Curitiba

Andarilha solidária

A curitibana Noeli Pereira de Andrade, 54, já perdeu as contas de quantas pessoas ajudou nos últimos 13 meses. Neste período ela percorreu 80 mil km e passou por quase todos os estados do Brasil. Sua missão é apenas uma: sair sem GPS, sem pressa nem rota definida e ajudar quem encontrar pela frente, especialmente andarilhos que vagam pelas rodovias brasileiras e famílias pobres que moram na beira da pista.

Fotos: Morgana / Arquivo pessoalSem medo da estrada, Morgana (como é conhecida) segue sozinha em viagens que duram até 40 dias. Sua única companhia é a cachorrinha Pit, que mora com ela em um motor-home que sai carregado de doações de roupas e alimentos.

O volume é grande, mas sempre é preciso mais.

“Muitas vezes sinto que chego nos lugares na hora certa, na hora que as famílias precisam”, conta. A maior necessidade é de alimentos e também chinelos, coisa rara entre as pessoas que ela encontra no caminho.

“Comida é mais importante que roupa. As crianças ficam vidradas em bolacha”, diz.

Amor ao próximo

Morgana conta que desde pequena teve a vontade de ajudar. “Acho que cada um tem uma alma diferenciada, é uma vontade de ajudar que cresce com a gente”, explica. Depois de realizar iniciativas pontuais, seu sonho só se concretizou no ano passado. Antes disso, ela vendeu seu sítio, que se transformou em um espaço para recuperação de dependentes químicos, e construiu uma casa na praia. Ainda assim ela não se sentiu realizada.
Fotos: Morgana / Arquivo pessoalA solução foi vender um carro e com o dinheiro negociar a compra de um motor-home. Foi então que ela pegou estrada em setembro do ano passado. “Aprendi a dar valor a um grão de feijão. Nós precisamos ser melhores”, diz Morgana, que nem pensa em passar pelos destinos turísticos dos estados que visita.

Foi esta a mensagem que ela passou aos alunos do Colégio Estadual Liria Micheleto Nichele, em Fazenda Rio Grande, durante uma palestra que ela ministrou na manhã de ontem. “Pequenas ações contribuem muito e esses é o gostoso da vida. Fazer o bem é simples”, destacou.
Fotos: Morgana / Arquivo pessoalA andarilha do bem contou ainda que é preciso respeito ao abordar as pessoas e observar o comportamento delas antes do primeiro contato. É comum encontrar pessoas com problemas mentais e bêbados. “Isso não quer dizer que elas não mereçam ajuda. Quem sou eu pra julgar?”, questiona.

Fotos: Morgana / Arquivo pessoalSua postura garante intimidade entre as pessoas que ajuda. Em algumas casas, por exemplo, ela já passou mais de uma vez e também se tornou conhecida em algumas localidades. Basta os moradores observarem de longe o motor-home, que muitos correm para receber ajuda. “O pessoal me espera e se eu demoro perguntam se eu não iria mais”.

Ajuda pra prosseguir

Para iniciar sua viagem, Morgana conseguiu arrecadar R$ 135 mil com a venda de seu sítio. O dinheiro, porém, está acabando e isso compromete a continuidade do projeto. “É caro, gasto com manutenção de carro, combustível, peças e outras coisas. Neste mês o dinheiro termina”, lamenta.
Em Fazenda Rio Grande,  alunos se reuniram pra ouvir Morgana. Foto: Felipe RosaAlém das doações de roupas e alimentos, a andarilha também precisa de ajuda para continuar a viagem. “Se alguém me ajudar será muito bom. Estou disposta a pintar meu motor-home para colocar a marca de algum patrocinador”, solicita. A iniciativa foi regularizada com a criação da Associação Andarilha do Bem e com a prestação de contas aos doadores. Ela também possui uma conta em banco para doações em dinheiro, já que evita sair com o carro muito carregado depois que teve um pneu estourado devido ao peso do veículo.

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Sobre o autor

Carolina Gabardo Belo

(41) 9683-9504