato provou ser um animal mais adequado, dócil, carinhoso, leal, brincalhão e limpo.

Em Curitiba, professores e pessoas ligadas às ONGs de Proteção Animal reclamam da falta de um levantamento oficial sobre o número de animais em casa, de rua e semidomiciliados. Esse problema seria resolvido de uma forma simples, incluindo, nas abordagens do Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), perguntas sobre a população animal nas residências.

O último esforço de levantamento foi feito pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) em 2011: na época constatou-se que, apenas na capital, 45% dos animais sejam semidomiciliados. Essa característica é relacionada ao grupo de animais cuidados pela comunidade. Ou seja, são cães que passam o dia nas ruas e dormem em abrigos e casinhas improvisadas – como é o caso de vários animais que passam a noite nos terminais de ônibus de Curitiba. E quase 3% dos animais adotados acabam, infelizmente, sendo abandonados.

É uma situação triste e crítica, ainda mais se for levado em conta o tempo de vida dessas espécies. Por isso, a única chance de oferecer um futuro digno para a população de cães e gatos é através do controle populacional. Os mutirões de castração criados pela Prefeitura Municipal de Curitiba são estratégias fundamentais para o sucesso desse objetivo.

No Paraná

Cresceu a procura por gatos para adoção durante a pandemia. Foto: Divulgação

No Paraná, dados divulgados pela Comissão de Animais de Companhia(Comac) do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal em 2020 mostrou que o estado contabilizava 6,82% da população total de animais no Brasil, o que equivale a 5,73 milhões de espécimes, sendo 3,68 milhões de cachorros e 2,01 milhões de felinos. Considerando o tamanho da população do Paraná, é como se existisse um pet para cada duas pessoas.

Embora esses números demonstrem um avanço na relação entre humanos e animais, com homens mais empáticos aos sentimentos de animais domésticos, a realidade ainda é outra. Para cada medida ou lei garantindo um direito animal, há vários casos de negligência e maus tratos.

Processos judiciais

Em setembro de 2021, uma decisão inédita no Tribunal de Justiça do Paraná (TJPR) abriu um importante precedente na causa animal: a partir dessa data, animais podem ser autores de processos judiciais.

A decisão foi baseada na teoria difundida pela Faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná (UFPR) de que, se animais são sujeitos de determinados direitos como o de serem tratados sem crueldade, então eles podem defender esses direitos em juízo, perante o Judiciário.

Spike e Rambo

O primeiro caso a receber decisão favorável foi o dos cachorros Spike e Rambo, no começo de 2020. Na petição inicial, foi relatado que os animais estavam há 29 dias sozinhos em um imóvel, pois os tutores estavam viajando. Segundo a petição, poucas vezes alguém apareceu para fornecer água e alimento aos cães. Preocupados, os vizinhos passaram a alimentar os animais e chamaram uma Organização Não-governamental (ONG) e a Polícia Militar para verificar a situação. Os dois animais foram resgatados pela organização e levados a uma clínica veterinária, onde foi constatado que o cão Spike estava com lesões e feridas.

Controle populacional

A médica veterinária Fernanda Kandalski, professora na graduação de Medicina Veterinária da UniCuritiba, explica que a castração é um ato importante sob diversos aspectos. Ela pontua que, do ponto de vista sanitário, o controle populacional é fundamental para evitar proliferação de zoonoses, que são as doenças transmitidas dos animais para os homens.

Há ainda, a questão do bem-estar animal, uma vez que, quando castrados, esses animais tendem a ter uma condição clínica mais saudável. “Os machos ficam menos agressivos e menos propensos a problemas de próstata. As fêmeas ficam menos propensas a problemas de útero e câncer de mama”, esclarece.

Uma importante atitude individual que não depende de ações institucionais é a adoção de animais.  É preciso que as pessoas entendam que adotar um animal abandonado tem impacto geral em relação aos maus tratos e abandono.

A protetora Denise Berdacki, que atua de forma independente, já resgatou mais de 1 mil cães das ruas da cidade. Seu trabalho não é fácil. Denise tem que enfrentar situações que a maioria das pessoas não aguenta sequer ver através de fotos. São cães e gatos abandonados, muitos idosos e doentes, maltratados ou ainda em posse de acumuladores. Ela faz um alerta: “Comprar (um pet) é estimular a escravização das matrizes”, destaca, referindo-se à forma com que muitos animais são explorados com a finalidade de gerar lucro aos seus donos.

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Em Curitiba, várias ONGS e protetores independentes atuam para combater situações semelhantes. Pessoas que resgatam animais abandonados, cuidam, alimentam, castram e os colocam para adoção. Em muitos casos, não é possível arcar com os custos de manutenção dos cães em hotéis. Nesse momento, outro tipo de voluntário entra em ação, uma espécie de intermediário que faz o chamado “lar temporário” – onde o animal permanece até ser adotado.

No “lar temporário”, geralmente os voluntários recebem ajuda no fornecimento de ração para os cães, ficando apenas com a tarefa de oferecer proteção, abrigo e carinho ao animal.

VANTAGENS DA ADOÇÃO ANIMAL

“A gratidão que o adotante vê nos olhos do adotado. Eu sempre digo que a gente (voluntário protetor) resgata o corpinho e o adotante resgata a alma do cãozinho”. Denise Berdacki

  • Custos subsidiados: Normalmente, quando se adota um animal de rua, o custo da esterilização/castração, primeiras vacinas (e às vezes até microchip!) é muito reduzido em comparação aos animais de raça.
  • Adestramento: Dependendo da idade do animal, é possivelmente economizará em despesas de adestramento e treinamento.
  • Adotando um animal mais velho: Um alerta aos “pais de pet de primeira viagem”: considere seriamente a opção de adotar um animal mais velho! Os animais de rua já estão acostumados a fazer suas necessidades em ambientes externos.
  • Elixir da juventude: O diretor clínico do Centro Geriátrico do Hospital Johns Hopkins, Dr. Jeremy Barron, atestou que adotar um animal é um gesto aparentemente altruísta que oferece uma série de razões egoístas, entre os quais: redução do estresse, pressão arterial mais baixa.
  • Atividade física e saúde: os donos de pets não têm escolha e precisam passear com o animal de estimação, proporcionando-lhes uma dose diária de exercício à prova de desculpas.
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