Novo Mundo

Camisa abençoada

Escrito por Giselle Ulbrich

Entre  times de futebol amador e torcidas organizadas do País, é difícil encontrar quem não conheça o “Tião”, ou o “Abençoado”. E é de uma sala aos fundos da residência do Sebastião Vieira Soares – colada com os fundos do campo do Novo Mundo Futebol Clube, lá no bairro Novo Mundo – que saem os uniformes de várias torcidas e clubes brasileiros. No auge dos seus 52 anos, a cabeça do “Abençoado” ainda está numa frenética atividade de criação. Ela funciona tão rápido que ele sozinho cria todo o design das roupas (muitas vezes isso acontece em menos de cinco minutos), corta, costura, imprime as estampas e entrega. E no meio da “bagunça organizada” da salinha dele, cada camisa conta uma história diferente.

Depois de apenas cinco minutos de bate-papo, “Abençoado” já tem nas mãos rabiscos de como será a camisa. São tantas ideias de recortes, cores e estampas, que elas chegam a gerar polêmicas. Umas caem rapidamente no gosto da torcida. Outras viram assunto nacional, como a que ele criou para o goleiro do Operário Ferroviário e virou notícia no blog “Pombo Sem Asa”, da Globo.com.

Como era ano de Copa do Mundo no Brasil, “Abençoado” criou uma camisa comemorativa, tendo como estampa a bandeira do Brasil e suas cores, além de listras brancas e da logo do time e de seus patrocinadores. Alguns acharam feia. Outros a chamaram de exótica, porém gostaram da inovação. Fato é que o artigo esportivo esgotou das prateleiras.

A vida do “Abençoado” no futebol começou com o seu pai, outro personagem também muito conhecido da Suburbana. Pedro Ferreira Soares, o “Pedro Feio”, já falecido, era massagista do Novo Mundo. Vivia no meio dos campos e levou o filho para trabalhar com ele. Depois de muito tempo na beira do gramado, “Abençoado” foi trabalhar como representante comercial de uma fábrica de artigos esportivos. Mas ele tinha ideias “tão malucas” que nem o chefe aguentava as novidades e o representante decidiu ir trabalhar sozinho com as suas maluquices.
Tião conheceu o futebol no Novo Mundo, ajudando o pai massagista. Foto: Gerson Klaina“Doido”

“Às vezes eu ia visitar uma torcida que nem cliente era ainda. Oferecia fazer as camisas, já surgia um desenho na minha cabeça, fazíamos um rabisco e saía a encomenda. Eu chegava na empresa com uma quantidade enorme de camisas pra fazer e o dono da empresa ficava desesperado, porque além do cliente ter aprovado um desenho que sequer a empresa tinha ainda, tava tudo na minha cabeça, a quantidade era muito grande, ele tinha receio de não dar conta. Aí eu falava pra ele: “Ué, você não me contratou pra vender? Eu vendi. Então faz aí”. Depois de muito discutirmos, ele mandava eu sentar com o designer e botar no papel o que o cliente aprovou. Fiz muitas dessas. Às vezes eu viajava pro outro lado do País sem conhecer ninguém lá. De nenhuma dessas viagens eu voltei de mão vazia. Sempre cheguei com encomendas debaixo dos braços”, disse.

E foi por causa dessas loucuras que o “Abençoado” decidiu fazer “carreira solo”. Só de ver como os designers e costureiros faziam, ele aprendeu o ofício e abriu a sua própria oficina de costura. É claro que ele já levou muito calote, um deles, de uma torcida organizada paranaense e que lhe custou R$ 300 mil. Mesmo assim, a criatividade frenética do “Abençoado” o ajudou a construir o enorme sobrado que ele mora hoje, no final da Rua Neuza Maria Lorenzini.
Lutador Wanderlei Silva também está entre os clientes famosos. Foto: Gerson KlainaDas organizadas ao MMA

Tião começou fornecendo camisas pras torcidas Império (Coritiba), Força Jovem (Goiás), Esquadrão (Vila Nova), TUP (Palmeiras), Ultras (Atlético PR), Terror Bicolor (Paiçandu), Força Jovem (Grêmio) e muitas outras. Também já forneceu uniformes pra categorias infantis de vários times grandes, pra times da suburbana (Novo Mundo, Uberlândia), pra segunda divisão do futebol angolano (Norberto de Castro), pra um time profissional do Paraná (Operário de Ponta Grossa) e até pro lutador de MMA Wanderlei Silva.

Começou a fazer tanto sucesso que chegou até a criar o enxoval completo do Operário, desde a bolsa, material de treino, aquecimento e viagem, até o uniforme completo de jogo, do “pé à cabeça”, além dos uniformes da comissão técnica, gandulas, boutique de torcedores e da escolinha do time. Ele já inventou tanta coisa, que a oficina de costura dele deve ter mais de 300 camisas e uniformes diferentes. Cada uma com uma história, recorte, cor ou estampa. E mesmo com tanto trabalho, nas horas vagas o “Abençoado” vai abençoar os fiéis da igreja evangélica Assembleia de Deus, onde é pastor.

Quem tiver interesse nas atividades do Sebastião, seu número de contato é 9956-4965.

Sobre o autor

Giselle Ulbrich

(41) 9683-9504