Araucária RMC

Respire se puder!

Não é de hoje que os moradores do bairro Barigui, em Araucária, convivem com uma situação incômoda provocada pela instalação de uma empresa responsável pelo tratamento de resíduos ambientais próximo a suas casas, na divisa do município com Curitiba. Diariamente o cheiro forte de lixo e outros produtos – que a população considera químicos – se espalha pela região, afetando inclusive a saúde de quem mora por ali.

Mesmo com a presença de inúmeras indústrias próximas, a área é conhecida na cidade como o “Lixão do Barigui”, apesar da área pertencer à Cidade Industrial de Curitiba (CIC). Durante todo o dia o cheiro é forte, independente do clima. “Estão nos mantando em silêncio. A região da CIC e de Araucária é das mais populosas entre moradores e trabalhadores e, das mais ricas do Paraná, com um lixão instalado no meio de nós. Temos que conviver com essa intoxicação dia sim e dia não, durante a noite ou durante o dia, o cheiro é insuportável, atravessa as paredes e janelas fechadas de nossas casas, causando vômitos, dores de cabeça intensas, contrações musculares, entre outros sintomas desagradáveis. Isso se chama envenenamento silencioso”, critica a moradora Jordana Zimmermann Braga, que entrou em contato com o Paraná Online.

A moradora Eunice Menezes, 48, também concorda com os riscos à saúde da população. Ela relata que é comum as pessoas sofrerem com enxaqueca, náusea e problemas respiratórios. “Mas Araucária é muito poluída, não sabemos se é só por causa do lixão”, observa ela, que ainda alerta para os riscos da presença de uma estação de tratamento da Sanepar localizada em frente à empresa. “Também construíram um condomínio residencial grande muito próximo ao lixo. E o lixão era uma área linda, cheia de mata, mas mataram tudo”, lamenta.

Risco à saúde

Os responsáveis pela saúde no município não descartam a relação entre a presença dos resíduos próximos aos moradores e o comprometimento da saúde. “Tem uma aplicação direta”, avalia o médico Ricardo Riedel Mendes. De acordo com a coordenadora da Unidade de Saúde Nossa Senhora de Fátima, Adriana Carla Ceccon, os problemas respiratórios estão entre os mais atendidos na unidade, que recebe os moradores do Barigui. “Temos também muitas indústrias que emitem muita poluição e provocam problemas respiratórios, principalmente nas crianças”, explica.

A administração municipal também reconhece a situação como um problema. Em nota, a assessoria de imprensa do município afirmou que se preocupa com a “liberação de odor desagradável e com potencial de causar danos à saúde para exposição direta em concentrações altas e em desacordo com a legislação ambiental”.

De acordo com o texto, a prefeitura realizou contato por telefone e em reuniões do Consórcio Intermunicipal para a Gestão dos Resíduos Sólidos sobre a Essencis, empresa responsável pela área que recebe o material. “A informação da prefeitura de Curitiba é que a empresa possui licenciamento ambiental de funcionamento para a atividade de tratamento e destinação final de resíduos sólidos domiciliares e industriais e que a Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Curitiba fiscaliza o local”.

O Paraná Online entrou em contato com a prefeitura de Curitiba, mas todos os representantes da Secretaria Municipal do Meio Ambiente estavam envolvidos nas discussões sobre a greve dos coletores de lixo. A Essencis também foi procurada, mas não respondeu até o fechamento desta edição.

Esgoto com despejo irregular

Na Rua Joana Geraldela, também no bairro Barigui, além do cheiro forte que vem da empresa, os moradores enfrentam problemas com uma valeta no final da rua, que é sem saída. O local, tomado pelo mato, serve como depósito de lixo. “A gente tenta cuidar, mas o pessoal vem aqui à noite e joga entulhos e coisas velhas”, conta Clóvis Mezari, 33, morador do bairro há 20 anos que se reúne com os vizinhos para tentar amenizar a situação.

De acordo com ele, o ponto seria uma nascente de rio, mas o esgoto das casas próximas é despejado no local de maneira irregular. Nos dias de calor e quando chove o cheiro que vem da valeta é “insuportável”. “Também vem gente aqui jogar entulho de noite. A gente pede pra não jogar, mas não estamos aqui o tempo todo”, lamenta.

Para o agente de escolta João Gsuteko, 50, a segurança também fica comprometida com a situação no local. O mato alto serve de esconderijo para bandidos e a maioria das casas da vizinhança já foram assaltadas. “O mato tinha que ser roçado. As pessoas acabam abordadas na rua e mulheres já foram atacadas”, critica ele, que mora há 20 anos na região, mas ainda não viu melhorias.

Colaborou: Loise Clemente

 

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Sobre o autor

Carolina Gabardo Belo

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