Pinhais RMC

Descaso asfixia

Bastou parar de limpar que uma fuligem branca torna a cair sobre tudo que fica na direção do vento que carrega esses resíduos para as residências de várias ruas, no bairro Vargem Grande, em Pinhais. A situação é enfrentada dia após dia por moradores, muitos deles com histórico de doenças respiratórias e alergias desenvolvidas ou agravadas por conta da emissão desses poluentes vindos, segundo a população, de uma empresa do Grupo Plasti, a Plastifort, de compostos plásticos reciclados, instalada há quase 30 anos no bairro.

A aposentada Maria Rosa Messias Matos, 77 anos, que reside em uma casa que faz divisa com os fundos da fábrica, na Rua Rui Barbosa, conta que chegou ao endereço há 40 anos e, na época, nem imaginava ter que conviver com esse tipo de problema. “Fui uma das primeiras moradoras daqui, tanto que fiz minha cozinha sem imaginar que a janela iria dar para o muro dessa fábrica, mas o pior é não poder abrir qualquer janela dessa casa, sem que o pó tome conta de tudo, como faz na parte de fora cobrindo a calçada, os carros e até a roupa que deixo no varal”, relata. “Tem vezes que parece que mergulhei em uma bacia de goma os meus panos, de tão duros que eles ficam com o pó”, conta.

A filha dela, Zenaide, que vive em outra casa do mesmo terreno, conta que nos últimos dois anos tem ido insistentemente atrás da Prefeitura de Pinhais e do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) a fim de uma solução definitiva, já que a família toda sofre com as consequências desse pó excessivo. “Já perdemos a conta de quantas vezes atacou a rinite ou a pele ficou toda avermelhada após horas em contato com esse pó”, explica Zenaide. “Se a janela fica aberta durante a refeição, a gente se asfixia ou engasga com pó”, acrescenta Maria Rosa, que desenvolveu uma bronquite com o passar dos anos.

A vizinhança confirma os mesmos problemas. “Passei a infância das minhas filhas levando elas para o hospital por conta de problemas respiratórios”, recorda o vigilante Antônio Carlos dos Santos, 52 anos. “E ainda tem o problema do cheiro. Não sei que tipo de operação eles fazem, mas cheira carniça. Tem dias que precisamos sair de casa porque não dá para aguentar”, reclama outro morador, o vigilante Luiz Caldas, 42 anos. Outro morador, que não quis ser identificado, denunciou que nos finais de semana e durante a noite a fábrica emite outro tipo de fumaça de um cano escuro. “Acho que é monóxido de carbono ou algo errado para eles fazerem essa queima em horários estranhos”, denuncia.

Denúncias no site do IAP

O Instituto Ambiental do Paraná (IAP) confirmou as reclamações contra a empresa, porém a equipe enviada à Plastifort para averiguar a situação não constatou nenhuma irregularidade. O IAP explicou que a licença de operação da empresa recentemente foi renovada até julho de 2017 e a fábrica também está em dia com o alvará e a documentação expedida pelo município. A assessoria informou ainda que a emissão desses poluentes pode estar vindo de outra empresa, confusão gerada até por conta da direção dos ventos.

Para investigar isso, o IAP orienta aos moradores que formalizem a denúncia no site www.iap.pr.gov.br, no link Fale Conosco, e coloquem o próprio endereço como referência a fim de que a equipe faça o monitoramento da região de uma das residências afetadas pela poluição. Só assim, será possível identificar o causador dessa emissão.

Empresa nega danos ambientais

O gerente industrial da Plastifort, Gláucio Gavinho, esclarece que a empresa trabalha com um processo “atóxico”. “Nosso processo mói o plástico descartado, transforma em resina e submete o material para secagem. O que ía para a atmosfera era um pouco desse poeira. A fumaça branca que sai de nossa chaminé é apenas vapor d’ água”, diz. Para liquidar com qualquer resquício de poeira, que de acordo com Gavinho não faz mal à saúde, a empresa trocou o respirador, o equipamento que vai garantir que 100% da emissão fique em ciclo fechado.

Gavinho também explica que na região há outras empresas, incluindo uma fábrica de cimentos, que podem estar contribuindo para a geração dos problemas relatados. “Nossa licença de operação foi renovada e trabalhamos dentro do que o município e os órgãos ambientais exigem, do contrário não estaríamos no mercado de matéria-prima para indústrias plásticas há quase 30 anos”, defendeu.  Quanto à outra fumaça, emitida em “horários estranhos” conforme denunciou um morador de Vargem Grande, Gavinho justificou que é a fumaça do gerador de energia que é acionada quando falta energia elétrica.

 

 

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Sobre o autor

Magaléa Mazziotti

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